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- 244 - A purificação do coração 02Wed, 25 Aug 2021
- 243 - A purificação do coração 01Tue, 24 Aug 2021
- 242 - Sede perfeitos: o amor 02Mon, 23 Aug 2021
- 241 - Sede perfeitos: amor 01Fri, 20 Aug 2021
- 240 - Sede perfeitos 02
Continuamos com as reflexões de Benedikt Baur, em "A vida espiritual". Para baixar o livro completo: https://drive.google.com/file/d/1wpgd1trcdeaHo_AdCvQmv0jY8Xd8k1dA/view?usp=sharing
Thu, 19 Aug 2021 - 239 - Sede perfeitos 01Wed, 18 Aug 2021
- 238 - Viver para Deus 02Tue, 17 Aug 2021
- 237 - Viver para Deus 03Mon, 16 Aug 2021
- 236 - Viver para Deus 01Fri, 13 Aug 2021
- 235 - O plano de Deus: a intimidade com Deus 07
Estou compartilhando aqui uma leitura comentada da obra "A vida espiritual", de Benedikt Baur.
Ouça a introdução, no primeiro episódio da série. Na descrição do primeiro episódio, você também vai encontrar o link para ter acesso à obra escrita. Acesse:https://www.spreaker.com/user/11365412/novos-episodios-do-podcast-a-vida-espiriThu, 12 Aug 2021 - 234 - O plano de Deus: a intimidade com Deus 06
Estou compartilhando aqui uma leitura comentada da obra "A vida espiritual", de Benedikt Baur.
Ouça a introdução, no primeiro episódio da série. Na descrição do primeiro episódio, você também vai encontrar o link para ter acesso à obra escrita. Acesse:https://www.spreaker.com/user/11365412/novos-episodios-do-podcast-a-vida-espiriWed, 11 Aug 2021 - 233 - O plano de Deus: a intimidade com Deus 05
Estou compartilhando aqui uma leitura comentada da obra "A vida espiritual", de Benedikt Baur.
Ouça a introdução, no primeiro episódio da série. Na descrição do primeiro episódio, você também vai encontrar o link para ter acesso à obra escrita. Acesse:https://www.spreaker.com/user/11365412/novos-episodios-do-podcast-a-vida-espiriTue, 10 Aug 2021 - 232 - O plano de Deus: a intimidade com Deus 04
Estou compartilhando aqui uma leitura comentada da obra "A vida espiritual", de Benedikt Baur.
Ouça a introdução, no primeiro episódio da série. Na descrição do primeiro episódio, você também vai encontrar o link para ter acesso à obra escrita. Acesse:https://www.spreaker.com/user/11365412/novos-episodios-do-podcast-a-vida-espiriMon, 09 Aug 2021 - 231 - O plano de Deus: a intimidade com Deus 03
Estou compartilhando aqui uma leitura comentada da obra "A vida espiritual", de Benedikt Baur.
Ouça a introdução, no primeiro episódio da série. Na descrição, você também vai encontrar o link para ter acesso à obra escrita. Acesse:https://www.spreaker.com/user/11365412/novos-episodios-do-podcast-a-vida-espiriFri, 06 Aug 2021 - 230 - O plano de Deus: a intimidade com Deus 02
Estou compartilhando aqui uma leitura comentada da obra "A vida espiritual", de Benedikt Baur.
Ouça a introdução, no primeiro episódio da série. Na descrição, você também vai encontrar o link para ter acesso à obra escrita. Acesse:https://www.spreaker.com/user/11365412/novos-episodios-do-podcast-a-vida-espiriThu, 05 Aug 2021 - 229 - O plano de Deus: a intimidade com Deus 01
Estou compartilhando aqui uma leitura comentada da obra "A vida espiritual", de Benedikt Baur.
Ouça a introdução, no primeiro episódio da série. Na descrição, você também vai encontrar o link para ter acesso à obra escrita. Acesse: https://www.spreaker.com/user/11365412/novos-episodios-do-podcast-a-vida-espiriWed, 04 Aug 2021 - 228 - O plano de Deus: o nosso destino sobrenatural 03
Estou compartilhando aqui uma leitura comentada da obra "A vida espiritual", de Benedikt Baur.
Ouça a introdução, no primeiro episódio da série. Na descrição, você também vai encontrar o link para ter acesso à obra escrita. Acesse: https://www.spreaker.com/user/11365412/novos-episodios-do-podcast-a-vida-espiriTue, 03 Aug 2021 - 227 - O plano de Deus: o nosso destino sobrenatural 02
Estou compartilhando aqui uma leitura comentada da obra "A vida espiritual", de Benedikt Baur.
Ouça a introdução, no primeiro episódio da série. Na descrição, você também vai encontrar o link para ter acesso à obra escrita. Acesse: https://www.spreaker.com/user/11365412/novos-episodios-do-podcast-a-vida-espiriMon, 02 Aug 2021 - 226 - O plano de Deus: o nosso destino sobrenatural 01
Estou compartilhando aqui uma leitura comentada da obra "A vida espiritual", de Benedikt Baur.
Ouça a introdução, no primeiro episódio da série. Na descrição, você também vai encontrar o link para ter acesso à obra escrita. Acesse: https://www.spreaker.com/user/11365412/novos-episodios-do-podcast-a-vida-espiriFri, 30 Jul 2021 - 225 - Nova temporada: A Vida Espiritual, de Benedikt Baur
Vou compartilhar com vocês, em uma longa série de episódios, uma leitura comentada da obra "A vida espiritual", de Benedikt Baur. Acesse o texto original: https://drive.google.com/file/d/1wpgd1trcdeaHo_AdCvQmv0jY8Xd8k1dA/view?usp=sharing
Thu, 29 Jul 2021 - 224 - É necessário reconhecer o vício do orgulho para conquistar a humildade
Se não tivéssemos os olhos vendados pelo orgulho, veríamos que todo homem é infinitamente miserável e pecador. Compreenderíamos, na prática, que toda criatura depende de Deus sob todos os pontos de vista, quanto à sua essência, existência, duração e todas as condições de seu desenvolvimento. Nos lembraríamos de nossos inúmeros pecados, duplicados pelas ingratidões atuais sempre renovadas.
Perceberíamos as nossas torpezas atuais: esses apegos, essas fraquezas, essa inconstância, esses perpétuos retornos a nós mesmos envolvidos na perturbação e na irritação. Óh, Jesus! Como somos tão corrompidos sem nem percebermos. Tende piedade de mim, bom Mestre, tenho medo do vício do orgulho.
O bom Jesus sabe muito bem de que barro somos formados e de que loucas pretensões é feita a nossa natureza. Ele se contenta e nos ama quando nos vê confundidos diante de nossa miséria, sempre confiantes na sua bondade e sempre resolvidos a reconquistar a humildade.
Mas, até conquistar a humildade, é preciso acreditar que se é orgulhoso, mesmo sem provas. E acreditar que o orgulho infestou as ideias, os desejos e os menores atos, criou raízes até nas menores fibras, nos hábitos mais remotos do ser humano. Quem achar que isso é exagerado não mais se corrigirá.
É preciso desaprovar constantemente, diante de Deus, as milhares de pretensões injustificadas que se elevam do íntimo do coração, pedir-lhe perdão por sermos tão sórdidos a seus olhos, agradecer-lhe por não nos ter abandonado no abismo do orgulho. É preciso sempre pedir luzes para nos reconhecer tal como somos, força para amar essa abjeção e a coragem de nos deixarmos tratar como merecemos.
Quanto mais a alma se conhece, tanto mais se despreza e se humilha; e quanto mais se humilha, mais Deus a eleva a si mesmo.
Por Joseph Schrivers.Wed, 30 Sep 2020 - 223 - Dar a Jesus a alegria de ser nosso amigo
Minha querida mãezinha . Eu posso lhe dizer que quando eu vivia com a senhora, eu não sabia que lhe amava tanto assim. Parece que o meu coração, ao qual o Senhor deu tanta capacidade de amar, se dilatou desde que se fechou atrás das grades do Carmelo, em contato permanente com aquele que São João chama de "Charitas" - amor.
Quem dera que a senhora soubesse como é doce viver em comunhão com Ele. A senhora não ia mais querer deixar essa divina companhia, porque ele está sempre junto de você. Ele ficaria tão contente se a senhora quisesse fazer dele o seu amigo, seu confidente. Mãezinha, quanto mais vivemos com este Hóspede divino, mais felizes nos sentimos, mais fortaleza temos para nos entregar ao sacrifício. Eu entrego a senhora para Ele a cada instante. Confio a Ele todo o amor que ele colocou no meu coração para essa mãe tão boa que ele me deu.
Por Santa Elisabete da Trindade.Tue, 29 Sep 2020 - 222 - É com amor que precisamos abraçar a cruz
O que motiva uma pessoa a se conformar com a vontade de Deus diante das contrariedades? O motivo pode ser o amor puro, ou pode ser alguma outra causa sobrenatural.
Na opinião de São Bernardo, os principiantes geralmente possuem a simples resignação, que é uma conformidade que vem do temor; os proficientes levam a cruz com gosto, e essa conformidade tem por causa a esperança; os perfeitos abraçam a cruz com ardor, e essa perfeita conformidade é o fruto do amor divino.
É fácil perceber que o temor é suficiente para produzir a simples resignação. Mas para que a submissão à vontade de Deus cresça em generosidade, para que suba até o nível da exultação, é necessário um desprendimento mais completo, uma fé mais viva, uma confiança em Deus mais firme. Entretanto, essa generosidade pode ainda não ser fruto do puro amor, já que o desejo dos bens eternos (ou seja, a esperança) pode muito bem nos elevar a tais alturas. Uma alma ansiosa do céu terá por grande sorte as pequenas provas e ainda as grandes tribulações, conforme esteja penetrada pelas sedutoras palavras do Apóstolo Paulo, que dizia: "Os sofrimentos da vida presente não se comparam com a futura glória que se manifestará em nós. Nossas tribulações tão breves e ligeiras nos produzem o eterno peso de uma sublime e incomparável glória".
E existe, enfim, a conformidade por puro amor, que é a mais perfeita, porque não há nada mais elevado, delicado, generoso e perseverante do que o amor sobrenatural. Pois bem, já que a caridade é um mandamento para todos, não existe nenhum fiel que não possa praticar, pelo menos de vez em quando, um ato de conformidade por amor, atos que ele vai produzir melhor e com mais gosto na medida em que for crescendo em caridade. Assim como a alma adiantada pode se elevar continuamente no santo amor, assim também poderá crescer sem cessar na conformidade que nasce do amor.
Por Vital Lehodey.Mon, 28 Sep 2020 - 221 - Mergulhar a nossa vontade na vontade de Deus
Por Gabriel de Santa Maria Madalena.
Para chegar à santidade, é importante que nossa adequação à vontade de Deus seja total. Portanto, é necessário que não haja na alma a menor discordância com a vontade divina e que nas suas ações ela seja unicamente movida por essa vontade.
O motor de todas as nossas ações é sempre o amor. Mas esse amor pode ser amor por nós mesmos, amor pelas criaturas ou amor por Deus. Enquanto existir na alma qualquer coisa contrária à divina vontade, ou seja, qualquer apego desordenado ao próprio eu ou às criaturas, nossa vontade muitas vezes acabará agindo não por amor a Deus, mas pelo desejo da satisfação própria ou pelo amor desordenado pelas criaturas. Assim, andará fora da vontade de Deus. Não só o pecado, mas também a mais pequena imperfeição consciente ou apego deliberado são contrários à vontade de Deus e impedem a alma de agir movida unicamente pela divina vontade.
Pelo contrário, quando a alma não tem nenhum apego e, totalmente livre do seu amor próprio e do amor pelas criaturas, se apega a Deus, então é levada a agir movida pela vontade dele; e vive assim, momento a momento, conforme o beneplácito divino. Essa alma foi transformada, mergulhou a sua vontade na vontade de Deus; de agora em diante está perfeitamente unida ao próprio Deus: isso é a essência e o máximo da santidade.
Ó meu Deus, Vós me fizestes compreender que a Vossa santa vontade é a única coisa necessária, é a minha única riqueza. O que pode existir de mais belo e seguro, de mais perfeito e de mais santo do que fazer a Vossa vontade? Vós me destes uma vontade livre, e não posso usá-la melhor do que em aderir ao Vosso divino querer. Ainda que eu pudesse realizar as maiores obras, as mais belas conquistas, se não coincidissem plenamente com a Vossa divina vontade não teriam valor eterno e estariam, por causa disso, destinadas a perecer. Ao passo que as mais insignificantes ações realizadas segundo a Vossa vontade têm um valor imperecível.Wed, 23 Sep 2020 - 220 - Os graus de generosidade diante das contrariedades
Sobre a generosidade com que a alma se adapta ao querer de Deus, existem três graus:
O primeiro grau é quando o homem não deseja e nem ama as contrariedades, foge delas, mas prefere sofrer tais coisas do que pecar. Esse é o estado mais baixo de generosidade, e é um dever. De maneira que, ainda que um homem sinta pena, dor ou tristeza com os males que ocorrem, e ainda que gema quando está enfermo e dê gritos com a veemência das dores, e ainda que chore pela morte de parentes, pode com tudo isso ter essa conformidade mínima com a vontade de Deus.
O segundo grau de generosidade com a qual a alma se adapta à vontade de Deus ocorre quando o homem, ainda que não deseje as contrariedades, as aceita de boa vontade por ser da vontade e do beneplácito de Deus. De maneira que esse segundo grau acrescenta alguma boa vontade e algum amor ao sofrimento por Deus. A pessoa quer sofrer porque isso agrada a Deus. Enquanto o primeiro grau leva as contrariedades com paciência, este segundo grau acrescenta a prontidão e a facilidade.
O terceiro grau de generosidade diante das contrariedades ocorre quando o servo de Deus, pelo grande amor que tem pelo Senhor, não somente sofre e aceita de boa vontade as contrariedades que o Senhor envia, mas também as deseja e se alegra muito com elas, por ser aquela a vontade de Deus. É assim que os Apóstolos se regozijavam por ter sido julgados dignos de padecer ultrajes pelo nome de Jesus. E São Paulo exultava de gozo no meio das tribulações.
São Bernardo utiliza essa classificação da generosidade diante das contrariedades, relacionando-a com as clássicas três vias: dos principiantes, dos proficientes e dos perfeitos. Ele diz: "O principiante, impulsionado pelo temor, sofre a cruz de Cristo com paciência; o proficiente, impulsionado pela esperança, leva a cruz com gosto; e aquele que já está consumado na caridade, abraça a cruz com amor".
Por Vital Lehodey.Mon, 21 Sep 2020 - 219 - O orgulho é uma desordem muito profunda
A condição do orgulhoso tem qualquer coisa de terrível. Deus e todas as criaturas lutam contra ele. A ordem universal, que ele perturba, protesta contra a sua pretensão insensata, e na sua insolência ele enfrenta esta oposição.
O orgulhoso tem traços de semelhança com Satanás. Dizia Santo Afonso de Ligório: "Quando vejo uma alma pretensiosa, que se julga mais sábia, mais entendida, mais ajuizada, mais virtuosa que as outras, eu estremeço, pois me parece estar diante de um demônio encarnado".
O que é mais interessante e terrível é que o soberbo não se julga orgulhoso. É raro encontrar uma alma que avalie o seu justo valor; mais raro ainda encontrar uma que regule seus sentimentos e sua vida conforme essa apreciação. É necessária uma luz interior intensa para uma pessoa se ver tal como é na realidade: só os santos não se iludem sobre o seu valor. Quem não se aflige com uma falta de afeição, com um mau êxito, com uma humilhação? Quem não gosta de ser louvado, aprovado, apreciado, procurado? Quem não teme a censura, o esquecimento ou a ironia?
A alma humana, mesmo a mais sincera, sente uma profunda oposição contra a humildade, uma contradição permamente entre a boa opinião que faz de si mesma e o juízo que a eterna Verdade faz sobre ela.
Se os homens que julgamos ser os melhores se examinarem, eles mesmos hão de reconhecer que em quase todos os seus atos livres, há sempre uma busca desordenada do próprio eu. Eles mesmos se constituem, até certos limites, o centro de suas aspirações, de seus pensamentos e de toda a sua vida.
Que homem ponderado não se sentiria assustado, considerando uma desordem tão fundamental e tão permanente, produzida pelo orgulho?
Por Joseph Schrivers.Wed, 16 Sep 2020 - 218 - Carta para um seminarista, poucos dias antes de sua ordenação
Junto com a Virgem, o Senhor já pode entoar o seu "Magnificat" e sobressaltar-se de júbilo em Deus seu Salvador, porque o Todo-Poderoso opera no senhor grandes coisas, e eterna é a sua misericórdia.
Como Maria, "conserve todas estas coisas no seu coração". Coloque seu coração junto ao coração dela porque esta Virgem sacerdotal é também "Mãe da divina graça", e com ímpetos de seu amor, quer preparar o senhor para que se torne "aquele sacerdote fiel que procederá conforme o coração de Deus", de que se fala na Sagrada Escritura. Pela santa unção, o senhor se tornará uma pessoa que já não pertence mais à terra. Se tornará o mediador entre Deus e as almas, chamado a fazer "resplandecer a glória de sua graça", "participando da extraordinária grandeza do seu poder para nós". Jesus, o sacerdote eterno, dizia ao seu Pai, ao entrar neste mundo: "Eis-me aqui; eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade". No meu entender, esta deve ser também a oração nesta hora solene do seu ingresso no sacerdócio. E eu me comprazo de repetir esta oração com o senhor.
Sexta-feira, no altar sagrado, quando pela primeira vez em suas mãos consagradas, Jesus vier se encarnar na humilde hóstia, não se esqueça de mim, que Ele conduziu ao Carmelo para ser o louvor de sua glória. E peça-lhe que Ele me sepulte na profundidade de seu mistério e que me consuma com o fogo de seu amor. Depois, ofereça-me ao Pai, junto com o Cordeiro divino.
Por Santa Elisabete da Trindade.Tue, 15 Sep 2020 - 217 - Obediência à vontade de Deus significada
Para o que diremos a seguir, considere a distinção entre obras de obrigação e obras de superrogação. Obras de obrigação são aquelas que cumprem um dever, por exemplo, jejuar nos dias prescritos pela Igreja. Obras de superrogação são aquelas feitas voluntariamente, sem que haja obrigação, por exemplo, jejuar em dias não prescritos pela Igreja.
A vontade de Deus significada consiste, em primeiro lugar, nos mandamentos de Deus e da Igreja, e nossos deveres de estado. Tais coisas devem ser objeto de nossa contínua e vigilante fidelidade, pois são a base da vida espiritual.
Alguém poderia pensar que as obras de superrogação, ou seja, aquelas obras que vão além do dever santificariam mais do que as obras de obrigação. Mas nada é mais falso. Santo Tomás ensina que a perfeição consiste, antes de tudo, no fiel cumprimento da lei. Por outra parte, Deus não poderia aceitar favoravelmente nossas obras super-rogatórias, executadas em detrimento do dever, pois nesse caso estaríamos substituindo a vontade de Deus pela nossa própria vontade.
A vontade significada abraça, em segundo lugar, os conselhos. Quanto mais os sigamos em conformidade com nossa vocação e nossa codição, mais semelhantes nos farão ao nosso divino Mestre, que é agora o nosso amigo e o Esposo da nossa alma, e que há de ser um dia o nosso Soberano Juiz. Os conselhos nos farão praticar as virtudes mais agradáveis ao seu divino coração, tais como a doçura, a humildade, a obediência de espírito e de vontade, a castidade virginal, a pobreza voluntária, a renúncia de si mesmo, a abnegação levada até o sacrifício e esquecimento de nós mesmos. Nesses conselhos, também encontraremos a consequente riqueza de méritos e santidade. Observando esses conselhos com fidelidade, afastaremos os principais obstáculos ao fervor da caridade. Os conselhos são a proteção dos preceitos. "O que basta não é bastante. A pessoa que quer fazer tudo o que é permitido, logo fará também o que não é permitido. Aquele que só faz o estritamente obrigatório, rapidamente não estará cumprindo suas obrigações".
A vontade significada abraça, enfim, as inspirações da graça. "Essas inspirações são raios divinos que projetam luz e calor na alma, para lhes mostrar o bem e para animá-las a praticá-lo; são presentes da divina predileção com infinita variedade de formas. Conforme as circunstâncias, são atrações, impulsos, repreensões, remorsos, medos saudáveis, suavidades celestiais, disparos do coração, doces e fortes convites ao exercício de alguma virtude. As almas puras e interiores recebem com frequência essas divinas inspirações, e convém muito que as sigam com reconhecimento e fidelidade". O apoio que essas inspirações nos dão é muito valioso.
Por Vital Lehodey.Mon, 14 Sep 2020 - 216 - A expiação dos pecados os transforma em ocasião de virtude
O arrependimento basta para alcançarmos o perdão dos nossos pecados. Mas eles também acarretaram perdas de graças preciosas. É por isso que precisamos pedir a graça de reparar as nossas faltas e nos esforçar por expiá-las. O que torna a expiação mais necessária ainda é que, sem ela, não somente deveremos lamentar a perda das graças passadas, como também a privação de preciosas graças futuras que Deus nos tinha destinado se tivéssemos sido fiéis.
O Deus de toda a santidade se encanta com a pureza da alma humana. Por isso, Ele derrama suas graças na alma em proporção de sua pureza. Ora, as faltas não reparadas deixam vestígios na alma, tornam a alma menos bela e menos agradável aos olhos de Deus.
Todas as faltas cometidas ocasionam uma diminuição da luz e um enfraquecimento na vontade. Tendo se afastado do bem e se aproximado do mal, a alma vê diminuir a atração que sentia ao bem e vê aumentar a inclinação para o mal. Pela simples reprovação das faltas cometidas, a inteligência recupera parte de suas luzes e a vontade parte de sua atração para a virtude. Mas essas duas potências não podem reaver tudo o que perderam, a não ser por atos generosos que contrabalancem os efeitos do pecado e restituam à alma o vigor anterior.
A expiação torna Deus mais favorável, atrai graças muito mais poderosas, afasta os obstáculos que o pecado deixara na alma e que impediriam a prática das virtudes perfeitas. Assim, não somente a expiação repara as faltas anteriores, mas permite também à alma se elevar mais alto na virtude do que se não tivesse pecado, e assim se verifica a palavra audaciosa de Santo Agostinho, completando outra de São Paulo: "Tudo coopera ao bem daqueles que amam a Deus, até mesmo os seus pecados".
Por Auguste Sudreau.Thu, 10 Sep 2020 - 215 - A humildade conquista o coração de Jesus
Se queres agradar a Jesus, apoderar-te do coração dele, obrigá-lo a fazer prodígios em ti, sê como uma criança, sem pretensão, sem apoio algum em ti mesma.
Quando uma alma é chamada ao diálogo íntimo com Deus, ela deve se revestir de humildade, como Deus é revestido de glória. Sem a humildade, Jesus não pode trabalhar em nossa alma. Ele aceita apenas visitá-la. Como poderia ele se apoderar da inteligência e fazê-la servir, quando essa inteligência é imbuída de ideia exagerada da sua própria importância ? Como poderia ele reinar na vontade e se fazer centro de todas as aspirações dessa faculdade, quando a mesma vontade se constitui um centro de toda a vida?
Óh, não. Jesus não vive com o orgulho. Ele deseja viver apenas com os humildes. Ele disse a seu Pai: "Eu vos dou graças, porque escondestes estas coisas dos sábios e entendidos, e as revelastes aos pequenos".
Se alguém é pequeno, venha a mim, disse Jesus. Na verdade, vos digo que se não vos converterdes e não vos fizerdes como crianças, não entrareis no reino dos céus. Sede meus discípulos, pois sou manso e humilde de coração.
A companhia do orgulhoso não é agradável a nenhum homem. A presença do soberbo causa mal-estar. Ora, o coração de Jesus é feito como o nosso.
Por Joseph Schrivers.Wed, 09 Sep 2020 - 214 - A felicidade dos que se entregam à divina Providência
Os santos, alinhando sua vontade com a de Deus, começaram a participar da felicidade do céu já aqui na terra. Os padres do deserto, por exemplo, gozavam de uma grande paz interior, porque consideravam como vindas das mãos de Deus todas as coisas que lhes sucediam.
É verdade que a virtude não nos torna insensíveis e que as contrariedades ocasionam sempre certa apreensão, mas isso só se dá na parte inferior da alma, ao passo que na parte superior reina a paz e a tranquilidade, contanto que nossa vontade se conforme com a de Deus. "Ninguém vos roubará a vossa alegria", disse o Salvador aos seus apóstolos. E ainda: "Pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa". Aquele que sempre tem por objetivo executar a vontade de Deus usufrui de uma felicidade completa e constante, porque possuirá tudo o que deseja e porque ninguém lhe poderá roubar essa felicidade, visto que ninguém pode impedir que se realize a vontade de Deus.
Como é grande a loucura daqueles que não querem se submeter à vontade de Deus! Não sofrerão menos por causa disso, pois ninguém pode impedir os desígnios de Deus. Se Deus nos envia tribulações, é em vista de um bem supeior e porque isso é melhor para nós. Como escreveu São Paulo: "Para os que amam a Deus, todas as coisas cooperam para o bem". A virtuosa Judite nos atesta que o Senhor não nos castiga com a intenção de nos perder, mas de nos corrigir e tornar felizes. Disse ela, "devemos pensar que os flagelos do Senhor devem servir para a correção e não para a punição". Para nos preservar das penas eternas, Deus nos protege com a sua boa vontade como se fosse um escudo. Deus não só deseja a nossa salvação, mas cuida seriamente disso. Se ele nos deu seu próprio Filho, o que nos poderia negar?
Assim, devemos nos colocar à disposição da divina providência com toda a confiança, visto que todas as suas determinações procuram o nosso bem. Portanto, digamos em tudo o que nos acontecer: "Dormirei e descansarei em paz, porque vós, Senhor, me confirmas a esperança". Entreguemo-nos em seus braços, ele cuidará carinhosamente de nós. Disse São Pedro, "lançai nele toda a vossa preocupação, porque ele cuida de vós".
Pensemos somente em Deus e no cumprimento de sua vontade, que ele pensará em nós e cuidará do nosso bem. Um dia, o Senhor disse a Santa Catarina de Sena: "Minha filha, pensa sempre em mim, que eu pensarei sem cessar em ti". Digamos sempre, como a Esposa do Cântico dos Cânticos: "Meu amado é meu e eu sou do meu amado". Meu amado se ocupa do meu bem-estar e eu quero me ocupar em agradá-lo e em me conformar em tudo à sua santa vontade. "Não devemos pedir a Deus que ele faça a nossa vontade, mas que ele nos conceda a graça de fazer o que ele deseja". Se nos acontecer alguma coisa incômoda, recebamos isso das mãos de Deus, não só com paciência, mas mesmo com alegria, seguindo o exemplo dos apóstolos, que se julgavam felizes porque padeciam pelo nome de Jesus.
Certamente, Deus se satisfaz com o desejo de sofrermos por amor a ele. Mas, segundo os mestres da vida espiritual, ele prefere aqueles que não desejam nem alegria nem sofrimento, mas que se entregam inteiramente à sua divina vontade, não desejando outra coisa que praticá-la em todos os seus atos.
Alma cristã, se desejas agradar verdadeiramente a Deus e gozar de uma vida feliz, permanece então sempre e em tudo unida à sua santa vontade. Considera que todos os teus pecados vieram unicamente de te ter desviado da vontade de Deus. De agora em diante, procura exclusivamente agradar o Senhor. E toda vez que te acontecer algum mal, repete: "Assim se faça, ó Pai, porque foi de teu agrado".
Por Santo Afonso Maria de Ligório.Tue, 08 Sep 2020 - 213 - Podemos nos tornar uma vontade de Deus viva
Por Gabriel de Santa Maria Madalena.
O caminho que conduz a Deus não pode ser traçado, a não ser por Ele mesmo, pela sua vontade. Jesus proclamou isso com energia: "Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus; mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus". E para mostrar que as almas que lhe estão mais unidas e que Ele mais ama são justamente aquelas que fazem a vontade de Deus, Ele não hesita em afirmar: "Todo aquele que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã, e minha mãe".
Foi na escola de Jesus que os santos se inspiraram. Santa Teresa de Jesus, depois de ter experimentado as mais sublimes comunicações místicas, não tinha receio de afirmar: "É claro que a suma perfeição não está nos dons interiores, nem nos grandes êxtasis, nem nas visões, nem no espírito de profecia. A maior perfeição está, isto sim, em ter a nossa vontade tão sitonizada com a de Deus, que assim que percebemos que Ele quer alguma coisa, nós também a queiramos com toda a nossa vontade, e o assumamos alegremente, sendo saboroso ou amargo".
Santa Terezinha do Menino Jesus fala no mesmo sentido: "A perfeição coniste em fazer a vontade do bom Deus, em sermos o que Ele quer que sejamos".
O verdadeiro amor a Deus consiste em aderir perfeitamente à Sua santa vontade, não querendo fazer nem ser nada na vida, senão aquilo que o Senhor quiser de cada um de nós, a ponto de nos tornarmos, por assim dizer, uma vontade de Deus viva.
Assim, a santidade é acessível a toda a alma de boa vontade. Uma alma que leva vida humilde e escondida, pode se alinhar com a vontade divina tanto ou até melhor do que o grande santo que tenha de Deus uma missão exterior e tenha sido enriquecido de graças místicas. Quanto mais as almas fazem a vontade de Deus e se alegram em cumpri-la, tanto mais perfeitas são.Mon, 07 Sep 2020 - 212 - Devemos pedir a graça de reparar as faltas que tivermos cometido, e nos esforçar por expiá-las
Grande infelicidade é o abuso das graças divinas. Mas é possível reparar esse mal. Em uma oração espalhada em certas comunidades, é formulado esse tríplice pedido: "Meu Deus, tende a misericórdia e a generosidade de me fazer reparar, antes da minha morte, todos os abusos de graças que eu tenha tido a infelicidade de cometer. Fazei-me chegar ao grau de mérito e de perfeição ao qual desejáveis me conduzir, segundo a vossa primeira intenção, e que eu tive a desgraça de frustrar por minhas infidelidades. Tende também a bondade de reparar nos outros os abusos de graças que cometeram por minha culpa".
Nada mais justo do que esse pedido. Deus pode, se pedirmos, aumentar as graças que destinava à nossa alma. Se nos mostrarmos fiéis aos novos convites de Deus, esse aumento de graças pode reparar as perdas anteriores. A quem não soube se aproveitar de uma provação, o Senhor poderá dobrar as provações subsequentes, mandando-lhe aquelas que teria suportado se tivesse sido sempre fiel, e outras mais, destinadas a substituir as que não produziram frutos. As ocasiões de sacrifícios podem ser igualmente duplicadas para suprir os sacrifícios recusados. As graças de esclarecimento podem ser dadas com maior abundância, a vontade pode receber maior energia, um amor mais intenso e mais puro pode ser comunicado à nossa alma. Essas substituições não são impossíveis para Deus e nem são contrárias à sua justiça. Portanto, pela oração nós podemos conseguir essas substituições, pois Deus prometeu atender nossas orações.
É isso o que explica a grande santidade daqueles que tinham sido grandes pecadores. Suas faltas passadas foram ocasiões de maior virtude, por causa do arrependimento. Diz São Clemente que Pedro chorou a vida inteira pela traição que ele fez a Jesus. Essa infeliz traição foi transformada em ocasião para muitos atos de amor praticados por Pedro ao longo de sua vida.
Por Auguste Sudreau.Thu, 03 Sep 2020 - 211 - A humildade no entendimento e na vontade.
A humildade é uma virtude tão agradável, que Jesus derrama toda a abundância de suas graças sobre a alma humilde. Esforça-te, então, por aumentar em teu coração um grande desejo de humildade.
Para ser humilde, a alma deve, antes de tudo, se apreciar em seu justo valor. Assim fazendo, terá a humildade de espírito. Nesse sentido, dizia Santa Teresa: "A humildade é a verdade".
Ver-se tal como se é diante de Deus em toda a extensão de sua vida, com toda a malícia da vontade e todos os germes do mal que a nossa natureza oculta. Ver ao mesmo tempo, sem atribuir a si mesmo, todo o bem que Deus depositou em nós, todas as graças que nos concedeu, todas as qualidades naturais com as quais nos gratificou. Eis o primeiro elemento da humildade, ou seja, a humildade do entendimento.
Depois, a tua vontade aceita, ratifica e ama esse juízo. A alma se acha bem, ao se sentir tão pequena e infinitamente miserável diante de Deus. Regozija-se por se apresentar a essa bondade infinita a ocasião de preencher tal abismo. É a humildade da vontade.
Enfim, a alma deseja se considerar e ser considerada pelos outros conforme o conhecimento que tem de si mesma. Como ela nada é, e nada tem de si mesma, não se crê digna de alguma estima, não exige dos outros nenhuma atenção, nem deferências especiais. Ela se crê sempre tratada com atenções que não merece.
Por consequência, ela toma a seu encargo tudo o que é difícil e penoso. Não sendo nada e nada possuindo por si mesma, não é possível que uma criatura lhe seja inferior em merecimentos.
Por Joseph Schrivers.Wed, 02 Sep 2020 - 210 - O segredo para realizar todos os seus desejos
Ninguém nos ama mais do que Deus. Ele faz com que a honra ao Seu Nome consista em nos fazer felizes. Ele é totalmente bom e o bem tende a difundir-se. Por isso, Deus tem um infinito desejo de fazer as almas se tornarem participantes de sua bondade e bem-aventurança. Sendo ele infinitamente feliz, sendo ele a própria perfeição, quanto mais intimamente uma pessoa se unir a ele, tanto mais perfeita e feliz se tornará. A perfeição a tornará feliz nesta vida, na morte e sobretudo na eternidade.
Vejamos como a perfeição nos torna verdadeiramente felizes nesta vida.
Como já vimos, a perfeição consiste na adequação da nossa vontade à vontade de Deus. Nessa conformidade, baseia-se também nossa felicidade, enquanto se pode falar de felicidade neste vale de lágrimas. A pessoa que se atém à vontade de Deus recebe tudo como um presente de sua mão, seja agradável ou desagradável. Está sempre contente, porque sente prazer em executar a vontade de Deus, mesmo em coisas que a contrariam. Até os sofrimentos lhe oferecem motivo de alegria, porque ela sabe que suportá-los com paciência agrada ao seu Senhor. Portanto, nada impede a sua felicidade.
Poderia haver maior felicidade para alguém do que ver realizados todos os seus desejos? Ora, quem deseja só o que Deus quer, vê realizarem-se todos os seus desejos, visto que tudo o que acontece é por vontade de Deus. Quando as almas que amam a Deus são humilhadas, recebem elas o que desejam; quando são pobres, amam a pobreza e assim se contentam com tudo o que lhes acontece e isso as torna felizes. Quando faz frio ou calor, quando chove ou venta, estão satisfeitas porque Deus assim o quer. Vem a pobreza, a perseguição, a doença, a morte, elas se contentam com a vontade de Deus. Desejam tudo isso porque descobrem nisso a vontade de Deus.
Essa é a santa liberdade de que gozam os filhos de Deus. Essa é a paz bem-aventurada, prerrogativa das almas puras, que excede todo o entendimento. Essa divina paz merece ser preferida a todas as festas, aos esplêndidos banquetes, às honras e alegrias terrestres de toda espécie. Ela supera imensamente todas aquelas satisfações que por frações de segundo satisfazem os sentidos, mas que afligem o espírito por serem vazias e passageiras e não trazerem verdadeiro contentamento.
Quem não ama a vontade de Deus, vive instável. Hoje ri, amanhã chora; neste momento mostra grande mansidão, daqui a pouco está furioso como um tigre. E por que tudo isso? Só porque seu humor depende de seu bem ou mal-estar. O justo, pelo contrário, permanece imutável, aconteça o que acontecer, porque acha seu contentamento em se acomodar em tudo à vontade de Deus.
Por Santo Afonso Maria de LigórioTue, 01 Sep 2020 - 209 - O que podemos retribuir ao Senhor por tudo aquilo que Ele nos deu?
Que palavra poderá verdadeiramente descrever os dons de Deus? São tantos dons que não conseguimos enumerar. São de tal grandeza que um só deles bastaria para merecer toda a nossa gratidão para com o Doador.
Há um que nós não podemos esquecer. Deus criou o homem à sua imagem e semelhança. Honrou o homem com a capacidade de pensar. Concedeu-lhe o gozo da indizível beleza do paraíso e o constituiu rei de toda a terra. Enganado o homem pela serpente, caído no pecado e pelo pecado na morte e nos sofrimentos que a acompanham, nem por isto Deus o abandonou. Mas pela lei, que lhe serviria de auxílio no princípio, colocou anjos para guardá-lo e dele cuidar. Enviou profetas para denunciarem os vícios e ensinarem a virtude. Impediu o ímpeto dos maus através de ameaças, e estimulou por promessas a prontidão para o bem. Não poucas vezes, declarou antecipadamente, em relação a várias pessoas, qual o fim dos bons e o dos maus a fim de advertir os outros. Mas a tantos benefícios respondemos com a nossa rebeldia. Ele, contudo, não se afastou de nós.
A bondade do Senhor não nos abandonou. Nem mesmo pela estupidez com que desprezamos seus dons conseguimos destruir seu amor em nós, embora desdenhássemos do nosso benfeitor. Ao contrário, fomos libertos da morte e chamados de novo à vida por nosso Senhor Jesus Cristo. Maior motivo ainda de admiração por tanta bondade é o seguinte. Sendo ele de condição divina não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo assumindo a forma de escravo.
E não só isso, mas tomou sobre si nossas misérias, carregou nossas fraquezas, por nós foi ferido para curar-nos por suas chagas. E mais ainda, redimiu-nos da maldição, fazendo-se a si mesmo maldição por nós, sofrendo morte extremamente infame para nos reconduzir à vida gloriosa. Não se contentou em chamar os mortos à vida, quis ainda conceder-nos a glória de sua divindade e nos preparar um descanso eterno cuja imensa alegria supera qualquer imaginação.
O que então retribuiremos ao Senhor por tudo quanto nos deu? Ele é tão bom que não cobra remuneração, mas se satisfaz com ser amado em vista de seus dons. Quando penso em tudo isto, para dizer o que sinto, fico horrorizado e cheio de espanto. Pois por minha leviandade e preocupação com coisas vazias, posso perder o amor de Deus e ser uma vergonha para Cristo.
Por São Basílio Magno.Thu, 27 Aug 2020 - 208 - Óh vontade de meu Deus, como tu és querida
Por Santo Afonso Maria de Ligório.
Poucos cristãos entendem o que é a verdadeira piedade. A maior parte segue suas inclinações. Quando são melancólicos, procuram a solidão. Quando se sentem atraídos por uma vida ativa, se dedicam apenas às obras da salvação das almas. Quando inclinados a uma vida austera, se entregam à penitência e mortificação. Quando dispostos à generosidade, não poupam esmolas. Todos estão profundamente enganados. As obras exteriores são de fato frutos do amor a Jesus, mas não são a essência da caridade. A caridade está inteiramente na sintonia com a vontade de Deus. Ela requer que se renuncie a si mesmo, e em tudo se busque aquilo que mais agrada a Deus, e mesmo assim apenas porque Deus quer e merece.
A consequência disso é a seguinte. Se quisermos nos tornar santos, devemos empregar todas as nossas forças em executar a vontade de Deus e não a nossa própria, pois todos os mandamentos e conselhos de Deus têm por finalidade nos mover a fazer e sofrer tudo o que Deus quiser, e do modo como ele quiser. Logo, toda a perfeição pode ser resumida nas seguintes palavras: fazer tudo o que Deus quer, querer tudo o que Deus faz, com a única intenção de contentá-lo.
Óh meu Deus, eu vos agradeço porque o caminho da perfeição é tão fácil. De agora em diante, estou resolvido a caminhar por ele, ajudado pela vossa graça. Com essa intenção, me uno sem reserva à vossa vontade, que é toda santa, toda boa, toda bela, toda perfeita, toda amável. Óh vontade de meu Deus, como tu és querida! Unido a ti, quero viver e morrer. O que te agrada deve também me agradar, teus desejos devem ser também os meus desejos. Meu Deus, óh meu Deus, ajudai-me, fazei que de agora em diante eu só viva para querer o que vós quereis, para executar apenas a vossa amável vontade. Eu deploro os dias em que fiz a minha vontade, e vos dei desgosto. Amo-te, óh vontade de meu Deus, amo-te tanto quanto ao próprio Senhor, pois na verdade tu és mesmo o próprio Deus.Wed, 26 Aug 2020 - 207 - Diferenças entre a vontade divina significada e a vontade divina de beneplácito
Existem profundas diferenças entre a vontade divina significada e a vontade divina de beneplácito.
Primeira diferença. A vontade significada já nos é conhecida de antemão, geralmente de maneira claríssima. Desta maneira, conhecemos o Evangelho, as leis da Igreja, os conselhos, etc. De maneira muito conatural, podemos entender a vontade de Deus, confiá-la à nossa memória e meditá-la. As inspirações só parecem desconhecidas de antemão, mas na verdade elas têm por objeto aquilo que já é conhecido. Ao contrário, a vontade de beneplácito quase nunca se conhece com antecedência, mas sim durante o próprio acontecimento ou só depois dele. Dizemos quase, porque há exceções. O que Deus fará mais tarde, podemos conhecê-lo de antemão, se a Deus lhe apraz dizê-lo. Também se pode pressentir, conjecturar, adivinhar, seja pelo rumo atual dos fatos, seja pelas escolhas feitas anteriormente. Mas, em geral, o beneplácito divino é descoberto na medida em que os acontecimentos vão se desenvolvendo. Ainda no próprio momento em que ocorrem, muitas vezes a vontade de Deus permanece muito obscura. Por exemplo, Ele nos envia uma enfermidade, ou uma secura interior, ou outras provas. No momento em que isso ocorre, já sabemos que é essa a sua vontade, mas não sabemos se será longa ou curta, ignoramos o resultado, muita coisa ainda fica desconhecida.
Segunda diferença entre a vontade divina significada e a vontade divina de beneplácito. Nós podemos obedecer ou desobedecer a vontade de Deus significada. Ele quer colocar em nossas mãos a vida e a morte, nos deixando o poder de escolher entre obedecer sua lei ou desrespeitá-la. Essa nossa liberdade dura apenas até o dia da justiça. Ao contrário, pela sua vontade de beneplácito, Deus dispõe de nós como Soberano. Não nos consulta, e às vezes atua até mesmo contra nossos desejos. Ele nos coloca na situação que nos preparou, e nela nos propõe o cumprimento dos deveres. Fica dependente de nossa liberdade o cumprir ou não esses deveres, submetermo-nos ao beneplácito ou nos comportarmos como rebeldes; mas é preciso aguentar os acontecimentos, queiramos ou não, não havendo poder no mundo que possa deter seu curso. Por esse caminho, como governador e como supremo juiz , Deus restabelece a ordem e castiga o pecado; como Pai e Salvador, nos recorda nossa dependência e procura nos fazer entrar nos caminhos do dever, quando tivermos nos emancipado e extraviado.
Terceira diferença entre a vontade divina significada e a vontade divina de beneplácito. Deus nos pede a obediência à sua vontade significada, como consequência de nossa escolha e de nossa própria determinação. Para seguir um preceito, para produzir atos de virtude teologal ou moral, certamente precisamos de uma graça secreta que nos precede e nos ajuda, graça que nós podemos alcançar sempre pela oração e pela fidelidade. Mas ainda quando a vontade divina nos seja claramente significada, a cumprimos por nossa própria liberdade de escolha. Não precisamos esperar um movimento sensível da graça, nem uma moção especial do Espírito Santo. Pelo contrário, na vontade divina de beneplácito, é necessário esperar que Deus a declare mediante os acontecimentos. Sem essa declaração, não sabemos o que Ele espera de nós. Com ela, conhecemos o que Ele deseja de nós: primeiro, a submissão à sua vontade; depois, o cumprimento dos deveres peculiares a tal ou qual situação que Ele nos tenha dado.
São Francisco de Sales faz uma observação muito correta. Há situações em que é preciso juntar a vontade divina significada com a vontade divina de beneplácito. E cita como exemplo o caso da enfermidade. Além da submissão à Divina Providência, será preciso cumprir os deveres de um bom doente, como a paciência e a abnegação, e permanecer fiel aos mandamentos da vontade significada, nos limites da doença. O santo Doutor insiste muito que nessa concorrência de vontades, enquanto o beneplácito divino nos seja desconhecido, é necessário nos aderir o...Tue, 25 Aug 2020 - 206 - Como reconhecer a vontade de Deus: a vontade significada e a vontade de beneplácito
Deus nos faz conhecer a sua vontade de dois modos. O primeiro, é chamado de vontade de Deus significada, e podemos conhecê-la pelos mandamentos que Deus nos deu. O segundo modo é chamado de vontade de beneplácito, e podemos conhecê-la em todos os acontecimentos que Deus nos envia.
A vontade significada nos indica, de maneira clara e com antecedência, todas as verdades que Deus quer que nós creiamos, todos os bens que ele quer que nós esperemos, as penas que temamos, as coisas que amemos, os mandamentos que observemos e os conselhos que sigamos. Nós a chamamos de vontade significada porque nos indica explicitamente tudo o que Deus quer que nós creiamos, esperemos, temamos, amemos e pratiquemos. A adequação de nosso coração à vontade significada consiste em que queiramos tudo quanto a divina bondade nos manifesta ser de sua intenção; crendo segundo sua doutrina, esperando segundo suas promessas, temendo segundo suas ameaças, amando e vivendo segundo seus mandamentos e recomendações.
Essa vontade significada abraça quatro partes, que são as seguintes: os mandamentos da lei de Deus e da Igreja, os conselhos, as inspirações, e as Regras e Constituições da vida consagrada. Vamos tratar de cada um deles.
Os mandamentos da lei de Deus e da Igreja. É necessário que cada um obedeça os mandamentos de Deus e da Igreja, porque é vontade de Deus absoluta, que quer que os obedeçamos, se desejamos nos salvar.
Os conselhos. É vontade de Deus que guardemos os seus conselhos, que existem para favorecer a caridade. Mas não é imperativa e absoluta como os mandamentos. Assim, quando deixamos de cumprir os conselhos, sem menosprezá-los, mas porque acreditamos que não temos força suficiente para obedecer a tais conselhos, nós não perdemos a caridade nem nos separamos de Deus. Além disso, nem é possível que sigamos todos, mas só aqueles mais conformes à nossa vocação.
As inspirações. Nas inspirações, Deus nos indica suas vontades sobre cada um de nós de maneira mais pessoal. Santa Maria Egípcia se sentiu inspirada ao contemplar uma imagem de Nossa Senhora; Santo Antônio, ao ouvir o Evangelho da Missa; São Pacômio, vendo um exemplo de caridade; Santo Inácio de Loyola, lendo a vida dos santos. Ou seja, recebemos as inspirações pelos mais diversos meios. Algumas inspirações, que chamamos ordinárias, apenas nos conduzem a praticar algo que já praticamos de costume, mas com um novo fervor. Outras inspirações, chamadas de extraordinárias, nos levam a praticar ações que não seriam esperadas.
Regras e Constituições da vida consagrada. Para os que se consagraram na vida religiosa, elas explicitam a vivência dos conselhos, e da vida em comunidade.
Essas são as quatro partes da vontade de Deus significada. Além dela, também temos a vontade de beneplácito de Deus. Ela se manifesta em todos os acontecimentos, em tudo aquilo que acontece. Na enfermidade e na morte, na aflição e na consolação, na adversidade e na prosperidade. Em uma palavra, tm todas as coisas que não são previstas. Essa vontade de beneplácito pode ser vista facilmente em tudo o que vem diretamente de Deus e das criaturas que não são livres, como chuvas, terremotos, doenças, a beleza da natureza. O mais importante é ver a vontade de Deus principalmente nas tribulações, que por mais que Ele não as ame em si mesmas, as quer empregar, como excelente recurso para satisfazer a ordem, reparar nossas faltas, curar e santificar as almas.
Mais ainda, deve-se ver a vontade de beneplácito inclusive em nossos pecados e nos pecados do próximo, e aqui falamos mais especificamente da chamada vontade permissiva. Deus não concorre na forma do pecado, que é o que constitui sua malícia: ele detesta infinitamente o pecado e faz de tudo para nos afastar dele. Ele o reprova e o castigará. Mas, para não nos privar da liberdade que nos concedeu, como nós nada podemos fazer sem o concurso de Deus, que é o primeiro motor de tudo,...Mon, 24 Aug 2020 - 205 - A oblação pura da Igreja
A oblação da Igreja é sacrifício puro e aceito por Deus, tal como o Senhor lhe ensinou a oferecer em todo o mundo. Não porque Deus necessite de nosso sacrifício, mas porque nós nos enchemos de glória quando nosso dom é aceito. Pela oferenda dada a um rei manifesta-se a homenagem e afeição que se tem por ele. Querendo o Senhor que, com simplicidade e inocência, oferecêssemos nossos dons, deu-nos o preceito: Se estás para fazer tua oferta diante do altar e te lembrares que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa diante do altar a tua oferta e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; só então, vem fazer a tua oferta. Então, é necessário oferecer a Deus as primícias de suas criaturas, como Moisés também já dissera: Não te apresentarás de mãos vazias diante do Senhor, teu Deus. Quando o homem quer manifestar a Deus sua gratidão, oferece-lhe os próprios dons por ele mesmo dados e recebe a honra que dele provém.
Nenhuma das oblações feitas pelos homens é rejeitada. Mas a forma de oferecer os sacrifícios mudou, pois já não são mais oferecidos por servos, mas por filhos. O Senhor é um só e o mesmo; mas existe o caráter próprio da oblação dos filhos, de modo que as oblações são sinal da liberdade possuída. Para Deus não há nada vão, nem sem significado ou motivo. Por isto, o seu povo lhe consagrava os dízimos. Mas depois, aqueles que receberam a graça da liberdade põem à disposição do Senhor tudo quanto possuem, dando com alegria e generosidade e não apenas as coisas de menor valor. E fazem isso por causa da esperança que têm de receber coisas maiores; como aquela viúva tão pobre que pôs no cofre de Deus tudo o que tinha.
Então, temos que fazer oblações a Deus e em tudo sermos gratos ao Criador, com mente pura e fé sincera, na firme esperança, na caridade fervorosa, oferecendo-lhe as primícias da criação, criação que lhe pertence. E a Igreja é a única a fazer ao Criador esta oblação pura, que provém de sua criação, oferecendo-a em ação de graças. Pois lhe oferecemos o que já é seu, proclamando a comunhão e a unidade e confessando a ressurreição da carne e do espírito. O pão que vem da terra, ao receber a invocação de Deus, já não é mais pão comum mas eucaristia, feita de dois elementos, o terreno e o celeste; do mesmo modo, por receberem a eucaristia, nossos corpos já não são corruptíveis; possuem a esperança da ressurreição.
Por Santo Irineu.Thu, 20 Aug 2020 - 204 - A caridade é questão de vida ou morte
Por Gabriel de Santa Maria Madalena. . . . .
A Caridade é essencial na vida sobrenatural. A tal ponto que a sua presença ou a sua ausência é questão de vida ou morte. Quem não tem Caridade, também não possui a graça santificante, pois ambas são inseparáveis.
Diz São João, em sua primeira carta: "Aquele que não ama, permanece na morte". Pelo contrário, quem possui a Caridade, possui a graça, e então participa da vida de Deus: "quem permanece no amor, permanece em Deus, e Deus nele". E como ensina Santo Tomás, "a Caridade une de tal maneira o afeto do homem a Deus, que o homem já não vive para si mesmo, mas para Deus".
Três são as virtudes teologais infundidas em nós junto com a graça santificante: a Fé, a Esperança e a Caridade. As três têm por objetivo a Deus mesmo, mas destas três a maior é a Caridade, como lembra São Paulo em sua primeira carta aos coríntios. Ela é maior, porque sem Caridade não pode existir vida cristã; maior porque a Caridade jamais desaparecerá, visto ser a força unitiva que nos une a Deus, pois é uma participação daquela Caridade infinita que é o próprio Deus. Por isso, ao fariseu que lhe perguntava qual era o primeiro mandamento da lei, Jesus respondeu: "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e com toda a tua alma, com todo o teu espírito. Este é o maior e o primeiro mandamento".
Quando a Caridade for perfeita em nós, nos manterá plenamente unidos a Deus, e orientará para Ele todas as nossas atividades. Porque na medida em que uma alma é dominada pela Caridade, nessa medida atinge a maturidade da vida sobrenatural. Quanto maior ou menor for a Caridade, tanto maior ou menor será a santidade.Wed, 19 Aug 2020 - 203 - Deixar nosso coração totalmente livre para Deus
Às vezes, eu receio de que terei um longo purgatório, ao pensar que muito será pedido de quem muito recebeu. Ele encheu essa sua esposinha com seus dons mas ela se abandona ao seu amor e já neste mundo canta o hino de suas misericórdias.
Querida senhora, se todos os dias fizermos com que Deus cresça na nossa alma, isto nos dará uma grande segurança para um dia comparecermos diante de sua infinita santidade. Creio que a senhora encontrou esse segredo. Só pelo caminho da renúncia é que chegamos a essa meta divina. É deste modo que morremos para nós mesmos e deixamos o lugar livre somente para ele, em nosso coração. Lembre-se muito bem daquela linda página do Evangelho, onde Nosso Senhor diz a Nicodemos: "Quem não nascer do alto, não pode ver o Reino de Deus".
Então, vamos nos renovar no interior de nossa alma, "despojando-nos do homem velho com as suas práticas e nos revestindo do homem novo, que se renova para o conhecimento segundo a imagem de seu Criador".
Tudo isto deve ser operado com tranquilidade e simplicidade, separando-se de tudo o que não é Deus. Agindo assim, a alma não terá mais nem temores nem desejos e a sua vontade se acha totalmente perdida na vontade de Deus. E é isso que faz a união. Assim, pode exclamar: "Eu vivo, mas já não sou eu, pois é Cristo que vive em mim".
Por Santa Elisabete da Trindade.Tue, 18 Aug 2020 - 202 - Leitura espiritual e palavra de Deus
Além da oração da manhã e da noite, exorto que você destine um tempo dedicado à meditação de algum livro espiritualou de doutrina, como por exemplo: a Imitação de Cristo, a Filotéia de São Francisco de Sales, a Preparação para a Morte de Santo Afonso, a vida dos santos e outras obras semelhantes. A leitura desses livros fornecerá grande proveito para a tua alma. E será duplo o seu mérito diante de Deus se você ensinar aos outros, ou mesmo ler para eles, tudo quanto aprendeu com essas boas obras.
Mas ao mesmo tempo em que recomendo as boas leituras, aconselho que fuja dos maus livros. Todo livro, jornalou folhetoque ataca a Igreja e seus ministros, ou que contenham imoralidades, são extremamente perigosos para a formação. Afaste-se disso, como se fosse de um copo de veneno.
Nisto devemos imitar os cristãos de Éfeso, quando ouviram São Paulo pregar sobre o dano que causam os maus livros. Aqueles fervorosos fiéisos carregaram para a praça pública e fizeram uma fogueira, achando melhor queimar todos os livros do mundo do que expor a alma ao perigo de cair no fogo do inferno.
A nossa alma é como o corpo. Sem alimento, ela definha. Por isso, recomendo que participe de cursos e palestras. A alma também necessita todos os dias do alimento da palavra de Deus.
Cuidado para não cair na armadilha do demônio, quando sugere este pensamento: "Isso serve para os outros, mas não para mim". Não, meu caro, aquilo que não servir para corrigir coisas passadas, servirá para te preservar de algum erro futuro.
Ouvindo a pregação, procure guardá-la na memória e meditá-la ao longo do dia, especialmente antes de dormir. Se fizer assim, você obterá grandes graças.
Por São João Bosco.Mon, 17 Aug 2020 - 201 - Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo
Chama-nos a atenção que na conclusão das orações, dizemos sempre: “por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho”. Nunca dizemos: “pelo Espírito Santo”. Não é sem motivo que a Igreja católica faz assim, por causa do mistério do mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem, sacerdote segundo a ordem de Melquisedec, que com seu próprio sangue entrou uma vez por todas no santuário do próprio céu, onde está à direita de Deus e intercede por nós.
Contemplando esta função pontifical de Cristo, por ele ofereçamos sempre o sacrifício de louvor, o fruto dos lábios daqueles que confessam seu nome. Por conseguinte, por ele oferecemos o sacrifício de louvor e da prece, pois, mediante a sua morte, fomos reconciliados, nós que éramos inimigos de Deus. Por ele, que se dignou tornar-se sacrifício em nosso favor, o nosso sacrifício pode ser bem aceito diante de Deus. São Pedro adverte-nos, dizendo: E vós, quais pedras vivas, entrais na edificação deste edifício espiritual, no sagrado sacerdócio, oferecendo vítimas espirituais agradáveis a Deus, por Jesus Cristo. É esta a razão que nos faz dizer: “Por nosso Senhor Jesus Cristo”.
Quando se menciona o sacerdote, logo vem à mente o mistério da encarnação do Senhor. Mistério do Filho de Deus que embora de condição divina, aniquilou-se a si mesmo, assumindo a forma de escravo. Em sua humilhação, fez-se obediente até à morte. O Filho se diminuiu, permanecendo igual ao Pai, porque se dignou assemelhar-se aos homens. Tornou-se o menor, quando se aniquilou a si mesmo, tomando a forma de servo. A diminuição de Cristo é seu aniquilamento, mas o aniquilamento consiste na aceitação da forma de servo.
Cristo, permanecendo na forma de Deus o unigênito de Deus, a quem juntamente com o Pai oferecemos sacrifícios, tomou a forma de servo, tornando-se sacerdote. Assim, por ele, podemos oferecer um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. Nunca nos seria possível oferecer tal sacrifício se Cristo não se houvesse tornado, ele mesmo, sacrifício para nós. Nele, a própria natureza do gênero humano é o verdadeiro sacrifício de salvação.
Com efeito, quando nos apresentamos para oferecer nossas orações, mediante nosso eterno sacerdote e senhor, afirmamos que ele possui a verdadeira carne de nossa raça. O Apóstolo já tinha dito: Todo pontífice é escolhido dentre os homens e é constituído a favor dos homens para as coisas que dizem respeito a Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados. Quando, porém, dizemos: “Vosso Filho”, e acrescentamos: “que convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo”, comemoramos aquela unidade naturalmente existente entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Daí se deduz que Cristo é quem exerce a função sacerdotal para nós, e ao mesmo tempo, a Ele pertence a unidade com o Pai e com o Espírito Santo.
Por São Fulgêncio de Ruspe.Thu, 13 Aug 2020 - 200 - Seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu
Por Santo Afonso Maria de Ligório.
Jesus nos ensina a pedir a graça de cumprir a vontade de Deus aqui na terra, como os anjos a cumprem no céu: "Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu".
A coisa mais preciosa que possuímos é a nossa vontade própria. Entregá-la a Deus é a coisa mais agradável que podemos oferecer ao Senhor. É o que Deus pede, no livro da Sabedoria: "Meu filho, dá-me o teu coração", ou seja, a tua vontade. Santo Agostinho diz: "A coisa mais agradável que podemos oferecer a Deus é dizer-lhe sinceramente: tomai posse de nós, a vós consagramos toda a nossa vontade. Dai-nos conhecer o que de nós quereis: estamos prontos para fazer tudo". Quando consagramos a Deus a nossa vontade, então tudo entregamos. Quem lhe entrega seus bens dando esmolas, quem lhe dá seu sangue pelas disciplinas, quem lhe entrega seu sustento através do jejum, dá a ele apenas uma parte do que é seu. Mas quem a Deus entrega sua vontade, lhe dá tudo o que possui, e pode dizer-lhe: "Senhor, eu sou pobre, mas vos dou tudo o que tenho para dar. Entregando-vos a minha vontade, nada mais me fica de que eu possa dispor".
Mas para que esse sacrifício seja completo, deve ter duas propriedades: deve ser inteiro e, além disso, constante. Há pessoas que dão a Deus a sua vontade, mas com certa restrição. Tal oferta não agrada muito a Nosso Senhor. Outros lhe consagram sua vontade para depois retomá-la: estes se expõem ao perigo de serem abandonados por Deus. Para afastar de nós essa infelicidade, todos os nossos esforços, todas as nossas aspirações e orações, devem visar à perserverança, para que sempre queiramos o que Deus quer. Renovemos cada dia a consagração de todo o nosso ser a Deus, e guardemo-nos de desejar qualquer coisa contrária aos desejos dele. Desta maneira, nos livraremos de toda a paixão, de todo o desejo, de todo o temor, e de toda afeição desregrada. Um único ato de adequação perfeita com a vontade de Deus basta para nos elevar à santidade.Wed, 12 Aug 2020 - 199 - O abandono é fruto do amor
Caríssima Senhora. Compreendo a sua inquietação, diante da expectativa de uma cirurgia. Peço a Deus que ele mesmo suavize o seu sofrimento. O apóstolo São Paulo diz que "tudo acontece segundo um ato deliberado de sua vontade". Portanto, devemos aceitar as coisas como se nos viessem diretamente da mão do Pai, que nos ama e se serve de todas as coisas para chegar ao seu objetivo. E esse objetivo é nos unir mais intimamente com ele.
Querida senhora, lance sua alma nas ondas da confiança e do abandono. Lembre-se de que tudo o que a inquieta e atemoriza não vem de jeito nenhum de Deus. Ele é o "Príncipe da paz". Sempre que se sinta invadida pelo medo de ter abusado de suas graças, como a senhora me confidenciou, então é o momento de redobrar a confiança. Pois também o Apóstolo assim se expressa: "Onde abundou o pecado, a graça superabundou". E diz mais ainda: "Com todo ânimo, eu prefiro me gloriar das minhas fraquezas, para que pouse sobre mim a força de Cristo".
Deus é rico em misericórdia. Por isso, não tenha medo daquele momento pelo qual todos nós temos que passar. A morte, querida senhora, não é nada mais que o sono da criança que adormece no colo da mãe. Finalmente, a noite do desterro terminará para sempre, e nós entraremos na posse da herança dos santos na luz. São João da Cruz diz que "seremos julgados no amor". E isso corresponde às palavras que Jesus disse a Madalena: "Seus numerosos pecados lhe estão perdoados, porque ela demonstrou muito amor".
Por Santa Elisabete da Trindade.Tue, 11 Aug 2020 - 198 - Não duas vontades, mas uma só
Toda a nossa perfeição, diz Santo Afonso de Ligório, consiste no amor por nosso Deus. E toda a perfeição do amor divino consiste, por sua vez, na união de nossa vontade com a dele. Assim, se desejamos agradar e comprazer o coração de Deus, trataremos não só de nos conformar em tudo com a sua santa vontade, mas nos unificar com ela, de modo que não sejam mais duas vontades, mas uma só. Os santos sempre tiveram como único objetivo fazer a vontade de Deus, persuadidos de que nisso consiste toda a perfeição de uma alma. A divina Mãe, Maria Santíssima, foi a criatura mais perfeita porque foi a que mais perfeitamente cumpriu a vontade de Deus. E o mesmo Jesus, o Santo por excelência, o modelo de toda perfeição, foi todo amor e obediência. Pela abnegação que professa por seu Pai e pelos homens, substitui os holocaustos estéreis e se faz a Vítima universal. A vontade de seu Pai o conduzirá por todo tipo de sofrimentos e humilhações, até a morte e morte de cruz. Jesus o sabe, mas precisamente para isso desceu do céu, para cumprir essa vontade, que se converterá em fonte de vida. Desde sua entrada no mundo, Ele declara que plantou a vontade do Pai no meio de seu coração para amá-la, e em suas mãos para executá-la fielmente. Essa amorosa obediência será seu alimento, resumirá sua vida oculta, inspirará sua vida pública, até o ponto de Ele dizer: "Eu faço sempre o que agrada ao meu Pai". E no momento da morte, lançará bem alto seu triunfante "tudo está consumado". Meu Pai, eu os amei até o último limite, terminei minha obra de Redenção, porque fiz vossa vontade, sem omitir um único ponto.
Unificar a nossa vontade com a de Deus, eis aí o cume de toda perfeição, diz Santo Afonso. Devemos aspirar a isso continuamente, essa deve ser a finalidade de todas as nossas obras, de todos os nossos desejos, de todas as nossas meditações, de todas as nossas preces. Seguindo o exemplo de nosso amado Jesus, só tenhamos olhos para a vontade de Deus em todas as coisas. Que nossa única ocupação seja cumpri-la com fidelidade sempre crescente, com infatigável generosidade e por motivos totalmente sobrenaturais. Esse é o modo de seguirmos ao Nosso Senhor dando grandes passos e subir com Ele na glória.
Por Vital Lehodey.Mon, 10 Aug 2020 - 197 - Em Cristo, tende fé e caridade
Esforçai-vos por vos reunir mais frequentemente para dar graças a Deus e louvá-lo. Pois quando vos congregais com maior frequência, as forças de Satanás são abaladas e pela concórdia de vossa fé é vencida a morte que ele traz consigo. Nada é melhor do que a paz que acaba com toda guerra, seja celeste ou terrena. Nada vos faltará, se tiverdes perfeita fé e caridade em Jesus Cristo, que são o princípio e a finalidade da vida. O princípio da vida é a fé. A finalidade da vida é a caridade. As duas, bem unidas, são o próprio Deus. Tudo o mais que diga respeito à perfeição humana está ligado à fé e à caridade.
Ninguém que professe a fé pode pecar, nem o que possui a caridade consegue odiar. Conhece-se a árvore por seus frutos. Igualmente, a pessoa que diz que é de Cristo, será reconhecida por suas obras. Não se trata agora de declarações, mas de perseverança na virtude da fé até o fim. Melhor é calar-se e ser do que falar e não ser. Coisa boa é ensinar, se quem ensina o pratica. Pois só um é o mestre que disse e tudo foi feito. Mas tudo o que ele fez também em silêncio é digno do Pai. Na verdade, quem possui a palavra de Jesus pode ouvir o seu silêncio, a fim de ser perfeito, agir como fala e ser conhecido quando silencia. Ao Senhor nada se esconde, até nossos segredos mais íntimos estão diante dele. Então, façamos todas as coisas em sua presença, visto que somos os seus templos. Que ele seja em nós o nosso Deus, ele que é e aparecerá a nossos olhos na justa medida do nosso amor.
Não vos enganeis meus irmãos, os perturbadores da família não herdarão o reino de Deus. Se pereceram aqueles que assim agiam, segundo a carne, quanto mais aquele que corromper a fé em Deus com doutrinas falsas, pela qual Jesus Cristo foi crucificado? Este tal, tornado impuro, irá para o fogo inextinguível, juntamente com quem o escutar. Na cabeça o Senhor recebeu a unção do óleo para que a Igreja espalhe o perfume da incorrupção. Não aceiteis a unção de péssimo odor da doutrina do príncipe deste mundo. Que não aconteça levar-vos cativos para longe da vida prometida!
Meu espírito está pregado na cruz, escândalo para os incrédulos, salvação e vida eterna para nós.
Por Santo Inácio de Antioquia.Thu, 06 Aug 2020 - 196 - Como Jesus, só fazer a vontade do Pai
Por Santo Afonso Maria de Ligório.
É feliz aquele que conseguir falar, como a esposa do Cântico dos Cânticos: "a minha alma se derreteu quando ele falou". Como o líquido não tem forma própria, mas assume a forma do vaso em que está colocado, assim as almas que amam a Deus não possuem mais vontade própria, mas se ajustam em tudo à vontade do seu amado. Elas possuem um coração dócil, disposto a fazer tudo o que agrada a seu Senhor, em contraste com aqueles que a ele se opõem, por terem um coração duro e resistente.
Como poderão nossas obras, honrar a Deus, se não forem feitas segundo a sua santa vontade? Por acaso, o senhor deseja holocaustos e vítimas? Não. O que ele quer é que se obedeça à sua voz. A maior honra que podemos prestar a Deus é cumprir sua vontade em todas as coisas. Foi também o que quis ensinar o Salvador, com sua vida neste mundo, onde veio estabelecer a glória do Pai, dizendo: as vítimas que os homens vos ofereciam, vós as rejeitastes. Quereis que eu vos sacrifique o corpo que me destes. Eis-me aqui, pronto para cumprir a vossa vontade. Nosso divino Salvador declarou repetidas vezes que tinha vindo ao mundo somente para fazer a vontade de seu Pai. Eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. Além disso, disse que é seu irmão, aquele que fizer a vontade de seu Pai: "Todo aquele que cumprir a vontade do meu Pai celeste, esse é meu irmão". . . Os santos, seguindo o exemplo de seu divino Mestre, não tinham outro objetivo em todas as suas ações, senão executar a vontade de Deus, sabendo que nisso consistia toda a perfeição. O Beato Henrique Suso dizia: "Deus não exige que tenhamos abundantes luzes, mas que nos sujeitemos em tudo à sua santa vontade". Santa Teresa de Jesus afirmava: "Na meditação, não se deve procurar outra coisa a não ser alinhar a nossa vontade com a de Deus. Quem mais progredir nesse ponto, receberá de Deus as maiores graças, e fará os maiores progressos na vida interior". A Beata Estefânia de Soncino, dominicana, tendo sido uma vez elevada em espírito ao céu, viu diversas almas santas que tinha conhecido, entre os serafins. E foi revelado a ela que tais almas alcançaram tamanha glória por terem alinhado perfeitamente a sua vontade de Deus.Wed, 05 Aug 2020 - 195 - A santa doutrina do amor e da cruz
Por Santa Elisabete da Trindade.
Minha querida Germana. Meu coração compartilhou profundamente a dor que aflige o coração de vocês. Peço a você que seja a minha intérprete junto à sua querida mãe nesta dolorosa circunstância. Na oração, tenho presente o seu querido falecido para que Deus, que é rico em misericórdia, o introduza quanto antes na herança dos santos na luz. Rezo também por aqueles que continuam nesta vida, porque são justamente eles que têm que carregar o fardo da dor.
Sim, minha querida Germaninha, a vida é uma corrente contínua de sofrimento e creio que as criaturas felizes deste mundo são aquelas que escolheram a cruz como sua porção de herança, agindo por amor a Cristo. Por Ele, que nos amou e se entregou a si mesmo por nós, como escreveu São Paulo. Parece-me que toda a doutrina do amor, daquele amor verdadeiro e forte, sintetiza-se nestas poucas palavras. Nos dias de sua vida mortal, Nosso Senhor dizia: "Eu amo o Pai, e por isso sempre faço o que lhe agrada". "Por isso - acrescenta ele - não me deixou só, pois está sempre comigo".
Também nós, Germana, devemos manifestar a ele o nosso amor em todos os nossos atos, fazendo sempre o que lhe agrada. Ele jamais nos deixará sozinhas, mas permanecerá no centro de nossa alma para ser ele próprio a nossa fidelidade. Por nós mesmas, não somos senão nada e pecado. Mas ele é o Santo que mora dentro de nós com a finalidade de nos salvar, nos purificar e nos transformar nele. Lembre-se do maravilhoso desafio do Apóstolo: "Quem nos separará do amor de Cristo?" Ele havia penetrado profundamente no coração de seu divino Mestre e conhecia os tesouros de misericórdia que nele se encerravam. Por isso, num ímpeto de confiança, exclamava: "Com toda determinação, prefiro gloriar-me das minhas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por causa de Cristo, para que pouse sobre mim a força de Cristo".
Ame sempre a oração, querida Germaninha. Quando lhe aconselho a oração, não pretendo com isto impor-lhe uma quantidade de orações vocais para serem rezadas diariamente. Entendo, isto sim, aquela elevação da alma a Deus em todas as coisas, que nos coloca numa espécie de contínua comunhão com a Santíssima Trindade. Agindo assim, faremos tudo com simplicidade sob o seu olhar.Tue, 04 Aug 2020 - 194 - A primeira virtude de um jovem é obedecer aos seus pais e superiores
Meu caro filho, você se inclinará fatalmente para o mal, se não se deixar guiar pelos que estão encarregados da tua educação e da tua alma. Essa formação cabe aos pais e àqueles que os assistem, aos quais você deve obedecer com docilidade. "Honra teu pai e tua mãe, a fim de que tenhas uma vida dilatada sobre a terra", diz o Senhor.
Essa honra consiste em obedecer, respeitar e prestar-lhes assistência. Por isso, quando te mandarem fazer alguma coisa, prontamente obedeça, sem resistir. Não seja como alguns que resmungam, encolhem os ombros, sacodem a cabeça ou, pior ainda, respondem mal. Esses fazem grande injúria a seus pais e também a Deus. Através do que os pais mandam, é Deus mesmo quem te manifesta Sua vontade. O nosso Salvador, mesmo sendo onipotente, quis nos ensinar a obedecer, se submetendo à Santíssima Virgem e a São José, no humilde ofício de artesão. Ele lhes era submisso.
Você deve demonstrar grande respeito para com os pais, e não fazer nada sem a sua permissão, não demonstrando chateação com a sua presença, e jamais divulgar os seus defeitos. São Luiz Gonzaga não fazia coisa alguma sem licença, e quando não tinha outros a quem pedir autorização, pedia até para os seus empregados.
Você deve prestar auxílio aos seus genitores nas suas necessidades, ajudando nas tarefas domésticase auxiliando em tudo o quanto possas. É também dever dos filhos rezar pelos pais, pedindo que Deus conceda a eles as graças espirituais e temporais.
Quando falo de obediência e respeito aos teus pais, entendo que o mesmo é devido aos teus superiores, seja na Igreja ou na sociedade, dos quais você deve receber com humildade e respeito os ensinamentos, os conselhos e as correções, consciente de que são para teu próprio proveito, pois a obediência prestada aos superiores é como se fosse prestada a Jesus Cristo e a Maria Santíssima.
O obediente se tornará santo. Aquele que é desobediente encontrará o caminho da perdição.
Por São João Bosco.Mon, 03 Aug 2020 - 193 - Como se comportar diante das tentações
O demônio lança armadilhas para fazer você cair em pecado, e assim torna a tua alma escravae inimiga de Deus. Portanto, você deve vigiar atentamentepara não cair em tentação.
Para se prevenir das tentações, contribuirá muitíssimo o fugir das ocasiões, das conversas más e dos espetáculos públicos, onde não há nada de bome trazem sempre algum dano para a alma. Procure estar sempre ocupado trabalhando, estudando, rezando, e quando tiver tempo, busque diversões honestas. Faça com que, como aconselha São Jerônimo, o demônio nunca o encontre desocupado.
Quando for tentado, não espere que a tentação tome posse do seu coração. Rapidamente se livre delapor meio da oraçãoou por meio do trabalho. Caso a tentação continue, faça o sinal da cruz, beije algum objeto bentoe recorra à Virgem Santíssima: "Maria, Auxílio dos cristãos, rogai por mim".
A primeira armadilha que o demônio costuma usar para arruinar a sua almaé sugerir a idéia de que será impossível afastar-se dos "prazeres" durante toda a vida, caminhando somente pela difícil estrada das virtudes.
Quando o demônio sugerir esse pensamento, responda-lhe: "Quem me assegura de que viverei muitos anos? A minha vida está nas mãos do Senhor; pode ser que hoje seja o último dia de minha vida. Mesmo que Nosso Senhor me conceda muitos anos, com certeza devo buscar a recompensa: a glória e a felicidade no Céu".
Além disso, perceba que aqueles que vivem na graça de Deusestão sempre alegres, e assim permanecem mesmo nos momentos de aflição. Ao contrário, aqueles que se entregam aos prazeresvivem mal-humorados, inquietos, e se esforçam para encontrar a paz nos seus entretenimentos, mas sempre são mais infelizes. "Para os ímpios, não há paz", diz o Senhor.
Alguns podem pensar que a preocupação com a eternidade e o inferno poderá levá-los à depressão e à loucura. Certamente a ideia de uma eternidade infeliz e a imaginação do suplício que jamais acabará são tristes e assustadoras. Mas, se só o pensamento aterroriza, o que seria se fôssemos condenados de verdade? Portanto, melhor será pensar agora, para no futuro estarmos prontose não cairmos em tamanha desgraça.
Observe: se por um lado o pensar no inferno é triste, por outro lado enche-nos de consolação a esperança do paraíso, onde gozaremos de todos os bens. Por isso, os Santos, enquanto meditavam seriamente na eternidade das penas, viviam com suma alegria, com firme esperança de que a graça de Deus os preservaria para um dia chegarem à posse dos bens infinitos, reservada aos que O servem.
Portanto, coragem meu querido! Comece a servir o Senhor e experimente como é doce e agradável. O Senhor sempre encherá o teu coração de consolação, no tempo e na eternidade.
Por São João Bosco.Sat, 01 Aug 2020 - 192 - Na concórdia da unidade
De todos os modos vos convém glorificar a Jesus Cristo que vos glorifica. para que vos santifiqueis em tudo, perfeitamente unidos na obediência, sujeitos ao bispo e ao presbitério.
Não vos dou ordens, como se fosse alguém. Mesmo carregado de cadeias por causa do nome do Senhor, ainda não sou perfeito em Cristo. Só agora inicio a ser discípulo e vos falo como a colegas. Eu é que deveria ser ungido por vossa fé, vossas exortações, paciência, serenidade. Mas a caridade não me permite calar a vosso respeito. Resolvi por isso me adiantar e exortar-vos a ser bem unidos ao pensamento do Altíssimo.
Jesus Cristo, nossa vida inseparável, é o pensamento do Pai. Da mesma forma como os bispos, em toda a extensão da terra, são o pensamento de Jesus Cristo.
Portanto, convém que vos encontreis com o pensamento do bispo, como aliás já o fazeis. Na verdade, vosso inesquecível presbitério, digno de Deus, está unido ao bispo como as cordas estão unidas à cítara. Deste modo, em vosso consenso e caridade, ressoa Jesus Cristo. Cada um de vós, igualmente, forme um coro, uníssono na concórdia, recebendo a melodia de Deus na unidade, para cantardes a uma só voz por Jesus Cristo ao Pai. E o Pai vos ouvirá e vos reconhecerá por vossa atitude como membros de seu Filho. Na verdade, é vantajoso para vós estar na imaculada unidade, a fim de que participeis sempre de Deus.
Como vos considero felizes por estardes unidos ao bispo como a Igreja está unida a Jesus Cristo e como Jesus Cristo está unido ao Pai; para que de tudo resulte a unidade! Ninguém se engane: se alguém não estiver junto do altar, ficará privado do pão de Deus. Se a oração de um ou dois tem tamanha força, quanto mais a oração do bispo e de toda a Igreja!
Por Santo Inácio de Antioquia.Thu, 30 Jul 2020 - 191 - A beleza da caridade é indescritível
Quem tem a caridade em Cristo, que cumpra os mandamentos de Cristo! Quem poderá descrever o laço da caridade de Deus? Quem conseguirá discorrer sobre a perfeição de sua beleza? É indizível a profundeza a que nos leva a caridade, nossa união com Deus. A caridade cobre uma multidão de pecados, a caridade tudo suporta, tudo tolera com paciência. Não há nada de sórdido nem de arrogante na caridade. A caridade não tolera a divisão, não provoca revolta. A caridade tudo faz na concórdia. Na caridade todos os eleitos de Deus são perfeitos. Sem a caridade nada é aceito por Deus. Na caridade Deus nos assumiu para si. Pela caridade que tem para conosco, nosso Senhor Jesus Cristo, obediente à vontade divina, por nós entregou o seu sangue. Entregou a sua carne, por nossa carne; a sua alma, pela nossa.
Bem vedes, caríssimos, como é grande e admirável a caridade e impossível é descrever toda a sua perfeição. Quem merecerá ser encontrado nela, a não ser aqueles que Deus quiser tornar dignos? Então, oremos e peçamos-lhe misericórdia, a fim de estarmos na caridade, sem culpa e sem qualquer interesse puramente humano. Aqueles que, pela graça de Deus, atingiram a perfeição da caridade, alcançam um lugar sagrado e serão manifestados na vinda do reino de Cristo.
Caríssimos, se cumprirmos os preceitos do Senhor na concórdia e na caridade somos muito felizes, porque por elas nossos pecados serão perdoados. Como está escrito: Feliz aquele cuja iniquidade foi perdoada, cujo pecado foi absolvido. Feliz o homem a quem o Senhor não argúi de falta, e em cujos lábios não há engano. A proclamação desta felicidade atinge os que são eleitos de Deus, por Jesus Cristo, nosso Senhor . A Ele seja a glória pelos séculos sem fim.
Por São Clemente.Wed, 29 Jul 2020 - 190 - O homem que ama a Deus se faz uma só vontade com Ele
Por Santo Afonso Maria de Ligório.
A perfeição do amor de Deus consiste na união de nossa vontade com a dele. A ação principal do amor é unir ao máximo os corações amantes, de tal forma que só tenham um só querer. Portanto, quanto mais uma pessoa se unifica com a vontade de Deus, tanto mais Deus se une a ela. Do mesmo modo como o ódio separa as vontades dos inimigos, assim também o amor une as vontades dos amantes. Diz São Jerônimo: quando uma pessoa só quer o que a outra deseja, elas se amam de fato mutuamente. As almas que aderem a Deus com fidelidade estão de acordo com tudo o que vem da vontade de Deus. Assim se vê o acerto da declaração de São Francisco de Sales de que a piedade consiste na vontade firme de fazer tudo o que se saiba agradar a Deus. O mesmo ensina Santo Tomás: a piedade consiste na prontidão em fazer tudo o que Deus nos pede.
Para que uma coisa seja boa e perfeita, é preciso corresponder ao fim para o qual foi feita. Assim, um instrumento é bom quando serve ao operário em seu trabalho. Do contrário, para que serviria? O que faria um pintor com o pincel que resiste à sua mão, seguindo para a esquerda quando o pintor o manejasse para a direita, elevando-se quando ele quisesse abaixá-lo? Seria imediatamente descartado. O homem foi colocado neste mundo unicamente para servir a Deus ê glorificá-lo. Ora, só fazendo a vontade de Deus poderá o homem atingir o seu sublime destino. Assim, para que ele seja bom e perfeito, deve empregar sua existência em executar o que Deus quer. Fazer a sua própria vontade e seguir a sua inclinação não é servir a Deus. Toda perversidade do pecado consiste justamente em querer o que Deus detesta. Não querer se dirigir segundo a vontade de Deus, é uma espécie de idolatria, pois um tal homem adora sua própria vontade, ao invés da vontade divina.Tue, 28 Jul 2020 - 189 - Só permitir pensamentos que nos levam a amar a Deus
Por Joseph Schrivér.
Diz São Paulo: "Nós aniquilamos todo raciocínio e todo orgulho que se levanta contra o conhecimento de Deus. E dominamos todo pensamento e o reduzimos à obediência a Cristo".
Se queres que Jesus viva em tua alma, deves entregar a ele todas as tuas faculdades. Tudo deve estar ao seu serviço para a grande obra que ele quer fazer em ti. Dá-lhe também a tua inteligência, sem mesmo reservar para ti um único pensamento.
A inteligência foi dada ao homem para conhecer o soberano bem, e discernir os melhores meios para atingi-lo. Portanto, a finalidade da inteligência é servir à vontade livre. A inteligência tem o nobre dever de apresentar à tua vontade as infinitas perfeições e amabilidades de Deus, e as inúmeras razões de se apegar a ele, para inclinar tua vontade a amá-lo.
Como tu podes ver, é grande a tarefa da inteligência no trabalho da tua santificação. Tua vontade não pode produzir um único ato sem o auxílio da inteligência. Sempre que a vontade escolhe algo, só pode fazê-lo por influência da inteligência.
Portanto, há motivos de sobra para que tu cuides bem de perto a tua inteligência, e não a deixes fora do reinado de Jesus na tua alma.
Considera bem o poder que uma ideia tem. Todo ato de inteligência contém em si uma energia, uma força de expansão. Qualquer pensamento, julgamento, raciocínio. Qualquer série de pensamentos, qualquer encadeamento de ideias, possui essa energia, e tende para levar a vontade a produzir um ato de escolha.
Graças a essa força, a ideia que se apoderou da tua inteligência, seja boa ou seja má, investe imediatamente sobre a vontade, para levá-la a praticar um ato.
Então, é muito importante dominar a inteligência e governá-la. Cabe à vontade livre armazenar essa força, multiplicá-la pela reflexão, direcioná-la para o bem. Realmente, toda ideia que não se destina para o fim último, que é Deus, estimulando a amá-lo, ou auxiliando a cumprir um dever, será uma energia perdida. E não só isso. Será também um elemento de perturbação, contrário à saúde espiritual. E é preciso suprimi-la.
Portanto, guerra aos pensamentos vazios, voluntariamente alimentados. Entram nessa categoria os devaneios, planos de futuro, recordações do passado, projetos fantasiosos, dúvidas, inquietações vazias.
Os pensamentos mais funestos são os que induzem ao pecado, ocupam o coração com prazeres inúteis, ou levam ao desânimo.
Os divertimentos, as representações, as leituras que encarnam essas ideias, e as intensificam, dando encantos mais sensíveis a tais ideias, são outros inimigos irreconciliáveis da perfeição.
Minha pobre alma. Se queres ser santa, abandona todas as ideias, todas as conversas desnecessárias que te afastam de Deus. Ocupa-te somente dele, no segredo do teu coração.
Os pensamentos inúteis, os sonhos vazios, enchem a cabeça como um enxame de abelhas. É um contínuo zumbido. Como poderias dedicar-te a Deus com tranquilidade? Fecha as portas da tua inteligência, e não admitas outros pensamentos senão aqueles que podem te ajudar a amar a Deus.
Se por um lado a vontade é influenciada pela inteligência, por outro lado também é verdade que a vontade tem um grande poder sobre ela. A vontade pode desviar o curso dos pensamentos, interromper um encadeamento de ideias e substituí-lo por outro.
Toda vez que perceberes que teu espírito está preso a coisas inúteis, conduze-o suavemente a Deus com um ato de amor e de arrependimento, ao mesmo tempo suave e ardente. Jesus, eu vos amo. Perdoai-me, ajudai-me. Em seguida, aplicarás teu espírito, seja na oração, no estudo, numa leitura útil, seja no cumprimento de um dever.
Faze esse trabalho tranquilamente, sem impaciência. Pois terás que recomeça-lo todos os dias.
Obriga-te a combater os pensamentos inúteis, não diretamente, mas desprezando-os e ocupando teu espírito em...Mon, 27 Jul 2020 - 188 - O Verbo faz todas as coisas comporem uma divina harmonia
Não existe nada, absolutamente nada, que não tenha sido criado pelo Verbo de Deus. São João nos ensina com estas palavras: No princípio era o Verbo e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. Tudo foi feito por ele, e sem ele nada se fez.
Com uma harpa bem afinada, o músico combina artisticamente os sons graves com os agudos e os médios, de modo a produzir uma só harmonia. Assim também, a Sabedoria de Deus, empunhando todo o universo como uma harpa, conjuga as coisas aéreas com as terrenas e as celestes com as aéreas, ligando cada parte com o todo. Assim, dirigindo tudo por um aceno de sua vontade, produz um só universo, um universo com sua ordem cheia de beleza e de harmonia. Entretanto ele mesmo, Verbo de Deus, permanece sempre imóvel junto do Pai, enquanto tudo se move dentro da força da respectiva natureza, segundo o agrado do Pai. Por seu dom, tudo vive e se mantém conforme sua natureza, compondo assim, por ele, uma admirável harmonia, verdadeiramente divina. Só por comparação podemos entender uma realidade tão imensa! Por exemplo: num coro numeroso, com muitos homens e mulheres, jovens e velhos, sob a direção de um só maestro, todos cantam conforme sua capacidade e estado, homem como homem, criança como criança, velho como velho, jovem como jovem. No entanto, todos formam uma só harmonia. Outro exemplo: como nossa alma, ao mesmo tempo, move nossos sentidos segundo suas propriedades. Na presença de alguma coisa, todos eles se movimentam: os olhos veem, os ouvidos escutam, o olfato percebe, o paladar prova e mesmo os outros membros muitas vezes agem, por exemplo, os pés caminham. Assim acontece nas coisas naturais. Estas são imagens, embora fraquíssimas, que nos ajudam a perceber as realidades mais altas.
Na verdade, em um só instante, o Verbo de Deus rege todas as coisas ao mesmo tempo, de forma que cada ser realiza o que lhe é próprio e todos em conjunto perfazem uma só harmonia.
Por Santo Atanásio.Thu, 23 Jul 2020 - 187 - Não só salvos, mas santos
Por Gabriel de Santa Maria Madalena.
Jesus não se contentou em destruir o pecado e merecer apenas a graça suficiente para nos salvar. Fez muito mais por nós. E ele mesmo quis revelar isso, ao dizer: "Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância".
Essa plenitude de vida é a plenitude da graça e da vida sobrenatural, da qual brota a santidade.
A santidade não está reservada a um pequeno número de almas. O bom Jesus, com a sua Encarnação e Morte de cruz, mereceu os meios de salvação e, mais ainda, os meios de santificação, para todos os que acreditassem nele.
Ele, que é o Santo por excelência, veio para nos santificar e para nos ensinar: "Sede perfeitos, como também o vosso Pai celestial é perfeito". Jesus não propôs este programa de santidade a um grupo escolhido de pessoas, nem o reservou apenas aos seus Apóstolos ou aos seus íntimos, mas proclamou-o perante a multidão que o seguia. . São Paulo anunciou o mesmo aos gentios: "Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação".Wed, 22 Jul 2020 - 186 - A alegria na hora da morte daqueles que só desejam fazer a vontade de Deus
Os mundanos, em sua estupidez, julgam que os servos de Deus morrem tristes e descontentes como eles, mas se enganam. Deus sabe consolar seus filhos na última hora e faz com que eles experimentem certa delícia no meio das angústias da morte, um antegozo do paraíso.
Como aqueles que morrem em pecado, já em seu leito de morte sofrem penas infernais, remorsos, temor, desespero, assim os santos, já antes da morte, começam a gozar daquela paz, que será sua herança na eternidade, por meio de repetidos atos de amor e pelo desejo e esperança da breve posse de Deus. Para os santos, a morte é antes uma recompensa do que um castigo.
O Padre Suárez experimentou uma tal paz e sossego na sua última hora que exclamou ao morrer: "Nunca pensei que morrer fosse tão doce". Quando o Cardeal Fisher caminhava para a decaptação, revestiu-se com suas melhores vestes, dizendo que ia para o casamento. Ao avistar o instrumento de sua morte, atirou fora seu bastão, exclamando: "Andai ligeiro, pés meus, andai ligeiro, pois já não estamos muito longe do céu". Depois, cantou em agradecimento do martírio e, cheio de alegria, entregou sua cabeça à espada do carrasco.
O que mais consola uma pessoa que ama a Deus, ao ser anunciada sua morte, é o pensamento de que em breve estará livre de tantos perigos de ofender a Deus, de tantas inquietações de consciência, de tantas tentações do demônio. A vida presente é uma guerra contínua com o inferno, na qual toda hora corremos o perigo de perder a Deus e a nossa alma. Santo Ambrósio diz que na terra só caminhamos em cima de armadilhas, em que nossos inimigos tentam nos roubar a graça divina. Santa Teresa se sentia consolada todas as vezes que ouvia o relógio dar horas, visto ter passado mais uma hora de combate. Por esse mesmo motivo, alegravam-se os santos diante da notícia de sua morte próxima: nisso viam o fim de suas provações e perigos e o momento feliz da certeza de nunca mais perderem a Deus. "Alegrai-vos comigo, dizia ao morrer Santa Catarina de Sena, alegrai-vos comigo por deixar esta terra de tribulações e me dirigir à pátria da paz".
Com que ansiedade uma pessoa deseja sair de uma casa cujas paredes ameaçam desabar. Pois bem, aqui neste mundo uma desgraça horrível nos ameaça a toda hora: o mundo, o inferno, as paixões, nossos sentidos revoltosos, tudo nos quer induzir ao pecado e nos lançar na morte eterna. "Quem me livrará desse corpo de morte?", pergunta o Apóstolo Paulo.
Para uma alma, é um grande favor quando Deus a chama em estado de graça, tirando-a deste mundo, onde poderia mudar de atitude e perder a amizade divina. Todo aquele que aqui vive em união com Deus é feliz. Mas como um navio, na expressão de Santo Ambrósio, só está realmente seguro quando entrou no porto e escapou da tempestade, assim também uma alma só se poderá julgar feliz quando deixar esta vida em estado de graça. Se o navegante se julga feliz ao chegar ao destino de sua viagem, depois de superar grandes perigos, quanto mais feliz se julgará aquele que em poucos minutos se verá seguro, na posse de sua eterna felicidade.
Por Santo Afonso Maria de Ligório.Wed, 22 Jul 2020 - 185 - Os graus do amor divino
Por Santo Afonso Maria de Ligório.
A caridade é a rainha das virtudes. Todas as demais virtudes formam o seu cortejo.
Ninguém nos mostra melhor a excelência do amor de Deus do que São Paulo, quando diz: "Se eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, mas não tivesse a caridade, seria como o metal que soa, ou como o címbalo que retine. E se eu tivesse toda a fé, até ao ponto de transportar montanhas, e não tivesse caridade, eu nada seria. E se distribuísse todos os meus bens aos pobres, e se entregasse meu corpo para ser queimado, mas não tivesse caridade, nada disto me aproveitaria". Em seguida, ele dá as características da verdadeira caridade, e ao mesmo tempo indica quais são as virtudes que a caridade implanta nos corações: "A caridade é paciente, é bondosa. A caridade não é invejosa. Não age com leviandade, não se enche de orgulho, não é ambiciosa, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal. Não se alegra com a injustiça, e sim com a verdade. A caridade tudo sofre, tudo espera, tudo suporta".
Disso tudo, se deduz que a perfeição consiste no amor a Deus.
Note-se, porém, que o amor admite vários graus. O mais ínfimo grau de amor a Deus, segundo Santo Tomás, consiste em não preferir nem igualar criatura nenhuma ao Criador. Esse é o amor daqueles que observam os mandamentos de Deus, que obrigam debaixo de pecado mortal. O mais alto grau do amor consiste em se consumir no exercício ininterrupto da caridade, pela aplicação intensiva de todas as faculdades da alma. Mas não nos é dado alcançar esse grau aqui na terra: ele é prerrogativa do céu. O grau médio, consiste não só na subordinação de todas as inclinações do coração ao amor divino, mas também no aproveitamento das mesmas inclinações quando do exercício desse amor. Quem conseguir chegar a este ponto, cumprirá perfeita, fácil, e alegremente, o preceito do santo amor, em todas as suas obras. É esta a mais alta perfeição possível aqui na terra, e é possuída pela pessoa cuja vontade está tão sintonizada com a vontade de Deus, que se torna uma só vontade com ela.Tue, 21 Jul 2020 - 184 - Já não sou eu que obedeço, é Cristo que obedece em mim
Por Joseph Schrijvers.
É notável que Jesus, possuindo a liberdade mais perfeita, foi o mais obediente dos homens. Foi obediente desde o primeiro instante em que foi decretada sua Encarnação no conselho divino. Como dito na carta aos Hebreus, quando veio ao mundo ele disse: "Eis que venho, ó Deus, para fazer a tua vontade". Ele foi obediente até o último instante de sua vida terrestre.
Ele foi e será obediente até o último dia de sua vida eucarística.
Esta obediência de Jesus nada tem de acidental. É uma coisa desejada, premeditada, resolvida nos conselhos divinos. Não é uma coisa exterior, acessória. Antes, essa obediência penetra nele e é assimilada em sua substância, como o alimento é assimilado pelo corpo. "Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou".
Ele obedeceu ao seu divino Pai, para lhe ser agradável. Obedeceu à sua mãe e ao seu pai adotivo, aos seus inimigos, aos seus juízes, e algozes. E é bom notar que ele via neles o próprio Pai. Em todos, ele respeitava a autoridade do Pai.
Jesus obedece tanto nas coisas agradáveis quanto nas desagradáveis. Tanto na aceitação das homenagens e no amor que lhe testemunham, quanto nas injúrias, nos tormentos a que se sujeita, na morte que lhe infligem.
Esse mesmo Jesus quer continuar essa vida de perfeita obediência, agora dentro de tua alma. Tu és como que um prolongamento dele mesmo. Permite que ele liberte a tua alma, com uma obediência perfeita, da escravidão do inferno.
Que a tua obediência seja perfeita em seu objeto. Sujeita-te a todas as ordens, a todos os conselhos, a todas as preferências dos teus superiores legítimos, quaisquer que sejam a sua idade, caráter, conhecimento, prudência ou procedência. Aceita com amor a vontade divina expressa nos acontecimentos independentes de tua vontade. Aceita também, com o mesmo amor, a vontade divina que se insinua no caráter, no temperamento, nos defeitos ou qualidades de todos aqueles que estão em contato contigo.
Que a tua obediência seja perfeita também em sua causa. Não examines nem a qualidade, nem a intenção da pessoa autorizada, nem a conformidade da ordem recebida com o teu gosto, com tuas inclinações pessoais, nem as vantagens ou desvantagens que a obediência poderia acarretar para o teu amor-próprio. Em todas as coisas, vejas apenas a Deus. Pois ele é sempre a causa primeira que transmite seus desejos, os quais são sempre bons em si mesmos, sempre conformes à sua glória e favoráveis à tua perfeição, através das causas segundas, amigas ou inimigas, conscientes ou inconscientes.
Que a tua obediência seja, enfim, perfeita também na sua execução. Entra imediatamente na intenção da pessoa autorizada, na vontade dela. Coloca o teu coração na tua obediência, para aceitar de boa vontade a ordem recebida.
Associa-te em união com Jesus obediente, a fim de que ele possa ainda, através de ti, praticar a obediência no seu corpo místico, como ele a pratica na sua vida eucarística, como a praticou na sua vida mortal.
É evidente, qualquer um pode ver, que obedecer assim por amor a Jesus é ser inteiramente dele, é ser possuído por ele. E nisto consiste a perfeição.
Ó Jesus, eu quero vos permitir continuar em mim a vossa vida de obediência. Vosso jugo é suave e vosso fardo é leve. Dai-me um caráter constantemente doce e humilde, sempre brando, sempre dócil. Sempre pronto a auxiliar, a inclinar-se às exigências e aos desejos dos outros.Mon, 20 Jul 2020 - 183 - Amar a Deus é uma inclinação natural do homem
Por São Basílio Magno.
O amor a Deus não é assunto que precise ser ensinado. Ninguém precisou nos ensinar a nos alegrar com a luz, nem a desejar a vida, nem a amar os nossos pais. Da mesma maneira –ou melhor, com muito mais razão-, não é a influência exterior que nos faz amar a Deus. A capacidade e a inclinação para amar já são postas no homem quando ele é criado. Logo que entra na escola dos divinos preceitos, o homem toma conhecimento dessa inclinação, apressando-se em cultivá-la com ardor, nutri-la com sabedoria e levá-la à perfeição, com o auxílio de Deus.
Nós já recebemos do Espírito Santo a força e a capacidade para pôr em prática todos os mandamentos que Deus nos deu. Por isso não nos aflijamos como se nos fosse exigido algo de incomum, nem nos tornemos vaidosos pensando que damos mais do que havíamos recebido. Se usarmos bem destas forças, levaremos uma vida virtuosa; no entanto, mal empregadas, cairemos no pecado.
E o que é o pecado? Ele é o uso mau, o uso contrário à vontade de Deus daquilo que ele nos deu para o bem. Pelo contrário, a virtude, como Deus a quer, é o desenvolvimento destas faculdades que brotam da consciência reta, segundo o preceito do Senhor.
O mesmo diremos da caridade. Ao recebermos o mandamento de amar a Deus, já possuímos capacidade de amar, plantada em nós desde a primeira criação. Não há necessidade de comprovações exteriores: cada qual por si e em si mesmo pode descobri-la. De fato, nós desejamos naturalmente, as coisas boas e belas, embora, à primeira vista, algumas pareçam boas e belas a uns e não a outros. Amamos também nossos parentes e amigos, sem ser necessário que alguém nos ensine; e temos espontaneamente grande amizade por nossos benfeitores.
Então eu pergunto. O que haverá de mais admirável do que a beleza divina? Que coisa pode haver mais suave e deliciosa do que a meditação da magnificência de Deus? Que desejo será mais veemente e violento do que aquele inserido por Deus na alma liberta de toda impureza e que lhe faz dizer do fundo do coração: Estou ferida de amor? Na verdade, o fulgor da beleza de Deus é totalmente indescritível.Thu, 16 Jul 2020 - 182 - Somos chamados a participar da sublime vida de amor que é Deus
Por Gabriel de Santa Maria Madalena.
"Sede perfeitos, como também vosso Pai do céu é perfeito", disse o Senhor. Para imitar a Deus é necessário saber quem é Deus e qual a Sua máxima perfeição. E isto a Sagrada Escritura nos revela: Deus é caridade. A Escritura não diz que em Deus existe caridade, mas sim que Deus caridade é. Ou seja, tudo o que há em Deus é amor, Deus é essencialmente amor. O amor, mesmo o amor humano, é uma «vontade que tende para o bem»; amar é «querer bem», é o ato pelo qual a vontade se inclina para o bem.
Como Deus é o Ser infinito, então o Seu amor é uma vontade também infinita, que tende para o bem infinito. Ora, e qual é o bem infinito? É o próprio Deus. É por isso que Deus é infinitamente feliz, porque se possui a Si mesmo, satisfazendo infinitamente a sua vontade infinita de bem infinito. Este amor, que é Deus, é pois um amor infinito de complacência no Seu Bem infinito.
Além disso, o Seu abraço se estende às criaturas que Ele criou, a fim de lhes comunicar esse Seu Bem, a Sua felicidade. Por isso, a caridade infinita, que é Deus, também se derrama sobre as criaturas, chamando-as à existência em um ato de amor, não para se deter no bem limitado que está nelas, mas para as levar ao Bem infinito, para as conduzir à Trindade. Ou seja, Deus cria suas criaturas para a Sua glória. Assim nós, pobres criaturas, somos chamados a participar desta sublime vida de amor que é Deus. E é precisamente para isso que a graça nos foi concedida. São Paulo nos exorta, dizendo: "Sêde imitadores de Deus como filhos muito amados; e andai no amor". Semelhantemente ao que acontece em Deus, a nossa vida sobrenatural deve ser essencialmente amor, ou seja, desejo do bem, amor de benevolência para com Deus, amando este Bem infinito, e amando todas as criaturas por causa dele.Wed, 15 Jul 2020 - 181 - A única coisa necessária é amar a Deus e cumprir a sua santa vontade
Por Santo Afonso Maria de Ligório.
A virtude da Caridade nos leva à união com Deus.
Além disso, nos dá a força para praticar e sofrer tudo por Ele. Para um grande amor, não há nada que seja difícil, pois onde existe amor não há coisa penosa. Ouçamos o que diz São João Crisóstomo, a respeito dos efeitos produzidos na alma pelo amor divino. "Quando o amor divino tomou posse de uma alma, ele aguça nela um desejo insaciável de trabalhar pelo Amado. E mesmo que tenha praticado muitas ê grandes obras, mesmo que já por muito tempo se tenha consagrado ao serviço de Deus, tudo lhe parecerá pouco, tudo lhe parecerá nada. A alma lamentará por ter feito tão pouco por Deus, e se julgaria feliz se lhe fosse permitido poder morrer e se consumir inteiramente por Ele. Ela se tem em conta de inútil, mesmo praticando tudo o que está ao seu alcance, visto que o amor lhe mostra o que Deus merece. Ao brilho dessa luz, conhece a imperfeição de suas obras, e nelas só encontra motivos de dor e confusão, considerando insignificante tudo o que faz por um Senhor tão grande".
Óh, se todos os homens compreendêssem essa grande verdade, que o Senhor Jesus disse: "Uma só coisa é necessária". Não é necessário possuir riquezas, ser valorizado aos olhos do mundo, levar uma vida agradável, ocupar cargos de destaque, ser famoso. A única coisa necessária é amar a Deus, e cumprir a sua santa vontade. Foi apenas para isso que nós fomos criados, e é só para isso que Deus conserva a nossa vida. Só sob esta condição poderemos alcançar a nosssa salvação, a santidade, e o céu. A cada alma que deseja se unir a Ele, o Senhor dirige estas palavras: "Me imprime como um carimbo sobre o teu coração, uma marca sobre teu braço", para que a mim dirijas todas as tuas ações e desejos. Sobre o teu coração, para que nenhum outro amor, além do meu, se apodére dele. Sobre o teu braço, para que em todas as tuas ações tu não tenhas nenhum outro objetivo além de mim.
Óh, como se chega brevemente à perfeição, quando em todas as ações se tem como alvo a Jesus, e só a ele se procura agradar!Tue, 14 Jul 2020 - 180 - Quanto mais dóceis a Deus, mais livres somos
Por Joseph Schrijvers.
Quanto mais o homem se julga livre, tanto mais obedece sem saber. Ele obedece à opinião, aos costumes, às ideias predominantes, a suas paixões, às suas necessidades reais ou fictícias, à sua imaginação e aos seus caprichos. Todo homem, queira ou não, é sugestionado pelos livros que lê, pelas críticas ou elogios que ouve. Assim, a maior parte dos homens, julgando-se livres, não passam de escravos.
Se houvesse alguém que não fosse influenciado nas suas ideias, nos seus desejos e nos seus atos, senão apenas por Deus, esse alguém teria reconquistado a verdadeira liberdade.
Se tu permitisses a Cristo, que vive em ti, de se apoderar inteiramente da tua vontade, tu serias completamente livre, tão livre como o próprio Deus. É esse o trabalho de liberdade que o divino Mestre procura realizar em ti.
Com o seu auxílio e à custa de amor, tua alma deve escapar de todas as cadeias que o pecado, o mundo e tuas paixões forjaram para tua condenação.
Essas cadeias são tão numerosas e às vezes tão leves e imperceptíveis, que julgas ser completamente livre em plena escravidão.
Sem Cristo Jesus, tudo são trevas e erros.
Livre, é aquele que obedece a Deus. Perfeitamente livre, é aquele que lhe obedece em todas as coisas. Se alguém obedecesse em tudo, exceto em um pequeno ponto apenas, recairia sob a obediência de outra criatura, porque o homem é essencialmente um ser dependente.
Portanto, permite que Jesus estabeleça em ti o seu reino perfeito e indiscutível. Para isso, sê dócil às suas ordens e às ordens de seus representantes. Sê, portanto, obediente.Mon, 13 Jul 2020 - 179 - Eis que estou à porta e bato
Por Santo Ambrósio.
Disse o Senhor: Se alguém me ama, guardará a minha palavra. E meu Pai o amará, e viremos a ele, e nele faremos a nossa morada. . .
Então, libera a tua porta para aquele que vem. Abre a tua alma, alarga o íntimo da tua mente para que tu vejas as riquezas da simplicidade, os tesouros da paz, a doçura da graça. . Alarga o coração e corre ao encontro do sol, da eterna luz, aquela luz que ilumina todo homem. Esta luz verdadeira brilha para todos. Mas, se alguém fecha as janelas, priva-se da eterna luz. Assim também Cristo é repelido se fechas a porta de teu espírito. Embora possa entrar, ele não é importuno, não quer entrar à força. Recusa-se a usar de coação!
Nascido da Virgem, ele saiu do seio, irradiando luz sobre o mundo inteiro, refulgindo para todos. Os que desejam, acolhem a claridde inextinguível que noite alguma pode interromper. . . Depois da luz do sol, sempre vem a escuridão da noite. Mas o sol de justiça jamais se põe, porque depois da sabedoria não vem a maldade. . .
Feliz a pessoa a quem Jesus vem bater na porta. . Nossa porta é a fé. Quando a fé é sólida, defende a casa toda. Por essa porta Cristo entra. Daí dizer a Igreja no Cântico dos Cânticos: a voz de meu irmão bate na porta. Escuta aquele que bate, escuta aquele que deseja entrar: abre para mim, minha irmã, minha esposa, minha pomba, minha perfeita, porque tenho a cabeça coberta de orvalho.
Note bem. O Senhor bate na porta principalmente quando sua cabeça está coberta de orvalho noturno. Ele aceita visitar os atribulados e tentados, para que não sucumbam às amarguras. A cabeça cobre-se de orvalho quando o corpo sofre. Importa, portanto, vigiar para não ficar excluído quando o Esposo chegar. Se tu dormes e o teu coração não vigia, ele se afasta antes mesmo de bater. Se o teu coração está vigilante, ele bate e pede para que abras a porta.
Se quiseres levantar os portais de tua fé, o Rei da glória entrará em ti, trazendo a vitória de sua paixão. Abre, então, para ele. Ele quer entrar, quer encontrar a Esposa vigilante.Thu, 09 Jul 2020 - 178 - A santidade não consiste na grandeza das obras, mas no capital de amor e de graça que a alma acumula
Por Gabriel de Santa Maria Madalena.
É necessário que a vida sobrenatural, que brota da graça, penetre toda a nossa vida humana, para que ela fique sobrenaturalizada em todas as suas atividades, em todos os seus pormenores, e em todo o seu conjunto. À medida em que a graça cresce e frutifica na nossa alma, ela exerce um influxo cada vez mais amplo e mais profundo; e quando este influxo se estender efetivamente a toda a nossa atividade, orientando-a toda para glória de Deus e unindo-nos totalmente a Ele, por meio da caridade, então teremos chegado à plenitude da vida cristã, à santidade.
A graça é um dom totalmente gratuito que Deus nos concedeu pelos méritos infinitos de Cristo. Jesus, morrendo na cruz, nos mereceu a graça, não em uma medida limitada mas numa medida superabundante. Como diz São João, Ele está "cheio de graça... e todos nós participamos da sua plenitude, graça sobre graça".
Precisamente por este motivo, todos podemos ser santos. O que não significa, no entanto, que todos sejamos chamados ao mesmo grau e à mesma forma de santidade. Junto dos santos chamados de "grandes", aqueles que tiveram uma grande missão a cumprir e receberam para isso dons especiais de natureza e de graça, encontraremos sempre outros santos mais humildes, mais escondidos, que se santificaram na sombra e no silêncio. A santidade não consiste na grandeza das obras realizadas ou dos dons recebidos, mas no capital de amor e de graça que a alma acumula, correspondendo fielmente aos convites divinos. A uma tal santidade também eu posso aspirar, sem receio algum de temeridade ou ilusão.Wed, 08 Jul 2020 - 177 - A santidade consiste na caridade para com Deus
Por Santo Afonso Maria de Ligório.
Toda a santidade, toda a perfeição de nossa alma consiste em amar a Jesus Cristo, nosso Deus, nosso Sumo Bem e Salvador.
Como diz São Francisco de Sales, uns acreditam que a perfeição consiste em obras de mortificação, outros pensam que consiste na oração, uns pensam que consiste na recepção frequente dos Santos Sacramentos, outros em dar esmolas. Todos eles se enganam. Toda a nossa perfeição consiste em amar a Deus de todo o nosso coração. Essa é a razão pela qual o Apóstolo Paulo recomenda, de modo especial, a caridade, e a chama de vínculo da perfeição. Pois a caridade abrange e sustenta todas as outras virtudes que aperfeiçoam o homem. É esse, igualmente, o motivo da frase de Santo Agostinho: "Ama a Deus, e faze o que quiseres". Pois, desde que uma alma ama a Deus, levada por esse amor, evitará tudo o que o desagrada, e fará tudo o que satisfaz a esse amável Salvador.
A caridade é um grande e precioso bem, diz São Bernardo. A caridade para com Deus, segundo Santo Tomás de Aquino, é a rainha das virtudes. Todas as outras virtudes a acompanham. A caridade para com Deus utiliza as outras virtudes para nos unir mais intimamente com Deus. No entanto, a união formal de nossa alma com Deus é operada pela própria caridade, segundo as palavras de São Bernardo: "A caridade é uma virtude que une o homem a Deus".
Repetidas vezes, a Sagrada Escritura atesta que Deus ama aqueles que o amam, e que Ele permanece nessas pessoas, e essas pessoas permanecem nele. Disse Jesus: "Se alguém me ama, meu Pai o amará, e viremos até ele, e estabeleceremos nossa morada nele". E São João afirma: "Deus é caridade. E quem permanece na caridade, permanece em Deus, e Deus permanece nele". Essa é a maravilhosa união efetuada pelo amor. Ele une nossa alma com Deus, que é a perfeição infinita.Tue, 07 Jul 2020 - 176 - Para ir longe na santidade: não ter nenhuma autoconfiança
Por Joseph Schrijvers.
Para avançar rapidamente no caminho da santidade, conta mais com a paciência do que com a precipitação. O caminho da santidade é longo, vai do berço ao túmulo. A precipitação não encurta o caminho. Ao contrário, ela provoca o cansaço e o desânimo. Com certeza, haverá de chegar à santidade todo aquele que, após cada falta, se levanta calmamente e continua seu caminho.
Quanto mais a alma economiza suas forças, modera seus ímpetos e contém seu ardor, tanto mais longe vai chegar.
A pessoa precipitada, ao contrário, se esgota, se enfraquece e tomba sem forças para continuar o caminho. Confiou demais em si mesma.
Portanto, tem uma vontade sempre vigorosa, mas jamais apressada. Um espírito sempre alerta, jamais preocupado. Um coração sempre corajoso, jamais agitado.
Fica convencido de que, na vida espiritual, Deus leva mais em consideração a imensidade dos teus desejos do que a perfeição das tuas obras. Esforça-te em executar os teus bons desejos, age como se tudo dependesse unicamente de ti, depois considera, sem nenhuma tristeza, que tu não fizeste nada demais.
O homem é especialista em desejar e Deus considera o desejo sincero como se já fosse realizado.
Imagina grandes ideais, mas confia a sua execução a Jesus. Se forem para a glória dele, Ele os executará através de ti ou através de outras pessoas mais fracas do que tu.
Deus não tem necessidade das tuas obras. Ele quer apenas que tenhas a disposição sincera para executar aquilo que te designou.
Se Ele quiser criaturas para levar adiante grandes empreendimentos, saberá formá-las. Irá buscá-las entre aquelas que não se apóiam na própria força, habilidade ou mérito.
E agora, minha alma, rejeita toda confiança em ti mesma. Ama a Jesus, oculta-te em Seu coração, encarrega-o de fazer de ti uma grande santa. Ele te fará certamente.Mon, 06 Jul 2020 - 175 - Curarei os seus tormentos
Por Teodoro de Ciro.
Com liberdade, vai Jesus ao encontro dos sofrimentos preditos a seu respeito. Por várias vezes os anunciou aos discípulos, tendo mesmo repreendido a Pedro que recusava o anúncio da paixão, e declarou que por eles se daria a salvação do mundo. Por isso apresentou-se aos que tinham vindo buscá-lo, dizendo: Eu sou aquele a quem procurais. Acusado, não respondeu. Podendo esconder-se, não o quis. Chora sobre Jerusalém, que pela incredulidade atraía para si a ruína e prediz a suprema destruição do templo, outrora famoso. Com toda a paciência, suporta ser batido na cabeça por homem duplamente escravo, pois escravo do Império e escravo do pecado. Esbofeteado, cuspido, injuriado, atormentado, flagelado e por fim crucificado e dado por companheiro de suplícios a dois ladrões, contado entre os homicidas e perversos. Bebe o vinagre e o fel produzidos pela má videira, coroado de espinhos em lugar de louros e cachos de uva. Escarnecido com a púrpura, batido com a cana, ferido o lado pela lança e enfim levado ao sepulcro.
Tudo isto sofreu enquanto operava nossa salvação. Pois os castigos do pecado eram devidos para aqueles que se haviam escravizado ao pecado. Ele, isento de todo pecado, tendo cumprido toda a justiça, suportou a pena dos pecadores, destruindo por sua cruz o antigo decreto de maldição. Cristo, assim diz Paulo, nos remiu da maldição da lei, feito maldição por nós; por que está escrito: Maldito todo aquele que pende do madeiro. Com a coroa de espinhos, põe fim ao castigo de Adão. Pois, após o pecado, Adão tinha ouvido: germinarão para ti espinhos.
Com o fel, Jesus bebeu a amargura e a dor da vida humana passível e mortal. Pelo vinagre, assumiu em si a mudança do ser humano para o pior e concedeu a volta ao melhor. A púrpura significava o reino do demônio; a cana significava o seu frágil poder. O som da bofetada anunciava nossa liberdade, tolerando as injúrias, flagelos, e chagas a nós devidas.
O lado aberto, à semelhança de Adão, deixa sair não a mulher que, por seu erro, gerou a morte, mas deixa sair, isso sim, a fonte de vida, que com dupla torrente vivifica o mundo. Uma, no batistério, nos renova e cobre com a veste imortal; outra, na mesa divina, alimenta os renascidos, como o leite alimenta os pequeninos.Fri, 03 Jul 2020 - 174 - Procura em teu coração aquilo que agrada a Deus, para ofertá-lo em sacrifício
Por Santo Agostinho.
Diz o rei Davi, no Salmo 50. Eu admito todo o meu pecado. Se eu o admito, perdoa-me Senhor!
Mesmo procurando viver bem, de jeito nenhum tenhamos a presunção de estarmos sem pecado. Valorizemos a possibilidade de pedir perdão. Os homens sem esperança, quanto menos prestam atenção aos próprios pecados, mais espreitam os pecados alheios com curiosidade. Procuram não o que corrigir, mas o que morder. Não podendo se desculpar, estão prontos para acusar. Não foi este o exemplo de Davi. Ao contrário, ele disse: Eu admito toda a minha iniquidade, o meu pecado está sempre diante de mim. Davi não estava atento aos pecados alheios. Ele caía em si mesmo, não se desculpava, entrava dentro do próprio coração e descia cada vez mais profundamente. Não se poupava, e por isso podia pedir perdão com confiança.
Queres reconciliar-te com Deus? Presta atenção ao modo como tu procedes contigo mesmo, para que Deus te seja favorável. O Salmo diz: o meu sacrifício é minha alma penitente, Deus não despreza o coração contrito e humilhado. Ele não quer sacrifícios rituais. Tu não precisas comprar animais, não precisas ir aos mercados, não precisas ir a regiões longínquas em busca de perfumes. Tu já tens o que oferecer. Procura em teu coração aquilo de que Deus gosta.
O coração deve ser esmagado. Não precisas ter medo de morrer se o teu coração for esmagado. Porque no mesmo salmo podemos ler: criai em mim um coração que seja puro. Sim, para que seja criado o coração puro, esmague-se o impuro.
Sintamos rejeição por nós mesmos quando pecamos, porque os pecados causam repugnância a Deus. Já que não estamos sem pecado, ao menos nisto sejamos semelhantes a Deus: o que lhe desagrada, desagrade também a nós. Em parte, tu te unes à vontade de Deus quando rejeitas em ti mesmo aquilo que teu Criador detesta.Thu, 02 Jul 2020 - 173 - A graça depositada em nós pelo Batismo é uma participação na vida divina
Por Gabriel de Santa Maria Madalena.
Se Jesus veio para nos santificar a "todos", se a vontade de Deus é que "todos" sejam santos, então a santidade não poderá consistir em dons extraordinários. Ao contrário, a santidade deve consistir em algo que todas as almas de boa vontade, ainda as mais humildes e simples, possam alcançar, amparadas com o auxílio divino.
A santidade é a perfeição da vida cristã. Consiste no pleno desenvolvimento, em nós, da vida sobrenatural, cujos princípios são: a graça santificante, as virtudes infusas e os dons do Espírito Santo. O batismo depositou em nós esta semente de santidade, que é a graça, semente capaz de se converter em frutos preciosos de vida sobrenatural, para a alma que procura o seu desenvolvimento com empenho. A graça, elevando-nos ao estado sobrenatural, torna-nos capazes de entrar em relações com a Santíssima Trindade, quer dizer, de conhecer e amar a Deus como Ele é em Si mesmo, e como Ele Se conhece e Se ama. É, portanto, uma nova vida de conhecimento e de amor que a graça gera e alimenta em nós, vida que é uma participação na vida divina.
E o que haverá de mais santo e mais santificante do que estas relações íntimas com a Santíssima Trindade? A tais alturas nos eleva a graça, dom concedido a todos os batizados.Wed, 01 Jul 2020 - 172 - Será enorme a santidade daquele que fizer em tudo a vontade de Deus
Por Vital Lehodey.
A vontade de Deus é a regra suprema do bem, a única medida do justo e do perfeito. O grau de seu cumprimento é também o grau do nosso progresso.
Se queres entrar na vida, guarda os mandamentos. Para ser admitido no reino dos céus, não basta reconhecer a Deus apenas com os lábios. É necessário fazer a vontade de nosso Pai, que está nos céus. Aquele que mantém sua vontade unida à vontade de Deus, vive e se salva. Quem se aparta dela, morre e se perde.
Se queres subir ao máximo da perfeição, cumpre a vontade de Deus, cada dia mais e melhor. Tu subirás, na medida em que tua obediência se torne mais universal em seu objetivo, mais exata em sua execução, mais sobrenatural em seus motivos, mais perfeita nas disposições da tua vontade. Consulta os livros santos, examina a vida e a doutrina de Nosso Senhor, e verás que não se pede nada mais que a fé, que se afirma com as obras, e o amor, que guarda fielmente a palavra de Deus. Seremos perfeitos na medida em que fizermos a vontade de Deus.
Santa Tereza de Jesus diz: toda a pretensão de quem se põe a orar deve ser a de trabalhar, e se determinar, e se dispor com a máxima diligência, para que sua vontade se identifique com a vontade de Deus. Nisso consiste toda a maior perfeição, todo o nosso bem.
Não há nada tão bom e tão perfeito como a vontade de Deus. Assim, quanto mais ajustarmos a nossa vontade com a vontade dele, mais santos e mais virtuosos seremos.Tue, 30 Jun 2020 - 171 - Deus nos adota como filhos através da graça santificante
Por Antônio Royo Marin.
A rigor, não se pode dizer que Deus seja Pai das criaturas, na ordem puramente natural. É verdade que todas saíram de suas mãos, e isso constitui Deus como o autor e o criador de todas elas, mas de modo algum o torna seu Pai. O artista que esculpe uma estátua é o autor da obra, mas não o seu pai. Para ser pai, é preciso transmitir a própria natureza específica ao outro ser vivente da mesma espécie.
Por isso, para que Deus fosse, além de nosso Criador, também nosso Pai, era necessário que nos transmitisse sua própria natureza divina. Em toda a sua plenitude, como é o caso de Jesus, ou por participação, que é o nosso caso. A graça santificante nos confere uma participação, misteriosa mas muito real e verdadeira, na própria natureza divina. Em razão disso, nossa alma justificada se torna verdadeiramente filha de Deus, por uma adoção intrínseca, muito superior às adoções humanas, que são puramente jurídicas e extrínsecas. A partir desse momento, Deus começa a estar na alma como Pai e a vê-la como verdadeira filha sua. A presença de Deus na alma de quem recebeu a graça santificante, por sua vez, é própria e exclusiva dos filhos de Deus.Mon, 29 Jun 2020 - 170 - Preservai-vos puros do mal e imaculados para o dia do Senhor
Assim como trouxemos a imagem do homem terrestre, levemos também a imagem daquele que vem do céu. Agindo assim, diletíssimos, já não mais morreremos. Mesmo que nosso corpo se desfaça, viveremos em Cristo, conforme ele mesmo disse: quem crer em mim, mesmo que esteja morto, viverá.
Pelo testemunho do Senhor estamos certos de que Abraão, Isaac, Jacó e todos os santos de Deus estão vivos. Todos para ele vivem; Deus é Deus dos vivos, não dos mortos. E o Apóstolo Paulo fala de si mesmo: Para mim, viver é Cristo e morrer é lucro; desejo dissolver-me e estar com Cristo. Diz ele também: quanto a nós, enquanto estamos neste corpo, peregrinamos longe do Senhor. Pois caminhamos pela fé, não pela visão. É isto o que cremos, irmãos caríssimos. De resto: se apenas para este século temos esperança, somos os mais deploráveis de todos os homens. Como se pode ver, a vida no mundo é a mesma para nós e para os animais. A vida deles pode até ser mais longa do que a nossa. Mas o que é próprio do homem, que Cristo deu por seu Espírito, é a vida perpétua, desde que não pequemos mais. Porque a morte se encontra na culpa e é evitada pela virtude. Do mesmo modo, o mal faz perder a vida, ê a virtude a sustenta. Salário do pecado é a morte; dom de Deus é a vida eterna por Jesus Cristo, nosso Senhor.
Assim fala o Apóstolo: é ele quem nos redime, perdoando-nos todo o pecado, destruindo a certidão da desobediência lavrada contra nós; arrancou essa certidão do meio de nós, pregando-a na cruz. Despindo a carne, rebaixou as potestades, triunfando livremente delas em si mesmo. Libertou os acorrentados, rompeu nossas cadeias, como Davi tinha dito: o Senhor levanta os caídos, o Senhor liberta os cativos, o Senhor ilumina os cegos. E ainda: rompeste minhas cadeias, sacrificar-te-êi uma hóstia de louvor. Libertados das cadeias, rapidamente nos reunimos, pelo sacramento do batismo, livres pelo sangue e pelo nome de Cristo.
Por conseguinte, queridos, somos lavados de uma vez, libertados de uma vez, de uma vez acolhidos no reino imortal. De uma vez para sempre são felizes aqueles aos quais os pecados foram perdoados e cobertas as culpas. Segurai com força o que recebestes, guardai-o bem, não pequeis mais. Preservai-vos puros do mal e imaculados para o dia do Senhor.
Por São Paciano.Thu, 25 Jun 2020 - 169 - Deixar Deus nos guiar é garantia de felicidade
Por Vital Lehodey.
Se Deus trabalha juntamente conosco na nossa santificação, é justo que Ele tome a direção da obra. Nada se deverá fazer que não seja conforme os seus planos, sob suas ordens e por impulso de sua graça. Ele é o primeiro princípio e também o fim último. Nós nascemos para obedecer às suas determinações.
Essa contínua dependência de Deus nos forçará a inúmeros atos de abnegação e, não poucas vezes, teremos que sacrificar nosso olhar limitado e nossos desejos caprichosos, com as consequentes queixas de nossa natureza. Não escutemos essas queixas.
Não poderíamos querer um destino melhor do que ter a própria sabedoria de Deus como nossa guia, nem maior felicidade do que ter por nosso auxílio a divina onipotência. Não poderia haver sorte maior do que sermos sócios de Deus na obra de nossa salvação, ainda mais tendo em conta que tal empreendimento só visa ao nosso proveito pessoal. Deus nada mais exige para si, a não ser a sua glória e o direito de nos fazer o bem, deixando todas as vantagens apenas para nós mesmos. Ele aperfeiçoa a natureza, nos eleva a uma vida superior, persegue o melhor para nós, busca a nossa bem-aventurança.
Ah, se compreendêssemos os desígnios de Deus e nossos verdadeiros interesses! Com certeza, não teríamos outro desejo, senão lhe obedecer com todo cuidado. E só teríamos um único medo: o de não lhe obedecer o bastante. Nós lhe suplicaríamos com insistência para só fazer sua vontade, e nunca a nossa.
Abandonar sua sábia e poderosa mão, para seguir nossas pobres luzes e viver à mercê de nossa fantasia, é verdadeira loucura e supremo infortúnio.Wed, 24 Jun 2020 - 168 - O que significa ser santos?
Por Columba Marmión.
Deus nos escolheu para sermos santos e imaculados em sua presença. Ele deseja, com uma vontade infinita, que sejamos santos. Ele também é santo, e concentrou toda a glória que espera receber de nós e toda alegria com que deseja nos saciar, justamente nessa nossa santificação.
Mas o que é ser santo? Para respondermos a essa pergunta, devemos olhar para Deus, pois só Ele é santo por essência. Melhor ainda, ele é a própria santidade.
Deus sabe que ele é toda a perfeição, o único ser necessário. Por isso, Deus refere tudo a si mesmo e à sua própria glória. Amando-se de uma maneira necessária, com infinita perfeição, Deus quer, necessariamente, que toda criatura exista para a manifestação de sua glória. Portanto, quanto maior for a nossa dependência de amor com relação a Deus e quanto maior for a adequação da nossa vontade livre ao nosso fim último, que é a manifestação da glória de Deus, mais unidos estaremos a Ele. Isso só pode ser feito através do desprendimento de tudo aquilo que não é Deus. Quanto mais essa dependência, essa adequação, essa adesão, esse desprendimento, forem firmes e estáveis, mais elevada será a nossa santidade.
Nesse sentido, Santo Tomás de Aquino mostra que são dois os elementos necessários da santidade em nós. A pureza, e a estabilidade. A pureza, que significa afastamento de todo pecado, de toda imperfeição, desprendimento de toda criatura, de tudo o que não é Deus. E a estabilidade, que é a firmeza da nossa vontade, a fidelidade na adesão ao Deus imutável.Tue, 23 Jun 2020 - 167 - A vontade de Deus é nossa mãe
Por São João Eudes.
Meus queridos irmãos, de todo o coração eu vos abraço, nas entranhas de Cristo. Já estamos em 9 de julho e creio que não poderei sair de Paris em menos de 15 dias. Perco assim a esperança de vos ver. Eu vos asseguro que essa mortificação é uma das maiores que eu experimentei desde muito tempo.
A vontade adorável de Deus, que é nossa mãe, ordenou essa separação. Seja sempre bendita! Eu a chamo de nossa amada mãe, porque dela recebemos o ser e a vida, tanto na ordem da natureza quanto na ordem da graça. Ela nos deve governar e de nossa parte devemos lhe obedecer e nos abandonarmos à sua direção com imensa confiança, pois tem um amor maternal para conosco. Eu vos suplico, meus amadíssimos irmãos, que olhemos para a vontade de Deus, que a honremos e que a amemos, como nossa muito amável mãe, e que ponhamos nossa principal devoção em nos aferrar fortemente a ela, de espírito e de coração, para a seguir fielmente em tudo e para obedecer a todas as suas ordens, com coração grande e ânimo valente. Ponhamos nisso toda a nossa glória e nossa alegria, e tenhamos tudo o demais por pura loucura.
Queira Deus nos conceder tantas graças, que possamos dizer verdadeiramente: nada podemos contra a vontade de Deus, mas sim a favor da vontade de Deus. Nada podemos, quer dizer, não podemos nem pensar, nem dizer, nem fazer coisa alguma contra a divina vontade, mas somos fortes e poderosos para lhe obedecer em tudo.
Mas quando chamo a vontade divina de nossa mãe, isso não impede que a Santíssima Virgem seja também nossa Mãe. Porque a divina vontade a cumula, a possui e a anima de tal maneira, que se torna como sua alma, seu espírito, seu coração e sua vida, de tal forma que a Virgem e a vontade de Deus são uma mesma coisa, se é possível falar assim. Desse modo, a muito preciosa Virgem é nossa Mãe e a divina vontade o é também. No entanto, não se trata de duas mães, mas de uma só, a qual me entrego e me abandono de todo o meu coração, com meus queridos irmãos, a fim de que viva e reine em nós, e que cumpra todos os seus desígnios, segundo a sua maneira e não a nossa, agora e para sempre.Mon, 22 Jun 2020 - 166 - O Coração de Jesus é uma fornalha de amor ardentíssimo por sua santíssima Mãe
Por São João Eudes.
As maravilhosas e inconcebíveis graças, com as quais nosso Salvador encheu completamente sua Bem-Aventurada Mãe, tornam evidente o seu amor sem limites nem medidas por Ela.
Ela constitui o primeiro e o mais digno alvo de amor de Jesus, depois de seu Pai, posto que a ama infinitamente mais que a todos os anjos, santos e criaturas juntos.
Os extraordinários favores com que a honrou e os maravilhosos privilégios com que a distinguiu de todas as criaturas são provas dessa verdade.
Só ela alimentou e deu a vida, para aquele que é a Vida eterna, para aquele que dá a vida a todo vivente.
Somente ela, em companhia de São José, viveu continuamente por trinta e quatro anos, com o adorável Salvador. Que coisa admirável! O divino Redentor veio à terra para salvar os homens e, no entanto, não lhes concedeu mais do que três anos e três meses de sua vida para os instruir. Mas empregou mais de trinta anos com sua santa Mãe, para santificá-la mais e mais. Que torrentes de graças e bênçãos ele não derramou incessantemente durante aquele tempo na alma da bem-aventurada Mãe, que tão bem disposta estava para recebê-las? Com que incêndios e celestiais labaredas o divino Coração de Jesus, fornalha de amor ardentíssimo, não abrasou o coração virginal de sua digníssima Mãe?
Recordemos a união estreitíssima entre os dois, quando ela o levou em suas entranhas, e quando o alimentava com seu sagrado leite; quando o levava em seus braços e quando o apertava em seu peito; quando viveu em íntima familiaridade com Ele, bebendo, comendo e rezando a Deus com Ele; e quando escutava suas divinas palavras, palavras essas que, como brasas acesas, inflamavam mais e mais o santíssimo coração da Mãe, no fogo sagrado do divino amor.Wed, 17 Jun 2020 - 165 - O Coração de Jesus é uma fornalha de amor ardentíssimo por seu Eterno Pai
Por São João Eudes.
Nós temos infinitas razões para tributar nossas adorações e nossas homenagens ao divino Coração de Jesus, com devoção e respeito extraordinários. Todas essas razões estão incluídas nas palavras de São Bernardino: "Fornalha de ardentíssima caridade, para inflamar e incendiar todo o universo".
Certamente, esse admirável Coração de Jesus é uma fornalha de amor por seu divino Pai, por sua santíssima Mãe, por sua Igreja e por cada um de nós em particular.
Que inteligência poderia conceber e que língua poderia expressar a menor centelha desse amor infinito que abrasa o Coração de Jesus pelo seu Pai?
É um Filho infinitamente amante, que ama a um Pai infinitamente amável. É Deus que ama Deus! Amor essencial, que ama o amor eterno. Amor imenso, incompreensível, infinitas vezes infinito, que ama um amor imenso, incompreensível, infinitas vezes infinito!
Tanto se olharmos esse coração como homem, quanto se o olharmos como Deus, veremos que o Coração de Jesus arde em amor pelo seu Pai e o ama infinitamente mais, em cada segundo, do que todos os anjos e todos os homens juntos em toda a eternidade.
E, como não há maior amor do que dar a vida pelo amado, o Filho de Deus ama tanto ao seu Pai que por Ele sacrificaria sua vida, como fez na cruz, e com os mesmos tormentos. E, sendo tão imenso esse amor, entregaria sua vida entre dores pelo mundo, como já a entregou no Calvário. E, sendo eterno, sacrificaria sua vida eternamente e com eternas dores. E, sendo infinito, estaria disposto a fazer esse sacrifício infinitas vezes, se fosse possível, e com infinitos sofrimentos.
E este Filho eterno muito amado, em um transbordamento de sua incomparável bondade, quis ser nossa cabeça e quis nos tornar seus membros. Assim, Ele nos associou no amor que professa ao Pai. E nos deu o poder de amar ao Pai com esse mesmo amor, ou seja, com um amor de certo modo eterno, imenso e infinito.
Sendo eterno esse amor de Jesus por seu Pai, ele não passa, mas subsiste eternamente e é sempre estável e permanente. . Sendo imenso, esse amor preenche todas as coisas por sua imensidão, inclusive está em nós mesmos e no nosso coração, mais íntimo do que nosso íntimo. E como o Pai nos deu todas as coisas ao nos dar seu Filho, esse amor do Filho de Deus para com seu Pai, é nosso e podemos e devemos exercer esse amor como coisa própria.
Assim, posso amar o Pai junto com o meu Salvador, amar o Pai dele que é também meu Pai, com o mesmo amor que Ele o ama, ou seja, com um amor eterno, imenso e infinito.Tue, 16 Jun 2020 - 164 - Só em união com Deus é que nossas obras possuem algum valor
Por Vital Lehodey.
Queremos salvar nossas almas e chegar à perfeição da vida espiritual. Ou seja, nos purificarmos de verdade, progredir em todas as virtudes, chegar à união com Deus. E por esse meio nos transformarmos cada vez mais nele. Essa é uma obra de grandeza incomparável e de um trabalho quase sem limites, mas que nos proporciona liberdade, paz, gozo, unção do Espírito Santo, e exige por sua vez sacrifícios sem fim, e um paciente trabalho por toda a vida.
Essa obra gigantesca não seria apenas difícil, mas também absolutamente impossível, se contássemos apenas com as nossas próprias forças, pois é de ordem absolutamente sobrenatural.
Tudo posso naquele que me fortalece, disse o Apóstolo. Mas sem Deus, só resta a mais absoluta impotência. Por nós mesmos, nada podemos fazer: nem pensar no bem, nem desejá-lo, nem cumpri-lo. Muito menos podemos corrigir nossos vícios, adquirir perfeitamente as virtudes, alcançar a vida de intimidade com Deus.
Para nossa alegria, Deus quis ser o fiador de nossa salvação, razão pela qual nunca poderemos bendizê-lo como Ele merece. Mas Deus não quer nos salvar sem nossa cooperação. Por isso, devemos unir nossa ação com a ação dele, com muito esmero.
Quem trabalha com Deus, aproveita cada instante. Quem o dispensa, acaba caindo, ou se cansa muito em estéril agitação. Portanto, é de suma importância só agir unidos a Deus, todos os dias, e cada momento. Tanto nas nossas menores ações como em qualquer outra circunstância, porque sem a íntima colaboração de Deus perde-se tempo e trabalho.Mon, 15 Jun 2020 - 163 - Pelo Espírito, sigamos o novo modo de viver em Cristo
Por São Paciano.
O pecado de Adão tinha passado para toda a raça humana: Por um homem, assim diz o apóstolo, entrou o delito ê pelo delito, a morte; assim também a morte passou para todos os homens. Portanto é necessário que a justiça de Cristo também passe para o gênero humano. Como Adão, pelo pecado fez perecer sua raça, assim Cristo pela justiça vivificará todo o seu povo. O Apóstolo insiste: Como pela desobediência de um só muitos foram constituídos pecadores, assim pela obediência de apenas um, muitos se constituem justos. Como reinou o delito para a morte, de igual modo reinará a graça pela justiça para a vida eterna.
Dirá alguém: “Mas havia motivo para o pecado de Adão passar aos seus descendentes, pois foram gerados por ele; e nós, será que somos gerados por Cristo para podermos ser salvos por ele?” Nada de pensamentos carnais. Nos últimos tempos, Cristo assumiu a alma com a carne de Maria. A essa alma humana e a essa carne humana, Ele veio salvar, não a abandonou nos infernos, uniu-a a seu Espírito, fazendo-a sua. São estas as núpcias do Senhor, para Cristo e a Igreja formarem uma só carne, conforme o grande sacramento.
Destas núpcias nasce o povo cristão, com a vinda do alto do Espírito do Senhor. A semente celeste que desceu do céu se une à substância de nossas alma e brotamos nas entranhas da mãe Igreja. Ê, postos em seu seio, somos vivificados em Cristo. Daí dizer o Apóstolo: O primeiro Adão, alma vivente; o último Adão, espírito vivificante. Assim Cristo gera, na Igreja, por meio de seus sacerdotes. O mesmo Apóstolo ainda diz: Em Cristo eu vos gerei. A semente de Cristo, o Espírito de Deus, suscitando o homem novo no seio da mãe Igreja, e dando-o à luz pelo parto da fonte do Batismo, essa semente de Cristo é dada pelas mãos do sacerdote.
É preciso receber a Cristo para nascer, pois assim diz o apóstolo João: A todos aqueles que o receberam, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus. Não há possibilidade de se cumprir isto a não ser pelo sacramento do batismo, da crisma, e do sacerdócio. O batismo purifica os pecados. Pela crisma é infundido o Espírito Santo. Solicitamos ambos das mãos e das palavras do bispo. Deste modo, o homem todo renasce e se renova em Cristo. Da forma como Cristo ressuscitou dos mortos, assim também nós, despojados dos erros da vida antiga, sigamos pelo Espírito o novo modo de viver em Cristo.Thu, 11 Jun 2020 - 162 - Na oração, somos tentados de vanglória
Por Santo Antônio de Pádua.
O diabo nos tenta de vanglória no templo. Com efeito, enquanto estamos em oração, enquanto recitamos o ofício ou enquanto estamos ocupados na pregação, somos assaltados pelo diabo com as flechas da vanglória e, infelizmente, muitas vezes feridos. Realmente. Existem pessoas que, enquanto oram e dobram os joelhos e soltam suspiros, querem ser vistos. E há outros que, quando cantam em côro, modulam a voz, fazem falsetes e desejam ser ouvidos. Enfim, há também os que, quando pregam, elevam a voz como trovão, multiplicam as citações, interpretam-nas a seu modo, giram-se pra cá e pra lá e desejam ser louvados. Todos esses mercenários – acreditem-me – “já receberam a sua recompensa” e colocaram sua filha no prostíbulo. Diz Moisés no Levítico: “Não profanes a tua filha, fazendo-a prostituir-se”. Filha minha é a minha obra e eu a prostituo, quer dizer, a coloco no prostíbulo quando a vendo pelo dinheiro da vanglória. Por isso é que o Senhor nos aconselha: “Quando orares, entra no teu quarto e, fechando tua porta, ora ao teu Pai que está lá no segredo”. Tu, quando quiseres rezar ou fazer alguma coisa de bom – e é nisto que consiste o “orar sem cessar” – entra em teu quarto, isto é, no segredo do teu coração, e fecha a porta dos cinco sentidos para não desejar nem ser visto nem ser escutado nem ser louvado. Tu deves entrar no templo do teu coração e orar ao teu Pai e “o teu Pai, que vê no segredo, te recompensará”.Wed, 10 Jun 2020 - 161 - Como aumentar a fé no meio das tribulações
Por Antônio Royo Marín.
Deus espera a nossa cooperação para aumentar em nós a virtude teologal da Fé. Devemos buscar esse incremento, até que toda a nossa vida esteja informada por um autêntico espírito de fé. Um espírito que nos coloque em um plano estritamente sobrenatural, a partir do qual vejamos e julguemos todas as coisas.
Para isso, podemos fazer algumas coisas.
Devemos ver a Deus através do prisma da fé, sem dar importância ao vai-e-vem de nossos pensamentos e sentimentos. Deus é sempre o mesmo, estejamos na consolação ou na desolação. Ele é infinitamente bom e misericordioso, independentemente dos acontecimentos, prósperos ou adversos, que podem nos suceder.
Devemos buscar que nossas ideias, sobre os verdadeiros valores das coisas coincidam totalmente com os ensinamentos da fé, independentemente do que o mundo possa pensar ou sentir. Devemos olhar tudo pelo prisma da vida eterna e ficar intimamente convencidos de que, em face da eternidade, é melhor a pobreza, a mansidão, as lágrimas de arrependimento, a fome e sede de perfeição, a misericórdia, a pureza de coração, a paz e o sofrer perseguição, como ensinou Jesus nas bem-aventuranças. Do ponto de vista da vida eterna, tudo isso é melhor do que as riquezas, a violência, os risos, a vingança, os prazeres da carne, o domínio e o império sobre o mundo.
Devemos ver na dor cristã uma autêntica bênção de Deus, embora o mundo não compreenda essas coisas.
Devemos estar convencidos de que é desgraça maior cometer conscientemente um único pecado venial, do que perder a saúde e a própria vida; que mais vale o bem sobrenatural de um só indivíduo, a mais insignificante participação na graça santificante, do que o bem natural de todo o universo; que a vida longa importa muito menos do que a vida santa, e que, portanto, não devemos deixar a mortificação e a penitência, mesmo que tais austeridades abreviem um pouco o tempo de nossa vida neste mundo, que é um desterro, um vale de lágrimas e misérias.
Enfim, devemos ver e julgar todas as coisas do ponto de vista de Deus, pelo prisma da fé, renunciando totalmente aos critérios do mundo e, inclusive, aos pontos de vista pura e simplesmente humanos.
Esse espírito de fé, intensamente vivido, será para nós uma fonte de consolo nas dores e enfermidades corporais, nas amarguras e provas da alma, na ingratidão ou desdém dos homens, nas perdas dolorosas de familiares e amigos. Fará com que vejamos que o sofrimento passa, mas o prêmio por haver sofrido não passará jamais; que as coisas são tais como Deus as vê, e não como os homens se empenham em vê-las, com seus critérios mundanos e cheios de capricho. Quanta fortaleza essas luzes divinas da fé derramam na alma para suportar a dor e até abraçá-la com alegria, sabendo que as tribulações momentâneas e leves desta vida nos preparam o sobrepujante peso de uma sublime e incomparável glória para toda a eternidade! Assim, nada há de estranho que os apóstolos de Cristo e todos os mártires, tendo acesa em suas almas a tocha da fé, tenham caminhado intrépidos aos cárceres, aos suplícios, e a mortes ultrajantes, alegres em padecer aqueles ultrajes pelo nome de Jesus.Tue, 09 Jun 2020 - 160 - A graça da adoção sobrenatural, através de Cristo
Por Columba Marmion.
A razão humana pode demonstrar que existe um ser supremo, causa primeira de toda criatura, providência do mundo, remunerador soberano, fim último de todas as coisas. Mas, por muito poderosa que seja nossa razão, não poderia descobrir com certeza nada do que se refere à vida íntima do Ser supremo: a vida divina aparece infinitamente distante, em uma luz inacessível.
A Revelação veio em nossa ajuda com sua esplendorosa luz.
Ela nos ensina que há uma inefável Paternidade em Deus. Deus é Pai: eis aqui o dogma fundamental, que pressupõe todos os outros. Dogma magnífico, que enche a razão de assombro, mas que preenche as almas santas de alegria. Deus é Pai. Eternamente, muito antes que a luz criada brilhasse sobre o mundo, Deus gerou um Filho, a quem comunica sua natureza, suas perfeições, sua beatitude, sua vida. Porque gerar é comunicar o ser e a vida, através da doação de uma natureza semelhante. "Tu és o meu filho, eu hoje te gerei". "Antes da aurora dos tempos, eu te gerei de meu seio". Portanto, a vida está em Deus, vida comunicada pelo Pai e recebida pelo Filho.
Este Filho, semelhante em tudo ao Pai, é chamado muito apropriadamente de "unigênito". Ele é único porque tem, ou melhor, porque é uma única e indivisível natureza com o Pai. E um e outro, ainda que distintos entre si, porque um é Pai e o outro é Filho, estão unidos com um abraço de amor poderoso e substancial, do qual procede a terceira pessoa, a quem a Revelação chama com um nome misterioso: Espírito Santo.
E eis que Deus, não para aumentar sua plenitude, mas para enriquecer outros seres com ela, extendeu sua paternidade. Essa vida divina, tão poderosa e abundante, que unicamente Deus tem direito de viver, essa vida eterna, comunicada pelo Pai ao Filho único, e por ambos ao seu Espírito, Deus quer que seja participada também pelas criaturas. E por um excesso de amor, essa vida vai se desdobrar do seio da divindade para se comunicar aos seres tirados do nada, e fazê-los felizes, elevando-os sobre sua própria natureza. A essas simples criaturas, Deus lhes dará o doce nome de filhos e fará com que sejam realmente. Por natureza, Deus não tem mais do que um Filho; por amor, terá uma multidão inumerável. Eis a graça da adoção sobrenatural.
A mesma vida divina, que emana do Pai ao Filho, e que passa do Filho para a humanidade de Jesus, circulará por meio de Cristo em todos aqueles que a queiram aceitar, e os impulsionará ao seio beatificante do Pai, onde Cristo nos precedeu, depois de nos ter dado seu sangue como preço desse dom.
Portanto, toda a santidade consistirá em receber a vida divina de Cristo e por Cristo. Ele a possui em toda a sua plenitude e foi estabelecido como único mediador. Consistirá em conservar essa vida, em aumentá-la sem cessar, por uma adesão mais perfeita, por uma união cada vez mais estreita com aquele de quem ela procede.Mon, 08 Jun 2020 - 159 - Quem abraça a cruz com amor é levado ao seio da Trindade
Por Santa Teresa Benedita da Cruz.
Nós te saudamos, ó santa Cruz, nossa única esperança! Assim dizemos no tempo da paixão, dedicado à contemplação dos amargos sofrimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo.
O mundo está em chamas: a luta entre Cristo e o anticristo intensificou-se abertamente. Por isso, se te decides por Cristo, pode te ser pedido também o sacrifício da vida.
Contempla o Senhor, que pende do lenho da cruz, porque foi obediente até a morte de cruz. Ele veio ao mundo, não para fazer a sua vontade, mas a do Pai. Se queres ser a esposa do Crucificado, deves renunciar totalmente à tua vontade, e não ter outra aspiração senão a de cumprir a vontade de Deus.
Na tua frente, o Redentor pende da Cruz, despojado e desnudado, porque escolheu a pobreza. Quem quer segui-lo, deve renunciar a toda posse.
Estás diante do Senhor, que pende da Cruz com o coração despedaçado. Ele derramou o sangue do Coração, para conquistar o teu coração. Para poder segui-lo em santa castidade, o teu coração deve ser livre de toda aspiração terrena. Jesus Crucificado, deve ser o objeto de todo o teu anseio, de todo o teu desejo, de todo o teu pensamento.
O mundo está em chamas: o incêndio poderia pegar também em nossa casa. Mas, acima de todas as chamas, ergue-se a Cruz, que não pode ser queimada. A Cruz é o caminho que conduz da terra ao céu. Quem abraça a cruz com fé, amor, esperança, é levado para o alto, até o seio da Trindade.
O mundo está em chamas: se desejas apagar essas chamas, contempla a Cruz. Do Coração aberto jorra o sangue do Redentor, sangue capaz de extinguir também as chamas do inferno. Através da fiel observância dos votos, torna o teu coração livre e aberto; então, poderão ser nele despejadas as ondas do amor divino; sim, a ponto de fazê-lo transbordar, e torná-lo fecundo até os confins da terra.
Através do poder da Cruz, podes estar presente em todos os lugares da dor, em toda parte para onde te levar a tua compassiva caridade, aquela caridade que tu recolhes do Coração divino, e que te torna capaz de espargir, por toda parte, o seu preciosíssimo sangue para aliviar, salvar, redimir.
Os olhos do Crucificado fixam-te a interrogar-te, a interpelar-te. Queres estreitar novamente, com toda seriedade, a aliança com ele? Qual será a tua resposta? “Senhor, para onde irei? Só tu tens palavras de vida”. Salve Cruz, nossa esperança única!Fri, 05 Jun 2020 - 158 - Evitar as agitações e alegrar o Espírito Santo para receber a luz do discernimento
Por Diádoco de Foticéia.
Aqueles que combatem precisam manter sempre o espírito fora das agitações perturbadoras para discernir os pensamentos que surgem: guardar os bons, vindos de Deus, no tesouro da memória; e expulsar os maus e demoníacos. O mar, quando está tranqüilo, deixa os pescadores verem até o fundo, de sorte que quase nenhum peixe lhes escape; mas quando o mar está agitado pelos ventos, ele fica turvo, e esconde aquilo que se via tão facilmente no tempo sereno. Assim, toda a perícia dos pescadores se vê frustrada.
No entanto, somente o Espírito Santo tem o poder de purificar a mente. Se Ele não entrar para despojar o ladrão, nossa mente nunca será libertada. É necessário, portanto, alegrar em tudo o Espírito Santo, pela paz da alma, mantendo a luz da ciência sempre acesa em nós. Quando ela não pára de brilhar no íntimo da mente, conhecem-se os ataques cruéis e tenebrosos dos demônios, o que mais ainda os enfraquece, porque eles ficam expostos por aquela santa e gloriosa luz.
Por esta razão diz o Apóstolo: Não apagueis o Espírito, isto é, não causeis tristeza ao Espírito Santo, por maldades e maus pensamentos, para que não aconteça que ele deixe de vos proteger com seu esplendor. Não que o eterno e vivificante Espírito Santo possa extinguir-se, mas é a sua tristeza, quer dizer, seu afastamento que deixa a mente escura sem a luz do conhecimento e envolta em trevas.
Quando estamos saudáveis e queremos degustar coisas refinadas, nosso paladar sabe discernir aquilo que é bom daquilo que é ruim. Da mesma maneira, nossa mente, começando a adquirir a saúde perfeita e a mover-se sem preocupações, saberá discernir os espíritos. Ela poderá sentir abundantemente a consolação divina, e conservar, pela ação da caridade, a lembrança do gosto bom, para se deliciar em coisas ainda melhores. É isso o que ensina o Apóstolo, quando diz: que vossa caridade cresça sempre mais na ciência e na compreensão, para discernirdes o que é ainda melhor.Thu, 04 Jun 2020 - 157 - Fazer tudo para a glória de Deus
Por Antônio Royo Marín.
A glória de Deus! Eis aqui o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim de toda a criação. A própria encarnação do Verbo e a redenção do gênero humano não têm outra finalidade última, senão a glória de Deus. Diz São Paulo, na primeira Carta aos Coríntios: "Quando tudo lhe estiver submetido, então o próprio Filho se submeterá ao Pai, para que Deus seja tudo em todos". Por isso, o Apóstolo nos exorta a não dar um só passo que não esteja direcionado para a glória de Deus. Diz ele: "Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus". É que, em última análise, fomos predestinados em Cristo unicamente para nos transformar em um perpétuo louvor de glória à Santíssima Trindade. Diz o mesmo Apóstolo na Carta aos Efésios: Em Cristo, Deus nos escolheu, antes da fundação do mundo, e nos predestinou para a adoção como filhos, para o louvor e glória de sua graça.
Absolutamente tudo deve se subordinar a essa suprema finalidade. A própria salvação ou santificação jamais pode se converter em fim último. Deve-se desejá-la e trabalhar sem descanso para sua obtenção. Mas, apenas porque Deus o quer, porque ele quis se glorificar nos fazendo felizes; porque nossa própria felicidade consiste apenas no eterno louvor à glória da Santíssima Trindade.
Essa é a finalidade última e absoluta de toda a vida cristã. Na prática, a alma que aspira santificar-se deve colocar os olhos na glória de Deus, como alvo e fim para o qual direciona todas as suas forças e desejos. Essa é a atitude de todos os santos.Wed, 03 Jun 2020 - 156 - A frouxidão e tibieza paralisam a vida cristã
Por Antônio Royo Marín.
Se vivermos com frouxidão e tibieza, podemos paralisar completamente nossa vida cristã. Mesmo que estejamos habitualmente na graça de Deus e pratiquemos uma infinidade de boas obras, mas realizadas com amor menor. O grau essencial de caridade permanecerá paralisado, apesar daquela infinidade de obras imperfeitas. E se a caridade não cresce, também a graça não cresce. Tampouco crescem as demais virtudes, pois todas elas só crescem com a graça e com a caridade.
Isso é plenamente confirmado na experiência diária. Realmente, vemos uma multidão de boas almas, que habitualmente vivem na graça de Deus, que talvez tenham quarenta ou cinquenta anos de vida religiosa em um mosteiro, sem ter cometido nesse período nenhuma falta grave, e tendo praticado uma infinidade de obras e atos de sacrifício, mas que, apesar disso, estão muito longe de serem santas. Quando são incomodadas ou contrariadas, irritam-se; quando lhes falta alguma coisa, reclamam muito; se os superiores lhes ordenam algo que não lhes agrada, murmuram e resmungam; se criticadas ou humilhadas por alguém, este se torna seu inimigo. Tudo isso deixa bem evidente que estão ainda muito longe de ter alcançado a perfeição cristã. E Jesus disse para sermos perfeitos, como nosso Pai do céu é perfeito.
Mas então, como explicar esse fenômeno depois de tantas boas obras praticadas durante aqueles longos anos de vida cristã, até mesmo religiosa ou sacerdotal? A explicação teológica é muito simples: praticaram uma infinidade de boas obras, é verdade, mas com frouxidão e tibieza. Não com atos cada vez mais fervorosos; muito pelo contrário, talvez cada vez mais remissos e imperfeitos.
O resultado é que o termômetro de sua caridade, e consequentemente o grau de glória e das demais virtudes, permaneceu completamente estagnado no essencial. São tão tíbios e imperfeitos como no princípio de sua conversão ou de sua vida religiosa.Tue, 02 Jun 2020 - 155 - A palavra é viva quando são as obras que falam
Quem está repleto do Espírito Santo, fala várias línguas. As várias línguas são os vários testemunhos sobre Cristo: a humildade, a pobreza, a paciência, a obediência. Falamos estas línguas, quando os outros as enxergam em nós mesmos. A palavra é viva, quando são as obras que falam.
Que cessem os discursos. Falem as ações. Estamos saturados de palavras, mas vazios de ações. Por este motivo, o Senhor nos amaldiçoa, como amaldiçoou a figueira, em que não encontrou frutos, mas apenas folhas.
Os apóstolos falavam conforme o Santo Espírito os inspirava, como lemos no Ato dos Apóstolos. Feliz de quem fala conforme o Espírito Santo lhe inspira, e não conforme suas ideias.
Falemos conforme a linguagem que o Espírito Santo nos conceder e peçamos a Ele, humildemente e devotamente, que derrame sobre nós a sua graça, a fim de podermos celebrar o dia de Pentecostes com a perfeição dos cinco sentidos e na observância do Decálogo. Que sejamos repletos de um profundo espírito de contrição e nos inflamemos com essas línguas de fogo, que são os louvores divinos. Desse modo, ardentes e iluminados pelos esplendores da santidade, mereceremos ver o Deus Uno e Trino.
Por Santo Antônio de Pádua.Tue, 02 Jun 2020 - 154 - O divino Coração de Jesus é a coroa e a glória do santíssimo Coração de Maria
Por São João Eudes.
Não é correto separar duas coisas que Deus uniu tão intimamente, pelos vínculos mais fortes e pelos laços mais estreitos da natureza, da graça e da glória. Estou me referindo ao divino Coração de Jesus, Filho único de Maria, e ao Coração virginal de Maria, Mãe de Jesus. O Coração do mais amoroso de todos os filhos e o coração da mais amante de todas as mães. Dois corações ques estão reunidos pelo Espírito Santo para formar um único coração, não na unidade de essência, como é a unidade do Pai e do Filho, mas na unidade de sentimento, de afeto e de vontade.
Esses dois corações, de Jesus e de Maria, estão unidos tão intimamente, que o Coração de Jesus é o princípio do Coração de Maria, como o Criador é o princípio de sua criatura, e o Coração de Maria é a origem do Coração de Jesus, como a mãe é a origem do coração do seu filho.
Que coisa admirável! O Coração de Jesus é o coração, a alma, o espírito, e a vida do Coração de Maria, que não tem nem movimento, nem sentimento, a não ser através do Coração de Jesus. E o Coração de Maria é a fonte da vida do Coração de Jesus, que morou em suas benditas entranhas, como o coração da mãe é o princípio da vida do coração do filho.
O Coração adorável de Jesus é a coroa e a glória do amável Coração da Rainha dos Santos, porque é a glória e a coroa de todos os santos. Da mesma maneira, o Coração de Maria é a glória e a coroa do Coração de Jesus, porque lhe dá mais honra e mais glória do que todos os corações do paraíso juntos.Mon, 01 Jun 2020 - 153 - A sabedoria mística revelada pelo Espírito Santo
Por São Boaventura.
Cristo é o caminho e a porta. Cristo é a escada e o veículo. O propiciatório colocado sobre a arca de Deus e o mistério desde sempre escondido. Quem olha para esse propiciatório com o rosto totalmente voltado para Ele, contemplando-o suspenso na cruz, com fé, esperança e caridade, com devoção, admiração e alegria, com veneração, louvor e júbilo, realiza com Ele a Páscoa, isto é, a passagem.
E assim, por meio do lenho da cruz, tal pessoa atravessa o Mar Vermelho, saindo do Egito e entrando no deserto, onde saboreia o pão escondido. Descansa também no túmulo com Cristo, parecendo exteriormente morto, mas experimentando, tanto quanto é possível à sua condição de peregrino, aquilo que foi dito pelo próprio Cristo ao condenado que o tinha reconhecido: "Ainda hoje estarás comigo no paraíso".
Nesta passagem, se for perfeita, é preciso deixar todas as operações intelectuais e que o ápice de todo o afeto seja transferido e transformado em Deus. Estamos diante de uma realidade mística ê profundíssima. Ninguém a conhece, a não ser quem a recebe; ninguém a recebe, se não a deseja; nem a deseja, se não for inflamado, até a medula, pelo fogo do Espírito Santo que Cristo enviou ao mundo. Por isso, o Apóstolo diz que essa sabedoria mística é revelada pelo Espírito Santo.
Portanto, se queres saber como isso acontece, interroga a graça, e não a ciência; o desejo, e não a inteligência; o gemido da oração, e não o estudo dos livros; o esposo, e não o professor; Deus e não o homem; a escuridão, e não a claridade; não interrogues a luz, mas o fogo que tudo inflama e transfere para Deus, com unções suavíssimas e afetos ardentíssimos. Esse fogo é Deus. Cristo acendeu a fornalha desse fogo no calor da sua ardentíssima Paixão. Verdadeiramente, só pode suportá-la quem diz: "minha alma prefere ser sufocada e os meus ossos a morte". Quem ama essa morte pode ver a Deus, porque sem dúvida alguma é verdade o que é dito na Escritura: "O homem não pode me ver e continuar vivo". Morramos, pois, e entremos na escuridão. Imponhamos silêncio às preocupações, paixões e fantasias. Com Cristo crucificado, passemos desse mundo par o Pai, a fim de podermos dizer com o apóstolo Felipe quando o Pai se manifestar a nós: "Isso nos basta". Ou também ouvirmos como São Paulo: "Basta-te a minha graça".Fri, 29 May 2020 - 152 - O envio do Espírito Santo
Por Santo Irineu.
Ao dar aos seus discípulos o poder para que fizessem os homens renascer em Deus, o Senhor lhes disse: fazei que todos os povos sejam meus discípulos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
Deus tinha prometido, por meio dos profetas, que nos últimos tempos derramaria o seu Espírito sobre os seus servos e servas, para que recebessem o dom da profecia. Por isso, o Espírito Santo desceu sobre o Filho de Deus, que se fez Filho do homem, habituando-se com Ele a conviver com o gênero humano, a repousar sobre os homens, e a morar na criatura de Deus. Desse modo, ele renovava os homens segundo a vontade do Pai, fazendo-os passar da sua antiga condição, para a vida nova em Cristo.
São Lucas nos diz que esse Espírito, depois da ascensão do Senhor, desceu sobre os discípulos no dia de Pentecostes, com o poder de dar a nova vida a todos os povos, e de fazê-los participar da Nova Aliança. É por isso que, naquele dia, todas as línguas se uniram no mesmo louvor a Deus. O Espírito reunia na unidade as raças mais diferentes, e oferecia ao Pai as primícias de todas as nações.
Foi por isso que o Senhor prometeu enviar o Paráclito, que tornaria os discípulos capazes de receber a Deus. Assim como a farinha seca não pode, sem água, tornar-se uma só massa nem um só pão, nós também, que somos muitos, não poderíamos nos transformar num só corpo, em Cristo Jesus, sem a água que vem do céu. E assim como a terra árida não produz fruto se não for regada, também nós, que éramos antes como uma árvore seca, jamais daríamos frutos de vida, sem a chuva da graça enviada do alto.
O Espírito de Deus desceu sobre o Senhor como espírito de sabedoria e discernimento, espírito de conselho e fortaleza, espírito de ciência e de temor de Deus. É este mesmo Espírito que o Senhor por sua vez deu à Igreja, enviando do céu o Paráclito sobre toda a terra.Thu, 28 May 2020 - 151 - Rumo à santidade
Nós nos sentimos tocados, com o coração a bater com mais força, quando ouvimos com toda a atenção este brado de São Paulo: "Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação".
Para pacificar as almas com uma paz autêntica, para transformar a terra, para procurar Deus nosso Senhor no mundo e através das coisas do mundo, é indispensável a santidade pessoal. Deus chama a cada um à santidade, pede amor a cada um, jovens e velhos, solteiros e casados, sadios e doentes, cultos e ignorantes, trabalhem onde quer que trabalhem, estejam onde for.
Há um único modo de crescer na familiaridade e na confiança com Deus: a intimidade da oração, falar com Ele. Manifestar a Ele, coração a coração, o nosso afeto.
Primeiro uma jaculatória, e depois outra, e outra. Até que parece insuficiente este fervor, porque as palavras se tornam pobres. E abrem-se as portas para a intimidade divina, com os olhos postos em Deus, sem descanso e sem cansaço. Vivemos então, como que cativos, como prisioneiros. Enquanto realizamos, com a maior perfeição possível, dentro de nossos erros e limitações, as tarefas próprias da nossa condição e do nosso ofício, a alma anseia escapar-se. Vai até Deus como o ferro atraído pela força do ímã. Começa-se a amar Jesus de forma mais eficaz, com um doce sobressalto.
Mas não esqueçamos que estar com Jesus é seguramente encontrar-se com a sua Cruz. Quando nos abandonamos nas mãos de Deus, é frequente que Ele permita que experimentemos a dor, a solidão, as contradições, as calúnias, as difamações, os escárnios, por dentro e por fora. Porque quer conformar-nos à sua imagem e semelhança. Quando admiramos e amamos de verdade a santíssima humanidade de Jesus, descobrimos, uma a uma, as suas chagas. E nesses tempos de expiação passiva, penosos, fortes, de lágrimas doces e amargas que procuramos esconder, sentiremos necessidade de nos meter dentro de cada uma daquelas feridas santíssimas. Para nos purificarmos, para nos enchermos de alegria com esse Sangue redentor, para nos fortalecermos.
O coração sente, então, necessidade de distinguir e adorar cada uma das Pessoas divinas. De certo modo, é uma descoberta que a alma faz na vida sobrenatural. E entretém-se amorosamente com o Pai, e com o Filho e com o Espírito Santo. E submete-se facilmente à atividade do Paráclito vivificador, que se nos entrega sem merecermos.
As palavras tornam-se supérfluas, porque a língua não consegue expressar-se. O entendimento aquieta-se. Não se discorre, olha-se. E a alma rompe outra vez a cantar um cântico novo, porque se sente e se sabe também olhada amorosamente por Deus a toda hora.
Com esta entrega, o zelo apostólico ferve, aumenta dia a dia, porque o bem é difusivo. Não é possível que a nossa pobre natureza, tão perto de Deus, não arda em desejos de semear no mundo inteiro a alegria e a paz, de regar tudo com as águas redentoras, que brotam do lado aberto de Cristo, de começar e acabar todas as tarefas por amor.
Que a Mãe de Deus e nossa Mãe, nos proteja, a fim de que cada um possa servir a Igreja na plenitude da fé, com os dons do Espírito Santo e com a vida contemplativa.
Por São José Maria Escrivá.Thu, 28 May 2020 - 150 - Do humilde pensar sobre si mesmo
Por Tomás de Kempis.
Todo homem tem desejo natural de saber. Mas para que serve a ciência, sem o temor de Deus? Melhor é, por certo, o humilde camponês que serve a Deus, do que o filósofo soberbo que observa o curso dos astros, mas se descuida de si mesmo.
Aquele que se conhece bem, se despreza e não se compraz em louvores humanos. Se eu soubesse tudo o que há no mundo, porém me faltasse a caridade, de que me serviria isso perante Deus, que há de me julgar segundo minhas obras?
Renuncia ao desordenado desejo de saber, porque nele há muita distração e ilusão. Os letrados gostam de ser vistos e tidos por sábios. Existem muitas coisas, cujo conhecimento pouco ou nada aproveita à alma. E muito insensato é quem se ocupa de outras coisas e não das que têm a ver com a sua salvação. As muitas palavras não satisfazem à alma, mas uma palavra boa refrigera o espírito, e uma consciência pura inspira grande confiança em Deus.
Quanto mais e melhor souberes, tanto mais rigorosamente serás julgado, se com isso não viveres mais santamente. Então, não fiques encantado com qualquer arte ou conhecimento que recebeste. Se te parece que entendes bem muitas coisas, lembra-te que é muito mais o que ignoras. Não presumas de alta sabedoria: antes confessa a tua ignorância. Como é que tu queres que alguém prefira a ti, quando se acham muitos outros mais inteligentes do que tu? Se queres saber e aprender coisa útil, deseja que os outros te considerem um nada.
Não há melhor e mais útil estudo que conhecer-se perfeitamente e desprezar-se a si mesmo. Ter-se por nada e pensar sempre bem e favoravelmente dos outros, é prova de grande sabedoria e perfeição. Ainda quando vejas alguém pecar publicamente ou cometer faltas graves, nem por isso te deves julgar melhor, pois não sabes quanto tempo tu poderás perseverar no bem. Nós todos somos fracos, mas a ninguém deves considerar mais fraco que a ti mesmo.Wed, 27 May 2020 - 149 - Oferecer-se a Deus com simplicidade
Oferecer-se a Deus, é dar a Ele o corpo e a alma, abandonar a Ele todas as capacidades, esperanças e planos de futuro, reservando apenas o cuidado de amá-Lo.
Oferecer-se a Deus é esquecer o próprio eu, é depositar no Coração de Cristo todas as preocupações, todas as solicitudes e os mil contratempos da vida cotidiana. É confiar a Ele todos os interesses pessoais.
Oferecer-se a Deus, é se desapegar de si mesmo, para só pensar nele. É se consagrar a tudo o que objetiva a sua glória. É devotar-se aos outros por amor ao Senhor. É auxiliar, ensinar, reconfortar, aliviar. E principalmente, converter e conduzir a Deus.
O dom de si, é o contínuo faça-se, no decorrer de todos os acontecimentos, de todas as variações exteriores e interiores, é a concordância simples e filial a todas as vontades do Pai celeste, o abandono completo a todos os desígnios da Providência.
Por Joseph Schrijvers.Tue, 26 May 2020 - 148 - Maria é mãe de nossas almas e de nossa salvação
Por Santo Afonso Maria de Ligório.
Os devotos de Maria não se cansam de chamá-la de mãe. E ela é verdadeiramente nossa mãe. Não mãe carnal, mas mãe espiritual de nossas almas e de nossa salvação.
Dizem os santos padres, que em duas ocasiões Maria se tornou nossa mãe espiritual: na encarnação e no calvário.
Diz São Bernardino de Sena, que a partir do momento em que a Santíssima Virgem Maria deu o seu consentimento para a anunciação do anjo, ela pediu a Deus com imenso afeto a nossa salvação. E de tal maneira ela procurou a nossa salvação, que a partir daquele momento nos carregou em seu seio, como mãe amorosíssima.
O Evangelho de São Lucas afirma, que Maria deu à luz o seu filho primogênito. Um dia, Santa Gertrude ficou confusa ao ler essa parte do Evangelho. Não entendia como Jesus podia ser chamado de primogênito, se era o filho único de Maria. Então Deus explicou que Jesus foi o primogênito conforme a carne, mas os homens foram os secundogênitos conforme o espírito.
A segunda ocasião em que Maria nos gerou para a graça(, foi quando ofereceu ao Pai Eterno a vida do seu filho pela nossa salvação, com tamanha dor. Por isso atesta Santo Agostinho que então, havendo ela cooperado com o seu amor para que os fiéis nascessem à vida da graça, tornou-se a mãe espiritual de todos nós, que somos membros da cabeça, Jesus Cristo.
É verdade que ao morrer para a Redenção da raça humana, Jesus quis estar sozinho. Mas Ele viu o grande desejo de Maria, de ser usada também ela na salvação dos homens. Então, Ele determinou que ela, com o sacrifício e com a oferta da vida desse mesmo Jesus, cooperasse pela nossa redenção(, e assim se tornasse mãe das nossas almas.Nosso Senhor deu a entender isso, quando estava prestes a expirar. Olhando do alto da cruz a mãe e o discípulo São João, disse primeiro a Maria: eis aí o teu filho. Como se lhe dissesse: Eis aí o homem, que pela oferta que tu fazes da minha vida, está nascendo para a graça". Depois, voltado ao discípulo, disse: Eis aí a tua mãe. Naquele momento, diz São Bernardino de Sena, Maria foi feita mãe não apenas de São João, mas de todos os homens, por causa do amor que teve por eles.Mon, 25 May 2020 - 147 - Ela perdeu mais
Por Ascânio Brandão.
Quando sentimos o coração imerso em oceano de amarguras, cruelmente ferido pela saudade de um ente desaparecido, precisamos contemplar Nossa Senhora ao pé da cruz. É junto Dela, a consoladora dos aflitos, que encontraremos consolação.
Uma senhora piedosa teve a tristeza de perder um filho em pleno vigor da mocidade. Era filho único, o raio de sol de sua existência. A pobre mãe ficou inconsolável. Quase em desespero, chorava desoladamente e definhava de amargura e cruéis saudades. Um artista genial, reproduziu em uma tela as feições do saudoso e chorado filho. E, pintando em outra tela a Nossa Senhora da Piedade, com Jesus nos braços, pálido, ensanguentado, morto, escreveu: “Ela perdeu mais do que vós!” . . .
Ao olhar o retrato do filho, naturalmente a dor da inconsolável mãe se intensificou, mas, contemplando atentamente o outro quadro e meditando as palavras nele escritas, murmurou: “Sim, Ela perdeu mais do que eu”.
E não se desesperou! Ergueu-se, cheia de coragem, enxugou as lágrimas e ofereceu a Nossa Senhora toda a imensa dor que a estava derrubando.
Mães enfraquecidas de saudades, quando tiverdes o coração partido de dor pela morte de um filho querido, contemplai Nossa Senhora das Dores ao pé da cruz. Ela perdeu mais do que vós, e não se desesperou!Mon, 25 May 2020 - 146 - Na ascensão, nós subimos ao céu com Cristo
Por Santo Agostinho.
Hoje nosso Senhor Jesus Cristo subiu ao céu; suba também com ele o nosso coração. Ouçamos as palavras do Apóstolo: Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres. E assim como ele subiu sem se afastar de nós, também nós subimos com ele, embora não se tenha ainda realizado em nosso corpo o que nos está prometido.
Cristo já foi elevado ao mais alto dos céus; contudo, continua sofrendo na terra através das tribulações que nós experimentamos como seus membros.
A fé, a esperança e a caridade nos unem a Deus. Através delas, trabalhemos aqui na terra de tal modo que já descansemos com Jesus no céu. Cristo está no céu, mas também está conosco; e nós, permanecendo na terra, estamos também com ele. Por sua divindade, por seu poder e por seu amor ele está conosco; e nós podemos realizar isso pelo amor que temos para com ele.
O Senhor Jesus Cristo não deixou o céu quando de lá desceu até nós; também não se afastou de nós quando subiu novamente ao céu. Ele mesmo afirma que se encontrava no céu quando vivia na terra, ao dizer: Ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu.
Isto foi dito para significar a unidade que existe entre ele, que é nossa cabeça, e nós, que somos o seu corpo. E ninguém mais além dele podia realizar esta unidade que nos identifica com ele mesmo, pois tornou-se Filho do homem por nossa causa, e nós por meio dele nos tornamos filhos de Deus.
Cristo é um só, formado por muitos membros. Ninguém mais subiu ao céu senão ele; mas nele, pela graça, também nós subimos. A unidade do corpo não se separa da cabeça.Thu, 21 May 2020 - 145 - Como abandonar o afeto pelo pecado
Por São Francisco de Sales.
Não basta deixar de pecar. É necessário abandonar o afeto pelo pecado.
Para isso, é necessário formar uma ideia viva, e a mais perfeita possível, do mal imenso que o pecado traz, a fim de que o coração se sensibilize e desperte em si uma contrição forte e profunda.
Uma verdadeira contrição, por mais tênue que seja, é suficiente para afastar a alma do pecado, principalmente se for unida à força dos sacramentos. Mas, se é penetrante e forte, então pode purificar o coração também de todas as más inclinações que provêm do pecado.
Considera os seguintes exemplos: Se odiamos alguém pouco profundamente, simplesmente ficamos incomodados com a sua presença e o evitamos. Mas, se o nosso ódio é violento e mortal, então não nos limitamos a esta repugnância interior: o rancor que lhe guardamos alcança também as pessoas de sua casa, seus parentes e amigos, cuja convivência nos é insuportável. Até mesmo o seu retrato nos fere os olhos e o coração, e tudo o que lhe diz respeito nos desagrada.
Assim também, o penitente que odeia de leve os seus pecados e tem uma contrição fraca, se bem que verdadeira, fácil e sinceramente se propõe a não os cometer de novo; mas, se seu ódio ao pecado é vivo, e se é profunda a sua dor, não só detesta o pecado, mas abomina também os hábitos maus, e tudo aquilo que o pode atrair, e servir-lhe de ocasião para pecar.
Portanto, é necessário, Filotéia, que tu tenhas dor de teus pecados na maior intensidade e extensão de que fores capaz, para que abranjas até as mínimas circunstâncias do pecado. Foi assim que Madalena, desde o primeiro instante de sua conversão, perdeu todo o gosto aos prazeres, a ponto de não os conservar sequer no pensamento. E Davi exclamava que não só odiava o pecado, mas odiava até mesmo os caminhos que levam ao pecado.
É nisso que consiste a renovação da alma.Wed, 20 May 2020
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