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Perseguindo a ideia de Lawrence Ferlinghetti - "a poesia é a distância mais curta entre duas pessoas" - esperamos, através das escolhas poéticas dos nossos convidados, ficar mais perto deles e conhecê-los melhor. Usamos o verso de Luiza Neto Jorge “O Poema Ensina a Cair” para dar título a este podcast sobre os poemas da vida dos nossos convidados. Um projecto da autoria de Raquel Marinho. "Melhor podcast de Arte e Cultura" pelo Podes 2021 - Festival de Podcasts.
- 206 - Aline Bei:"Eu acho que o poema nos educa a tudo o que é nosso. O poema nos ensina a ser quem somos, sem a necessidade de uma metamorfose acelerada. "
Aline Bei nasceu em São Paulo, em 1987. É formada em letras e em artes cénicas, foi actriz, e estreou-se na literatura em 2017 com o romance O Peso do Pássaro Morto, vencedor do prémio São Paulo de Literatura e do prémio Toca. O segundo livro, Pequena Coreografia do Adeus, foi finalista do Prémio Jabuti. Ambos os romances têm ou terão adaptações para teatro e cinema, e isso não será alheio ao facto de a nossa convidada considerar que são três as forças a norteiam desde o início: a poesia, a dramaturgia e a oralidade.
Numa entrevista recente contou que de vez em quando há um grande pássaro que sobrevoa o seu texto e que nunca pousa, e que esse pássaro é a poesia.
Fri, 29 Nov 2024 - 56min - 205 - Carlos Fiolhais (II):"Temos de mudar de vida para manter a vida"
Na segunda parte da conversa com o físico Carlos Fiolhais, conversamos sobre 5 poemas e um livro, o Cosmosde Carl Sagan: "o Cosmos é um livro muito interessante e interessa a todos porque trata de tudo. O que é o universo, o cosmos? É tudo o que existe, existiu e existirá."
Poemas:
Jorge de Sena – Homenagem a Francisco Sanches
Vitorino Nemésio – ADN
Álvaro de Campos/ Fernando Pessoa – Ode Triunfal
Antero de Quental – Evolução
Luís de Camões - Canto V de Os Lusíadas (excerto)
Fri, 22 Nov 2024 - 1h 01min - 204 - Carlos Fiolhais (I):". Poesia e ciência são ambas dimensões humanas, são as duas actividades humanas."
Físico, professor, antigo director da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, criador do Centro de Ciência Viva Rómulo e do Centro de Física Computacional da Universidade de Coimbra, onde instalou o maior computador português para cálculo científico (Centopeia).
Carlos Fiolhais, 68 anos, nasceu em Lisboa, foi baptizado no Mosteiro dos Jerónimos e em criança, porque cresceu no bairro da Ajuda, brincava no jardim da Praça do Império e na Rosa dos Ventos, já andava ali a pisar o mundo todo.
Acredita que descobrir é das coisas mais humanas que há, e foi talvez por isso que estudou física – queria percorrer o caminho da aventura da ciência.
Coimbra primeiro, depois doutoramento na Alemanha, e desde então a tal aventura de conhecer, partilhar conhecimento, com os alunos da faculdade mas também com o público. Podemos dizer que é um divulgador de ciência, mas também um entusiasta dessa divulgação.
Poemas primeira parte:
Adília Lopes – Memórias das Infâncias
Jorge Sousa Braga – Poema de Amor
Eugénio Lisboa – Kepler
Alexandre O’ Neill – Aos vindouros se os houver
António Gedeão – Poema Para Galileu
Fri, 15 Nov 2024 - 1h 05min - 203 - Luísa Freire: "Escrever poesia é um recolhimento para fora."
Luísa Freire nasceu em Castelo Branco, em 1933. É licenciada em Filologia Germânica e mestre em Literaturas Comparadas pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade de Lisboa, a mesma onde integrou o Instituto de Estudos sobre o Modernismo, e onde investigou a obra pessoana, sobretudo a poesia inglesa de Fernando Pessoa, que publicou e traduziu. Publicou este ano Atravessar o Frio, o primeiro de 2 volumes de poesia inédita, pela Assírio & Alvim.
Considera que escrever poesia é uma forma de se conhecer melhor, de pensar as coisas, e sente-se "absolutamente filha de Álvaro de Campos", heterónimo de Fernando Pessoa.
Além de continuar a escrever poesia, continua a pintar. Para Luísa Freira "a poesia é uma forma de poema" e quando pinta sente que está a escrever.
Poemas:
Álvaro de Campos/ Fernando Pessoa: Não estou pensando em nada
Bashô: Nada a sugerir
Buson: De pé, em silêncio –
Issa Kobayashi: Floresce a ameixeira:
Shiki: Aqui e ali
Sophia de Mello Breyner Andresen: Movimento
António Ramos Rosa: As palavras dizem os arcos do mar
Eugénio de Andrade: No teu ombro respiro
Albano Martins: Crepúsculo de Agosto
Carlos de Oliveira: Espaço/ para caírem/ gotas de água
Fernando Guimarães: Vens de longe. Mais perto de ti encontras
Pedro Tamen: Suspendo a mão entre o A e o B,
Gastão Cruz: Variação
Fri, 08 Nov 2024 - 1h 27min - 202 - Carlos Vaz Marques (II):"O Cesariny é uma figura que teve importância na minha imaginação, na relação com a poesia, ao ponto de eu ter tido um cão chamado Cesariny."
Segunda parte da conversa com Carlos Vaz Marques, jornalista, editor e tradutor.
Conversamos sobre alguns dos poemas de que mais gosta, e reflectimos sobre os que os poemas sugerem. Por exemplo, a ideia de cair ou não "verticalmente no vício" de que fala Mário Cesariny, ou a ideia de entrar ou não resignado "nessa noite tranquila", de que nos fala Dylan Thomas.
Para livro de não poesia, o nosso convidado escolheu o Livro do Desassossego, e até sugeriu uma espécie de jogo que cada um de nós pode fazer on-line, para criar a sua própria edição deste livro de Fernando Pessoa.
Poemas segunda parte:
Camilo Pessanha - Singra o navio
Álvaro de Campos - Olha, Daisy, quando eu morrer
Cesário Verde – De Tarde
Mário Cesariny – Pastelaria
Não Entres Resignado Nessa Noite Tranquila, de Dylan Thomas (tradução de Carlos Vaz Marques)
Livro:
Livro do Desassossego
Fri, 01 Nov 2024 - 1h 14min - 201 - Carlos Vaz Marques (I): "A poesia está no início. Eu acho que a seguir aos livros de aventuras da infância, aquilo que me motivou durante mais tempo na adolescência foi descobrir poetas e poesia."
Carlos Vaz Marques, 60 anos, vem dizendo que ganha a vida a fazer perguntas, mas hoje em dia, além de jornalista, é também editor e tradutor.
Estudou Línguas e Literaturas Modernas, foi professor durante 2 anos, trabalhou na Rádio universidade Tejo, no JL, no semanário O Jornal, e na TSF durante muitos anos, rádio onde criou esse espaço de entrevistas chamado Pessoal e Transmissível, o programa de comentário cujo nome está impedido de dizer e que permanece até hoje, e um programa diário de sugestões de leitura chamado Livro do Dia.
Na primeira parte desta conversa, dá-nos conta de alguns dos poemas de que mais gosta, do primeiro encontro com a poesia através das palavras do avô materno que sabia o Canto IX dos Lusíadas de cor, das primeiras leituras de ficção com os livros de Enid Blyton, da forma curiosa que escolheu para se relacionar com o mundo: "Há duas formas de nos relacionarmos com o mundo. Uma é esperar que o mundo venha ter connosco, outra é irmos ao encontro do mundo. E no meu caso, até pelo treino de jornalista, sempre fujo muito de me centrar muito em mim próprio."
Poemas primeira parte:
1: Luís de Camões – Sete anos de pastor Jacob servia Labão
2: Ruy Belo – Algumas proposições sobre pássaros que o poeta remata com uma referência ao coração
3: Jorge de Sena – Carta a meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya
4: Alberto Caeiro, Poema VIII, O Guardador de Rebanhos
5: Herberto Helder – Li algures que os gregos, A faca Não Corta o Fogo
Fri, 25 Oct 2024 - 1h 23min - 200 - Mia Couto: "Eu não vejo a poesia como um género literário, acho que a poesia é uma forma de olhar o mundo, é uma sensibilidade, é uma forma de perder fronteira"
Escritor, poeta, filho de poeta, biólogo, um dos nomes maiores da literatura escrita em português, Mia Couto acaba de lançar o livro A Cegueira do Rio, edição Caminho. Sobre o livro, deixou aos futuros leitores esta mensagem escrita à mão numa livraria de Lisboa: “uma visita ao fim da escrita, esse lugar onde os rios já são fronteira e nos ensinam a sermos pontes para chegar aos outros”, fim de citação.
Neste podcast conversamos sobre o novo romance, mas também sobre poesia , essa forma de perder fronteira que Mia Couto considera ser necessário recuperar.
É escritor de romances mas também poeta e é assim que se assume antes de qualquer coisa, "isso não sai de mim de maneira nenhuma".
Wed, 23 Oct 2024 - 50min - 199 - Zeferino Coelho (II):"A poesia teve um papel muitíssimo importante na luta anti-fascista."
Segunda parte do podcast com Zeferino Coelho, lendário editor português, um dos fundadores da Caminho e editor de José Saramago, sobre quem conversamos longamente.
A luta anti-fascista é outro dos temas desta segunda parte, assim como a poesia como instrumento de resistência ao regime do Estado Novo. Por exemplo quando um poema de Alexandre O’ Neill dito por Mário Viegas num protesto de estudantes, fez os presentes ficarem no lugar em vez de fugirem à polícia, como queriam inicialmente.
Poemas segunda parte:
Ricardo Reis – Para ser grande sê inteiro
Ricardo Reis – Tirem-me os deuses
Mário Cesariny – You are welcome to Elsinore
Miguel Torga – Dies Irae
Carlos de Oliveira - Acusam-me de mágoa e desalento
Manuel Bandeira – Vou-me embora para Pasargada
Livro:
Ensaio sobre a Cegueira, José Saramago
Fri, 18 Oct 2024 - 1h 00min - 198 - Zeferino Coelho (I): "A nossa hipótese de sobrevivermos ao quotidiano é através da poesia."
Foi o editor de José Saramago, o único Nobel português de Literatura, e ainda hoje tem orgulho quando se lhe referem assim. Zeferino Coelho, 79 anos, nasceu em Paredes, uma pequena vila do distrito do Porto, em 1945. Filho mais velho de 5 irmãos, foi criado pelo avô, o que terá contribuído para poder estudar e fazer um percurso escolar que o levaria primeiro a Guimarães e depois, no ano lectivo de 62-63, à recém-criada Faculdade de Letras da universidade do Porto, para tirar o curso de Filosofia.
Só na adolescência se consolida como leitor, e deve-o à biblioteca itinerante da Fundação Calouste Gulbenkian, que visitava Paredes quinzenalmente. A entrada na Faculdade trar-lhe-ia o admirável mundo novo da luta antifascista, a ousadia da troca de ideias em cafés do Porto, como o Piolho. Acabaria por aderir ao PCP aos 20 anos, partido onde trabalhou de 72 a 76. Passou pela editora Inova, entes de ajudar a criar a Caminho, onde se mantém até hoje. Foi ele que decidiu publicar o livroLevantado do Chão, de José Saramago, que havia sido recusado antes por outras editoras, e esse facto, marcou a sua vida e a da editora. Poemas primeira parte
Sophia de Mello Breyner Andresen – Arte poética 2
Sophia de Mello Breyner Andresen – Senhora da Rocha
Sophia de Mello Breyner Andresen – Crepúsculo dos Deuses
D. Dinis – Ai flores, ai flores do verde pino
João Roiz de Castelo Branco – Cantiga partindo-se
Luís de Camões – Babel e Sião
Antero de Quental – A um crucifixo
Fri, 11 Oct 2024 - 1h 19min - 197 - Dia Mundial do Professor - Leitura de poema de João Miguel Fernandes JorgeSat, 05 Oct 2024 - 07min
- 196 - Milhanas (II): "A coisa que mais me comove é o silencio numa multidão, uma multidão em silencio."
Nesta segunda parte da conversa com Milhanas, continuamos a conversar sobre os poemas de que mais gosta e, mais uma vez, partimos da poesia para conversar sobre os temas que interessam, inquietam, preocupam mas também motivam e movem a nossa convidada.
Poemas:
Carlos Drummond de Andrade - Os ombros suportam o mundo
Carlos Drummond de Andrade - Congresso internacional do medo
Almeida Santos - Se tardas amor, não venhas
Natália dos Anjos - Rezando pedi por ti
Álvaro Duarte Simões - Barro divino
Fri, 04 Oct 2024 - 52min - 195 - Milhanas (I): "A poesia transforma-se à medida que eu me transformo, e isso é quase uma atitude egoísta. É egoísta porque o meu amor pela poesia é sobre mim."
Chama-se Milhanas, tem 22 anos, e estreou-se na cena musical portuguesa em 2023 com o disco De Sombra a Sombra. A ligação à poesia, conta-nos, deve-se a uma professora de Literatura do secundário que lhe permitiu uma interpretação mais livre dos poemas, contrariando a análise teórica e pragmática que conhecia até essa altura.Desde a adolescência que leva a cabo uma espécie de diálogo com os poemas que vai lendo: quando gosta e se sente tocada pelas palavras de um poeta, escreve de volta em resposta e diálogo que o que acabou de ler. De vez em quando, essas respostas podem ser letras de canções, na maioria das vezes ficam na gaveta.
Gostaria, um dia, de fazer um disco que incluísse em todas as canções um verso de um poema de que gosta. Já experimentou esse modelo neste primeiro trabalho usando estas palavras de António Barahona no refrão: "que Deus te pague o silêncio que me deste"
Neste podcast, conversamos sobre este percurso de proximidade com a palavra escrita, a que lê e a que vai experimentando, sobre música, sobre a importância da arte na sociedade actual.
Poemas:
Alexandre O' Neill - Um Adeus Português
Fausto - O que a vida me deu
Maria do Rosário Pedreira - Ainda bem que não morri de todas as vezes
José Saramago - Não me peçam razões
Daniel Faria - Estranho é o sono que não te devolve
Fri, 27 Sep 2024 - 1h 00min - 194 - Milhanas lê Maria do Rosário PedreiraFri, 27 Sep 2024 - 01min
- 193 - Rosa Maria Martelo (II):"A Fiama descreve essa sensação de que é possível que a natureza nos aponte o nosso lugar e aquilo que somos, que nos diga o que somos."
Nesta segunda parte do podcast com a professora catedrática de Literatura Rosa Maria Martelo, continuamos a conversa sobre alguns dos poemas de que mais gosta, que incluem autores como Luiza Neto Jorge, Fiama Hasse Pais Brandão, Wallace Stevens, Mário Cesariny e Herberto Helder.
Conversamos também longamente sobre o livro Finisterra, de Carlos de Oliveira, autor sobre quem Rosa Maria Martelo fez a tese de doutoramento com a tese Carlos de Oliveira e a Referência em Poesia.
Fri, 20 Sep 2024 - 1h 11min - 192 - Rosa Maria Martelo (I):"As pessoas que sabem como é que se produz sentido têm sentido crítico, e é muito mais difícil manipulá-las. Por isso é que as Humanidades são importantes."
Rosa Maria Martelo nasceu em Vila Nova de Gaia, em 1957. É professora catedrática aposentada da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e investigadora integrada do Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa. Doutorada em Literatura Portuguesa com a tese Carlos de Oliveira e a Referência em Poesia, tem-se debruçado particularmente sobre a Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea, as Poéticas do Século XX e a Literatura Comparada, como domínios de investigação.
Neste podcast conversamos sobre alguns dos poemas de que mais gosta e um livro de ficção.
Através destas escolhas, ficamos a conhecer melhor a relação da nossa convidada com a palavra, que é precoce, e, por exemplo, a importância que atribui ao estudo das Humanidades no tempo em que vivemos: "Quando as pessoas aprenderam a analisar um poema de Camilo Pessanha bem, e perceberam como é que ele funciona, são muito mais difíceis de enganar, por exemplo pela propaganda política, pela manipulação. As pessoas que sabem como é que se produz sentido, têm sentido crítico e é muito mais difícil manipulá-las. Por isso é que as Humanidades são importantes. No tempo em que vivemos é muito importante que as Humanidades cumpram o seu papel, desempenhem o seu papel na sociedade em que estamos, porque é por aí que nós conseguimos criar espírito crítico."
Poemas primeira parte:
Poetry - Marianne Moore
O céu, a terra, o vento sossegado - Luís de Camões, Rimas
Manhãs Brumosas - Cesário Verde, O Livro de Cesário Verde
Vénus II - Camilo Pessanha, Clepsidra
Ode Marítima - Fernando Pessoa/ Álvaro de Campos
Fri, 13 Sep 2024 - 1h 29min - 191 - Lena D'Água: "O meu pai trouxe a música à minha vida porque trazia discos quando ia com a Selecção. Trazia-me discos lá de fora, discos que não havia cá."
A voz dela acompanhou várias geraçõese marcou indelevelmente a história do rock português. Lena D’ Água, 68 anos, está, uma vez mais, de volta com o disco Tropical Glaciar, autoria de Pedro da Silva Martins, assim como o anterior Desalmadamente, de 2019.
Poemas:
Tu sabes- Lena D'Água
Paz poeta e pombas – Zeca Afonso
É ao mar que eu pertenço – José Fanha
O que a vida me deu – Fausto
Essa Mulher – Ana Terra
Eu não me entendo – José Luís Gordo
O Negócio (para Marc Chagall) – José Fanha
Agostinho da Silva – Somente o traço que ficou no céu importa agora
O Nosso Livro – Florbela Espanca
Fri, 06 Sep 2024 - 1h 54min - 190 - Poetas ao Domicílio - Maratona de Leitura da Sertã
Em 2023, a Maratona de Leitura da Sertã iniciou a actividade Poetas ao Domicílio, organizada pela Associação Cultural Casa de Gigante, de Miguel-Manso, e pel' O Poema Ensina a Cair, de Raquel Marinho.
Ao longo de 3 dias, 9 poetas visitaram vários domicílios, leram poesia, conversaram com quem os quis perto, escutaram histórias deste e doutro tempo.
Estiveram presentes André Tecedeiro, Francisca Camelo, João Paulo Esteves da Silva, Margarida Vale de Gato, Raquel Serejo Martins, Ricardo Marques, Rita Taborda Duarte e Vasco Gato.
Thu, 29 Aug 2024 - 56min - 189 - Maria Antónia Oliveira - Alexandre O' Neill, Uma Biografia Literária
Maria Antónia Oliveira, biógrafa, autora do livroAlexandre O' Neill, Uma Biografia Literária, segunda edição revista e aumentada, edição Assírio & Alvim, é a convidada de Raquel Marinho para uma conversa sobre a vida e a obra do poeta português que morreu neste dia, 21 de Agosto, em 1986. Nas palavras da biógrafa, O' Neill era fascinado pela banalidade e pelo lugar comum e não gostava de pessoas demasiado conscientes da sua importância. Sobre ele, Baptista Bastos disse "parecia um miúdo com um berlinde na mão".
Wed, 21 Aug 2024 - 1h 57min - 188 - Catarina Gomes - "Um Dedo Borrado de Tinta"
Catarina Gomes nasceu em Lisboa, em 1975. É autorade quatro livros de não-ficção e do romance Terrinhas, vencedor do Prémio Revelação Agustina Bessa-Luís. Foi jornalista do Público durante quase 20 anos, tendo recebido alguns dos prémios nacionais mais importantes da área, como o Gazeta. Foi duas vezes finalista do Prémio de Jornalismo Gabriel García Marquez e recebeu o Prémio Internacional de Jornalismo Rei de Espanha. O seu mais recente livro chama-se “Um Dedo Borrado de Tinta – Histórias de quem não pôde aprender a ler”, edição Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Nele, ficamos a conhecer Horácio Bernardo Rocha, IsabelFortuna, Conceição Cameira, Maria José Ferreira, Emília de Jesus Mota e Olívia do Nascimento Almeida. Homens e mulheres que não puderam aprender a ler, e quenasceram numa aldeia do distrito da Guarda chamada Casteleiro onde, em 2011, mais de 40% dos habitantes com mais de 10 anos eram analfabetos.
O ensino era um privilégio para alguns, poucos, esimultaneamente um lugar de medo. Conhecemos, neste livro, ditados como “pelo sangue entra a letra”, que nos dá uma ideia de como os castigos físicos e psicológicos eram prática comum, ou ainda, um outro, que nos revela como se privilegiava o trabalho em detrimento da aprendizagem: “o saber não dá pão”.
Fri, 02 Aug 2024 - 42min - 187 - Benjamim (II): "Comove-me a vitória de alguém, alguém conseguir fazer alguma coisa. É das coisas que mais me comove."
Segunda parte da entrevista a Benjamim, músico, compositor, cantautor e produtor musical.
Poemas segunda parte:
- Construção – Chico Buarque
- Moonlight Drive / Passeio ao Luar - Jim Morrison
- Testamento - Ana Luísa Amaral
- Uma vez quiseram-me louca a arder - Cláudia R. Sampaio
- Um caso - Inês Fonseca Santos
- Na hora de pôr a mesa - José Luís Peixoto
Livro além da poesia:
O Retorno, Dulce Maria Cardoso, edição Tinta da China
Fri, 26 Jul 2024 - 52min - 186 - Benjamim (I): "A antropologia foi muito boa porque é uma janela para o mundo, é uma janela para analisar a sociedade. É uma maneira de olhar para o mundo."
Conhecemo-lo por Benjamim mas chama-se Luís Nunes. Cantautor, escritor de canções, produtor, compositor, músico multi-instrumentista, nasceu em Lisboa em 1986. Estudou Antropologia na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova, depois rumou a Londres para estudar Engenharia de Som, e foi lá que assinou os primeiros trabalho, em inglês, e como Walter Benjamin. De volta a Portugal instalou-se no Alentejo, construiu o estúdio que é hoje a sua principal ferramenta de trabalho, e passou a apresentar-se como Benjamim. É assim que o conhecemos e aos vários trabalhos que assinou em nome próprio ou em colaborações, ou ainda, muito importante faceta do meu convidado, como produtor. Lançou recentemente um projecto ambicioso chamado Berlengas. É um disco, mas também um filme e um bailado, que nos propõe uma viagem imaginária às Berlengas ou, diria eu, a qualquer outra ilha para onde quiséssemos fugir. Primeiro criou uma paisagem musical, depois convidou o realizador Bruno Ferreira a assinar um filme inspirado na música que lhe deu a ouvir. O resultado acaba por ser um filme/bailado, mas também um disco com 20 faixas, onde podemos encontrar ideias, no meio das letras, bonitas assim, e vou citar Eu acerto sempre por acaso/Mas o ocaso sei de cor. Poemas primeira parte: - A solução – Bertolt Brecht - Árvore Envenenada – William Blake - Pequena ode a um carro eléctrico – David Mourão-Ferreira - A Morte solitária de Hattie Carrol – Bob Dylan - Jeremias, O Fora da Lei – Jorge Palma
Fri, 19 Jul 2024 - 1h 10min - 185 - Eucanaã Ferraz (II):"Eu quero acreditar que nós pertencemos à raça daqueles que mergulham de olhos abertos na poesia, nesse idioma, para lá dentro descobrirmos esses corais."
Segunda parte do podcast com o poeta, professor universitário Eucanaã Ferraz. Poemas: Sophia de Mello Breyner Andresen, Coral Manuel Bandeira, Consoada Caetano veloso, Terra Álvaro de Campos, Poema em Linha Recta António Cícero, Guardar Livro: Clarice Lispector, Água Viva, edição Relógio D´Água
Fri, 12 Jul 2024 - 58min - 184 - Eucanaã Ferraz (I):"Quando é preciso dizer algo, nada substitui a poesia porque ela vai directo lá, na linguagem, ela é um trabalho com a linguagem. Então, ninguém chega lá."
Eucanaã Ferraz nasceu no Rio de Janeiro, em 1961. É poeta, professor de Literatura Brasileira na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro e consultor de literatura do Instituto Moreira Salles. Os seus poemas, de 1990 a 2016, estão publicados em Portugal no livro Poesia, editora INCM. Em 2019, a Tinta-da-china, lançou Retratos com Erro, que recebeu o Prémio Oeiras de Poesia e, mais recentemente, no final de 2023, o livro Raio. Conheceu alguns dos nomes maiores da poesia portuguesa, como por exemplo Eugénio de Andrade ou Sophia de Mello Breyner Andresen, sobre quem organizou a antologia Coral e outros poemas, editada no Brasil pela Companhia das Letras. Fez várias outras antologias – Vinicius de Moraes, Caetano Veloso ou Adriana Calcanhoto.
Fri, 05 Jul 2024 - 1h 27min - 183 - Maria do Rosário Pedreira (II):"Essa autora (Marguerite Duras) foi a autora que me ensinou que se pode escrever de outra maneira."
Segunda parte do podcast com a poeta, editora, letrista, contista Maria do Rosário Pedreira.
Poemas:
Alexandre O´Neill – Gaivota
Ana Luísa Amaral – Passado
José Emílio Pacheco – Uma defesa do anonimato (tradução de António Cabrita)
José Carlos Barros – A Literatura
Livros:
Marguerite Duras, "O Amante" e "Uma Barragem Contra o Pacífico"
Fri, 28 Jun 2024 - 1h 29min - 182 - Maria do Rosário Pedreira (I):"Ler não é só ler. Ler é compreender."
Maria do Rosário Pedreira nasceu em Lisboa, em 1959. Escritora, poeta, editora, cronista, letrista, começou a escrever cedo, ainda criança, na escola primária, e para isso terá contribuído o facto de ter estudado numa escola cujo patrono era o poeta João de Deus, que incentivava os alunos, por exemplo, a fazer recitais de poesia no final do ano lectivo. Licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa - "não podia ir para mais lado nenhum, não sabia fazer mais nada" -, passou brevemente pelo ensino, veio a tornar-se uma das editoras portuguesas mais respeitadas e reconhecidas. Escreveu ficção infantil, contos, romance, mas reconhecemo-la sobretudo pela poesia, mais do que uma vez distinguida. Já este mês venceu o Prémio de Poesia de Oeiras com o livro "O Meu Corpo Humano", edição Quetzal. Assina os e-mails com uma frase de C. S. Lewis: "lemos para sabermos que não estamos sozinhos". Poemas Primeira Parte: João de Deus, Boas Noites Álvaro de Campos, Soneto Já Antigo Mário Cesariny, De Profundis Amamus Mário de Sá-Carneiro, Caranguejola Eugénio de Andrade, Véspera da Água
Fri, 21 Jun 2024 - 1h 25min - 181 - Filipe Melo (II):"A poesia, tal como a música, tem essa capacidade de nos tirar do mundo real e concreto e de nos pôr em contacto com algo que é invisível."
Segunda parte do podcast com o músico, compositor, orquestrador, realizador de cinema, autor de banda desenhada Filipe Melo.
Poemas:
Rainer Maria Rilke, Sonetos a Orfeu
Herberto Helder, A manhã começa a bater no meu poema, "A Colher na Boca", edição Assírio & Alvim
António Variações, diz-me que solidão é essa que te põe a falar sozinho
Ana Luísa Amaral, Dois Cavalos: Paisagem, Peixe, "Mundo", edição Assírio & Alvim
Yvette Centeno, Os jovens não pensam e dizem tudo; Teremos de perceber que a vida não é eterna, “Existir”, edição Eufeme Charles Bukowski, Não há ajuda para isso, "Os Cães Ladram Facas", tradução de Rosalina Marshall, edição Alfaguara,
Livro:
El Abismo del Olvido, Paco Roca
Fri, 14 Jun 2024 - 53min - 180 - Filipe Melo (I):"O silêncio é a melhor coisa que existe. O silêncio é o espaço, é a tela em branco, é a paz. A música só tem o valor que tem porque existe o silêncio."
O nosso convidado de hoje recebeu de presente o primeiro piano, um pianinho Casio, aos 12 anos, para conseguir enfrentar melhor a ansiedade e receio de uma cirurgia. Aos 15 anos foi detido por pirataria informática. Estudou jornalismo, mas, nas suas palavras, “não tinha vocação” e acabou por dedicar-se à música, de onde partiria para muitas outras artes. Músico, compositor, orquestrador, realizador de cinema, autor de banda desenhada, os vários projectos de Filipe Melo movem inúmeras pessoas, mas continua a sentir-se bem em ambientes mais resguardados. Estudou no Hot Clube de Portugal e no Berklee College of Music, em Boston. Durante muitos anos ensinou na Escola Superior de Música, em Lisboa. Na área do cinema, foi criador de vários projetos de culto vencedores de importantes distinções, e na Banda Desenhada também foi reconhecido em Portugal e no estrangeiro. Colabora com Juan Cavia há muitos anos, têm vários livros publicados, entre os quais “Balada para Sophie”, um livro dedicado a Beatriz Lebre, jovem pianista e estudante universitária de psicologia morta em por um colega da universidade. Este livro foi vencedor dos prémios Livro do Ano Bertrand, Melhor BD de Autor Português pelo Festival Amadora BD, e vai ser adaptado para série de televisão nos Estados Unidos. Apesar de ter nascido em Lisboa, em 1977, é para Tondela que se sente rodeado das coisas de infância, e é para lá que vai quando precisa de entrar num modo mais criativo. Poemas: António Gedeão, Poema do fecho eclair Edgar Allan Poe, Dream Within a Dream Adília Lopes, "Pardais" e "Bandolim", edição Assírio & Alvim Ana Hatherly, "Tisanas", Edição Assírio & Alvim Ryokan, "Tal Como és", tradução de Marta Morais, edição Assírio & Alvim
Fri, 07 Jun 2024 - 1h 01min - 179 - André Tecedeiro (II):"As relações importantes e significativas não precisam de estar amarradas por alianças ou laços de sangue, porque o que une as pessoas não é isso."
Segunda parte do podcast com o poeta e artista plástico André Tecedeiro.
Poemas:
Antón Lopo, Disse-o à minha mãe um dia em que cheguei tarde, “Azul Monforte”
Manoel de Barros, A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei, "Poesia Reunida", edição Caminho
Judith Herzberg, Caixas, livro “O que resta do dia” , edição Cavalo de Ferro
Angélica Freitas, Eu durmo comigo, "Um útero é do tamanho de um punho", edição Douda Correria
José Gomes Ferreira, Devia morrer-se de outra maneira
Hellington Vieira, Cafajeste da peste
LIVRO:
"A Lebre de Vatanen", de Arto Paasilinna, edição Relógio D´Água
Sat, 01 Jun 2024 - 50min - 178 - André Tecedeiro (I):"Eu sempre quis escrever mas nunca achei que isso fosse uma profissão possível."
André Tecedeiro nasceu em Santarém, em 1979. É poeta, artista plástico e dramaturgo. É licenciado em pintura, mestre em Artes Visuais, e tem um mestrado integrado em Psicologia. Entre outras publicações, é autor de A Axila de Egon Schiele, Porto Editora, 2020, um livro recomendado pelo Plano Nacional de Leitura. É trans, e activista pela visibilidade da diversidade de género. Poemas primeira parte: María do Cebreiro, Temos, como o leão, a boca cheia de sangue Wislawa Szymborska, O Ódio Kobayashi Issa, O Pequeno Caracol, "Os Animais: haikus", edição Assírio & Alvim Ron Padgett, Varrer, Poemas Escolhidos, tradução de Rosalina Marshall, edição Assírio & Alvim Ron Padgett, "O Poeta Enquanto Pássaro Imortal, Poemas Escolhidos", tradução de Rosalina Marshall, edição Assírio & Alvim Tal Nitzán, Possibilidades Matsuo Bashô, No Outono nos separámos, “O caminho estreito para o longínquo norte", edição Fenda
Sat, 25 May 2024 - 1h 07min - 177 - Katia Guerreiro (II): "Comovem-me os gestos de generosidade pura. As pessoas que se dedicam a causas que são fundamentais para o bom funcionamento da sociedade ou que salvam pessoas."
Segunda parte da entrevista a Katia Guerreiro.
Poemas:
Verão, Egídio Santos
Poema no Meio do Caminho, Carlos Drummond de Andrade
Felicidade, Clarice Lispector
Os Meus Versos, Florbela Espanca
Cais da Saudade, Pedro Pio
Tempo de Viver, Manuela de Freitas
Livro:
O Principezinho, Antoine de Saint-Exupéry
Tradução: Joana Morais Varela
Sat, 18 May 2024 - 45min - 176 - Katia Guerreiro (I): "A verdade é que este poema (Quando, Sophia) transformou-me. Deixei de ter medo da morte."
Katia Guerreiro nasceu na África do Sul em 1976 mas mudou-se para a Ilha de São Miguel, nos Açores, anda bebé, aos 11 meses, e foi lá que iniciou o seu percurso musical em plena adolescência, a tocar Viola da Terra (instrumento tradicional do arquipélago) no Rancho Folclórico de Santa Cecília.
Rumou a Lisboa para estudar Medicina, mas inicialmente pensou ser médica veterinária, talvez por essa ligação aos animais do campo, com os quais cresceu, nesse lugar chamado Açores, que até hoje continua a considerar o seu chão.
Depois de uma experiência numa banda de rock chamada Os Charruas, acabaria por receber o Fado como vocação e projecto para a vida. Tudo começou no ano 2000, quando se apresentou num concerto de homenagem a Amália Rodrigues, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, onde interpretou “Amor de Mel, Amor de Fel” e “Barco Negro”.
O primeiro disco, Fado Maior, saiu em 2001, e logo na altura, por exemplo, Rui Vieira Nery reconheceu-lhe uma filiação na tradição amaliana.
A carreira é longa e inclui reconhecimento em Portugal e no estrangeiro, e colaborações com muitos nomes da música portuguesa como, por exemplo, José Mário Branco, ou mais recentemente Tiago Bettencourt no disco "Mistura".
Diz que tem de se encontrar naquilo que quer ler a cantar e que aquilo que canta tem de ter um pouco de si.
Poemas:
Recado, António Lobo Antunes
Quando, Sophia de Mello Breyner Andresen
Açores, Sophia de Mello Breyner Andresen
Creio, Natália Correia
Até ao Fim, Vasco Graça Moura
Sat, 11 May 2024 - 1h 00min - 175 - Francisca Camelo (II): "Um poema não tem de ser autobiográfico para ser bom, mas tem de ser verdadeiro"Sat, 04 May 2024 - 56min
- 174 - Francisca Camelo (I): "Poesia para mim sempre foi um exercício de fruição de liberdade"
Francisca Camelo nasceu no Porto em 1990: é poeta e diseuse. Tem poemas espalhados em diversas antologias e revistas, sobretudo em Portugal e na América Latina, tendo sido traduzida em espanhol, grego, francês e alemão. Os seus poemas podem também ser lidos na revistas Enfermaria 6, Pulsar, Tutano, Nervo e PRIMA (Portugal), Círculo de Poesía e Barca de Palabras (México), Palavra Comum (Galiza), Ruído Manifesto e Gueto (Brasil), entre outras. Autora de “Cassiopeia” (Apuro Edições, 2018); “Photoautomat” (Enfermaria 6, 2019); “O Quarto Rosa” (semi-finalista do Prémio Oceanos 2019, Corsário-Satã (Brasil)), “A Importância do Pequeno-almoço” (Fresca Edições, 2020) e “Quem me comeu a carne” (Nova Mymosa, 2022). Organiza performances de Spoken Word e conversas mensais com outros poetas, no seu projecto Sin.cera. Gosta de tomar o pequeno-almoço devagar e com calma e de ouvir Chavela Vargas. Poemas: 1 - Elizabeth Bishop, One Art 2 - Alexandre O’Neill, Um Adeus Português 3 - Adília Lopes, A propósito de estrelas 4 - Frank O’Hara, Poem 5 - Zeca Afonso, Era um redondo vocábulo 6 - Herberto Helder, Poemacto II 7 - Mário Cesariny, de profundis amamus 8 - Maria Teresa Horta, Segredo 9 - Marília Garcia, no dia 7 de março de 2019, Expedição: nebulosa, edição Companhia das Letras 10 - Sharon Olds, Sex Without Love Livro de não poesia: “Your silence will not protect you, Essays and Poems” da Audre Lorde (Silver Press, 2017)
Sat, 27 Apr 2024 - 49min - 173 - Direito de Resposta - poetas nascidos depois do 25 de Abril conversam com poetas do passado
Assinalamos os 50anos do 25 de Abril com uma conversa com Ricardo Marques sobre o livro"Direito de Resposta", Flan de Tal, 2024.
Poeta e tradutor, é de Ricardo Marques a selecção, prefácio e revisão deste livro editado pela Flan de Tal, com grafismo e paginação lina&nando, publicado no mês em que se assinalam os 50 anos da revolução.
No prefácio, que tem como título "TODO O POETA É PUNK", Ricardo Marques faz a pergunta: e se, de repente, pudéssemos responder com um poema a outro poema do passado?
É isso que fazem 25 autores contemporâneos nascidos depois de 25 de Abril de 74, que escolheram poemas do passado para lhes escreverem uma resposta.
Os autores que integram esta antologia, por ordem alfabética, são: Álvaro Seiça, André Tecedeiro, Beatriz de Almeida Rodrigues, Catarina Nunes de Almeida, Catarina Santiago Costa, Ederval Fernandes, Fernanda Drumond, Filipa Leal, Francisca Camelo, Henrique Manuela Bento Fialho, Inês Dias, Inês Francisco Jacob, João Bosco da Silva, José Pedro Moreira, Mariana Varela, Miguel Cardoso, Miguel-Manso, Paola D´Agostino, Pedro Korres, Rafael Mantovani, Rafa (Rafaela Jacinto), Raquel Serejo Martins, Ricardo Marques, Ricardo Tiago Moura e Tatiana Faia.
Entre os poetas do passado com quem dialogam encontram-se autores como Mário de Sá-Carneiro, Ângelo de Lima, Emily Dickinson, Alberto Caeiro, Francisco Sá de Miranda, Gertrude Stein, Matsuo Bashô Soror Juana Inés de la Cruz, Safo ou Mariana Alcoforado.
Thu, 25 Apr 2024 - 55min - 172 - Luísa Sobral (II): “Gosto da ideia de ser outra pessoa, de ter outra vida dentro da minha”
Segunda parte do podcast com a cantautora e compositora Luísa Sobral. Poemas: José Régio, Cântico Negro Márcia, Hoje apetece-me ser eu mesma Álvaro de Campos, Todas as Cartas de Amor são Ridículas Miguel Torga, Sísifo José Luís Peixoto, O passado tem de provar constantemente que existiu Livro – Jon Fosse, Manhã e Noite, tradução de Manuel Alberto Vieira, edição Cavalo de Ferro
Sat, 20 Apr 2024 - 56min - 171 - Luísa Sobral (I): “Valsinha: Esta é a canção que eu mais gostava de ter escrito na minha vida.”
A nossa convidada de hoje escreve canções desde os 12 anos e a primeira canção que cantou sozinha “com um radiozinho pequeno” foi escrita por Carlos Tê e chama-se “Não Há Estrelas no Céu”. Luísa Sobral nasceu a 18 de setembro de 1987. Cantautora e compositora, sempre quis ser cantora ou atriz (de teatro) e, para tentar chegar a esse objetivo (Luísa é dada a organizar e planear), além de participar num programa de talentos da televisão, tentou entrar no conservatório. Uma professora disse-lhe que nunca iria ser cantora na vida porque tinha nós nas cordas vocais. Enganou-se, e ainda bem. 6 discos de originais, onde se incluem canções para todas as idades e até canções de embalar, colaborações com nomes importantes da música cá dentro e lá fora, tanto como compositora como como letrista ou produtora. Poemas primeira parte: 1 - Matilde Campilho, O último poema do último príncipe 2 - Maria do Rosário Pedreira, Lábios 3 - Maria do Rosário Pedreira, Costas 4 - Sophia de Mello Breyner Andresen, Quando 5 - Tim Burton, Robot Toy 6 - Vinícius de Moraes, Valsinha
Sat, 13 Apr 2024 - 51min - 170 - Leonardo Gandolfi (II): "As coisas que me comovem são as transformações que me fazem encontrar pessoas, coisas, linguagem."
Segunda parte do podcast com Leonardo Gandolfi, poeta, crítico literário e professor universitário em São Paulo. Poemas: Não mais sob a árvore de Bô, de Enterrem meu coração no Ramelau (1982), Jorge Lauten; A gleba me transfigura, de Vintém de cobre (1983), Cora Coralina; Mulher VIII, Dizes-me coisas amargas como os frutos (2001), Paula Tavares; Bibliotecas, Ilhéus (2013), Edson Cruz; “O António Ramos Rosa estava deitado na cama”, de Poemas canhotos (2015), Herberto Helder. Livro de não poesia: Ursinho Pooh, de A.A. Milne, tradução de Monica Stahel.
Sat, 06 Apr 2024 - 50min - 169 - Leonardo Gandolfi (I): "Eu não escrevo em língua portuguesa, eu escrevo na língua Drummond"
Leonardo Gandolfi nasceu em 1981, no Rio de Janeiro, e mora em São Paulo desde 2013, onde trabalha como professor de Literatura Portuguesa na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). É autor, entre outros, de "Robinson Crusoé e seus amigos" (Editora 34, 2023, finalista do prêmio Jabuti de poesia). Organizou a antologia de Manuel António Pina "O coração pronto para o roubo" (Editora 34, 2018) e publicou o ensaio "Manuel António Pina" (Eduerj, 2020), livro da coleção Ciranda de Poesia. Manuel António Pina é um dos autores portugueses que estudou e conheceu pessoalmente cá em Portugal, mas encontramos no seu currículo outras abordagens à poesia portuguesa. Poemas primeira parte: 1. Porquinho-da-índia, de Libertinagem (1930), Manuel Bandeira; 2. Resíduo, de Rosa do povo (1945), Carlos Drummond de Andrade; 3. O sim contra o sim, de Serial (1961), João Cabral de Melo Neto; 4. O texto de Joan Zorro, de O texto de Joan Zorro (1974), Fiama Hasse Pais Brandão; 5. Fala de um homem afogado ao largo da senhora da guia no dia 31 de agosto de 1971, de Toda a terra (1976), Ruy Belo;
Sun, 31 Mar 2024 - 56min - 168 - Francisco Geraldes (II): "Ele (Charles Bukowski) diz que a poesia é o nosso último reduto de salvação, e eu concordo muito."Sat, 23 Mar 2024 - 42min
- 167 - Francisco Geraldes (I): "Quando ouço fado estou em casa, estando em minha casa ou em Abu Dhabi."
O nosso convidado de hoje é jogador de futebol, leitor, e autor de um livro de poesia. Francisco de Oliveira Geraldes nasceu em Lisboa a 18 de Abril de 1995, e é actualmente jogador no Joho, na Malásia. Formou-se no Sporting Clube de Portugal, onde esteve quase 18 anos, passou pelo Eintracht de Frankfurt , na Alemanha, e pelo AEK de Atenas, na Grécia. Regressou a Portugal para jogar como médio ofensivo do Estoril Praia, de onde saiu há poucos meses para Abu Dhabi, e de lá para a Malásia. Vem ao podcast “O Poema Ensina a Cair” para nos falar dos poemas de que mais gosta, também porque em 2021, publicou um livro de poesia chamado “Cito, Longe, Tarde” com prefácio de Pilar del Rio. Poemas primeira parte: Quase – Mário de Sá-Carneiro David Mourão-Ferreira – Abandono Poema Sujo – Ferreira Gullar Poema em Linha Recta – Álvaro de Campos Operário em Construção – Vinicius de Moraes
Sat, 16 Mar 2024 - 51min - 166 - Rodrigo Leão (II): "No Frágil, por acaso, conheci o Al Berto. Mas conheci também o Cesariny e o Herberto Helder."Sat, 09 Mar 2024 - 45min
- 165 - Rodrigo Leão (I): "Comecei a ouvir poesia dita pelo Villaret em casa dos meus pais."
Rodrigo Leão nasceu em Lisboa, em 1964. É o mais velho de 4 irmãos, todos rapazes, com quem partilhou muitos verões da infância e adolescência na Ericeira, numa casa perto do mar, comprada pelo avô materno, matemático. Foi lá, na Ericeira, que compôs as primeiras ideias para o que viria a ser a Sétima Legião, uma das bandas que nos levaram a conhecê-lo, a que se seguiu a Madredeus.
Hoje em dia, muitos anos depois desses dois projetos musicais, conhecemo-lo pela carreira a solo nacional e internacional, mas também pelas incursões no cinema ou no documentário e, inevitavelmente, pelas muitas colaborações que assina com outros nomes da música, dentro e fora de portas. Estamos aqui para falar das suas escolhas poéticas e, olhando para o seu percurso, percebemos que a poesia anda perto há muito tempo. No ano passado lançou O Homem em Eclipse com Gabriel Gomes e Miguel Borges, para assinalar o centenário de Mário Cesariny, mas o projeto Os Poetas que deu corpo a este disco nasceu em 1997 e contava com também Manuel Hermínio Monteiro, então editor da Assírio & Alvim. Nesse primeiro ano gravaram um disco chamado Entre Nós e as Palavras, onde podíamos escutar as vozes de Al Berto, Mário Cesariny, António Franco Alexandre, Herberto Helder e Luiza Neto Jorge. A música era de Margarida Araújo, Rodrigo Leão e Gabriel Gomes.
Para a conversa no podcast trouxe poemas que decorrem desse convívio antigo com poetas portugueses, mas também algumas surpresas.
Poemas:
Pastelaria - Mário Cesariny
O Navio de Espelhos - Mário Cesariny
Toada de Portalegre - José Régio
O Poeta de Pondichéry - Adília Lopes
No sorriso louco das Mães - Herberto Helder
Sat, 02 Mar 2024 - 56min - 164 - Susana Moreira Marques (II): "O Daniel Faria levou-me a coisas completamente inesperadas. Se eu fosse crente achava que era qualquer coisa sobrenatural."
Segunda parte do podcast com a escritora e jornalista Susana Moreira Marques.
Poemas:
- Daniel Faria: “Repito que vivo enclausurado na agilidade de um animal nascido”, de Homens Que São Como Lugares Mal Situados
- Isabel Meyrelles: Livro do Tigre, poema XXV (em Poesia, Quasi Edições)
- Rosa Alice Branco: Concerto ao Vivo, poema que começa “Há uma menina antiga nos teus olhos”
- Mário Cesariny, Autografia
- Wilfred Owen, Cântico da Juventude Condenada
Livro: Vínculos Ferozes, da Vivian Gornick, tradução de Maria de Fátima Carmo, edição D. Quixote
Sat, 24 Feb 2024 - 1h 18min - 163 - Susana Moreira Marques (I): "A poesia tem essa capacidade de súmula e de ir ao âmago das coisas. "
Susana Moreira Marques, jornalista e escritora, nasceu em Agosto de 1976. Estudou Comunicação e Cinema, passou pela BBC, Público, Jornal de Negócios, Antena 1, e ganhou vários prémios, incluindo o Prémio de Jornalismo da UNESCO 'Direitos Humanos e Integração”. É autora de três livros de não ficção literária, o mais recente “Lenços Pretos, Chapéus de Palha e Brincos de Ouro”, um relato de viagem que tem como guia “As Mulheres do meu país”, de Maria Lamas, escrito no final dos anos 40 do século passado. Neste ensaio de narrativa autobiográfica, Susana escreve sobre as mulheres que procurou encontrar no Portugal de agora, ao mesmo tempo que buscava as mulheres que Maria Lamas descreveu e fixou no livro “As Mulheres do Meu País”. Mas, simultaneamente, enquanto nos leva por essa demanda, permite que a conheçamos melhor, às suas memórias pessoais e familiares, às suas reflexões sobre o papel das mulheres, os seus silêncios e omissões, a sua importância como testemunhas silenciosas de uma história colectiva que tantas vezes as votou, e ainda vota, ao anonimato. Diz, a dada altura deste livro, que é uma mulher que escuta. Mais à frente, uma mulher que lê. Conta-nos também que como tantas outras mulheres, está, de certa maneira, à janela, e à espera. Poemas: Adrienne Rich: North American Time, tradução de Maria Irene Ramalho e Mónica Andrade (edição cotovia) Anne Carson: A Beleza do Marido - poema XXI - tradução de Tatiana Faia (edição não-edições) Philip Larkin: An Arundel Tomb, tradução de Vasco Gato Elizabeth Bishop: Uma Arte - Geografia III, tradução Maria de Lourdes Guimarães (Relógio d’Água) Sophia de Mello Breyner: Deriva XIV
Sat, 17 Feb 2024 - 1h 22min - 162 - Ana Paula Tavares (II): "Digamos que foi nestes Cantares de Salomão que eu encontrei muitas maneiras de falar do amor"
Segunda parte da conversa com a poeta, cronista e historiadora angolana Ana Paula Tavares. Poemas: Cantares de Salomão 5:2-8:14 (Nova Versão Internacional) Adélia Prado - Com Licença Poética Warsan Shire - Casa, tradução de Laura Assis Ama Ata Aidoo - Para uma Saia de Seda ao Sol Conceição Lima - O País de Akendenguê Livro: Chinua Achebe, Quando Tudo se Desmorona; Tradução: Eugénia Antunes e Paulo Rêgo, edição Mercado de Letras
Sat, 10 Feb 2024 - 1h 00min - 161 - Ana Paula Tavares (I): "Há dias em que há um poema que nos faz a vida"
Na poesia assina Paula Tavares, em tudo o que escreve que não sejam poemas conhecemo-la como Ana Paula Tavares. Poeta, cronista, historiadora angolana a viver em Portugal desde os anos 90, nasceu na província do Huíla, Sul de Angola, em 1952. Licenciou-se em História, doutorou-se em antropologia da História pela Universidade Nova de Lisboa, tendo obtido o grau de Mestre em Literaturas Brasileiras e Literaturas Africanas de Língua Portuguesa pela Universidade de Lisboa. Publicou o primeiro livro de poesia, Ritos de Passagem, aos 30 anos. Agora, 40 anos depois, acaba de reunir a poesia no livro Poesia Reunida seguido de Água Selvagem, edição Caminho. O seu trabalho poético relaciona-se intimamente com a oralidade do seu país, e explica que não sabendo as línguas que ouviu na infância continua a procurar aquilo que seria essa fonte primordial. Escolheu para o podcast um livro de não poesia e os 10 poemas de que mais gosta. Alguns, precisamente, remontam a esse universo da tradição oral. Poemas (Parte I) Luiza Neto Jorge - O Poema Ensina a Cair A epopeia de Gilgamesh (Tradução de Pedro Tamen) Eugénio de Andrade, Ode a Guillaume Apollinaire Ruy Duarte de Carvalho, A terra que te ofereço Manoel de Barros, o Livro Sobre Nada
Sat, 03 Feb 2024 - 1h 09min - 160 - Isaque Ferreira (II): "A poesia é um transportador de vocabulário inacreditável"
Segunda parte da conversa com Isaque Ferreira, leitor de poesia, programador cultural e bibliófilo. Poemas: Álvaro de Campos – Tabacaria Bernardo Soares – Cruz na porta da tabacaria Filipa Leal – Hoje também os carros dançam Alberto Pimenta – Carta a uma iniciante Joaquim Castro Caldas – Dos poetas Livro de não poesia: Leonora Carrington, O Leite dos Sonhos
Sat, 27 Jan 2024 - 40min - 159 - Isaque Ferreira (I): "Realmente a minha moeda de câmbio é a poesia"
Isaque Ferreira nasceu no Porto em 1974. É leitor de poesia, programador cultural e bibliófilo. Leitor habitual das Quintas de Leitura, no Porto, diz, na verdade, poesia em todo o lado e escutá-lo é um deleite, como terão oportunidade de confirmar nesta conversa. Das suas experiências públicas de leitura e eventos que organiza à volta das palavras dos poetas fazem parte locais como Famalicão, Paredes de Coura (onde programou o festival Realizar Poesia), Póvoa de Varzim, Matosinhos, Vila Nova de Gaia ou Figueira da Foz. Diz com muita naturalidade que a poesia é a sua vida, e será talvez por isso que guarda preciosas edições e histórias com poetas portugueses Poemas: Mário Cesariny – Pastelaria João Habitualmente – Cipreste Adília Lopes – Vieram contar a luz Herberto Helder – Poema IV de As Musas Cegas Rafaela Jacinto – Procissão
Sat, 20 Jan 2024 - 1h 22min - 158 - Jorge Palma (II): "O Cohen é outro que é capaz de me comover"
Segunda parte do podcast com Jorge Palma, um dos maiores compositores e letristas portugueses.
Poemas:
Herberto Helder - conto de "Os Passos em Volta
Al Berto - Acordar Tarde
Lawrence Ferlinghetti - Os Elevadores de Lisboa (dedicado a Jorge Palma)
Sérgio Godinho - A Noite Passada
Natália correia - Queixa das Jovens Almas Censuradas
Sat, 13 Jan 2024 - 1h 06min - 157 - Jorge Palma (I): “A liberdade é um valor máximo para mim"
O nosso convidado de hoje é um dos maiores músicos portugueses. Letrista exímio, compositor multifacetado, um homem que aos 73 anos de idade continua a ver-se como um amador de música, que gosta simultaneamente de se divertir e – muito importante – de pensar. Jorge Manuel de Abreu Palma nasceu a 4 de junho de 1950. Começou a estudar piano aos 6 anos, ao mesmo tempo que aprendia a ler e a escrever. Dos clássicos Bach, Mozart ou Beethoven, passa para outros ambientes musicais e horizontes quando, já a estudar no Liceu Camões, frequenta uma taberna em frente à escola onde havia uma jukebox, e onde escutou, por exemplo, Beatles ou Rolling Stones. Percebeu que o queria era Rock & Roll e, nas suas palavras, mandou o piano e a música clássica às urtigas. Haveria de regressar. Viveu em Copenhaga, em casa de amigos, aquando da revolução de Abril, em Paris, a tocar nas ruas, por exemplo com uma guitarra emprestada por Marine Myriam, ao mesmo tempo que estudava as letras de Brell ou Léo Ferré. Tocou também nas ruas de Lisboa, numa esquina da Rua das Portas de Santo Antão, o que lhe valeu algumas visitas à esquadra de polícia mais próxima. Viveu numa pensão chamada Ninho das Águias, porque gostou do nome quando o leu nas Páginas Amarelas. São muitos anos de carreira, de um percurso musical e artístico longo, que atravessa gerações e corações.
Sat, 06 Jan 2024 - 1h 09min - 156 - O Poema Ensina a Cair em 2023
Neste episódio de balanço do ano de 2023, recupero algumas das respostas e leituras de poesia dos convidados. Uma pergunta que costumo fazer-lhes, sabendo tratar-se de algo que não terá resposta, prende-se com a utilidade da poesia. Os convidados deste ano, que escolheram 10 poemas de que gostam muito para a conversa comigo são: Pedro Cabrita Reis, Tó Trips, Lídia Jorge, Tatiana Faia, Rui Zink, Maria João, Frei Bento Domingues, Carminho, Guilhermina Gomes, Manel Cruz, Rafael Gallo, Nuno Costa Santos, Ana Vidigal, João Taborda da Gama, Rita Taborda Duarte, Miguel Guilherme, João Concha, Ana Rita Bessa, Filipe Raposo e Carlos Ascenso André. Há ainda episódios que não estando neste balanço fazem parte do ano de 2023, nos quais os convidados vêm apenas para conversar sobre um livro ou responder brevemente a algumas perguntas, como é o caso de 9 poetas brasileiros que tive oportunidade de conhecer numa viagem a São Paulo.
Sat, 30 Dec 2023 - 58min - 155 - Carlos Ascenso André - “A literatura é uma forma de combater”
Carlos Ascenso André - "A literatura é uma forma de combater" Professor, poeta, ensaísta e tradutor, Carlos Ascenso André nasceu em Monte Real – Leiria, em 1953. Foi professor de línguas e literaturas clássicas da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde se doutorou em 1990 em Literatura Latina. Tem uma longa carreira dedicada ao estudo e à tradução de literatura latina – seja a da época clássica (Cícero, Virgílio, Ovídio, Séneca), seja a do Renascimento e dos estudos camonianos. É autor de quase 30 livros, três dos quais de poemas. Em todo o trabalho que vem desenvolvendo há 2 temas que lhe têm merecido particular atenção: a literatura e o exílio, por um lado e a poética do amor por outro. Quando pensamos nos projetos de tradução que assinou, temos de destacar, talvez, a Eneida, de Vergílio, em edição bilingue (latim e português), ou A Arte de Amar, de Ovídio, também em edição bilingue, mas podemos dar vários outros exemplos como Horácio ou Tibulo. Poemas: Horácio (séc. I AC) - Melhor vida terás, ó Licínio, se o alto mar Ovídio (séc I) - Heroides, "carta de Dido a Eneias" Catulo (séc. I aC) - Odeio e amo. Por que assim faço, perguntarás, talvez. Pero Meogo (séc. XIII) - Levou-se a louçana, levou-se a velida Luís de Camões - Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades Manuel Alegre - Querida Sophia: como os índios do seu poema Eugénio de Andrade - Arte dos Versos Ary dos Santos - Poeta castrado, não! Sophia de Melo Breyner - Camões e a Tença Miguel Torga - Orfeu Rebelde Carlos André - Prisão de Lüshung
Sat, 23 Dec 2023 - 1h 46min - 154 - A Festa Acabou - 91 Haikus Finais
"A Festa Acabou - 91 Haikus Finais" chegou às livrarias há pouco tempo. Trata-se de um livro de haikus, escritos por monges e poetas japoneses nas imediações da morte. É um projecto do poeta e tradutor Ricardo Marques, convidado deste podcast para nos falar do livro, mas também da "impossível" e sempre inacabada tarefa de traduzir os poemas dos autores de que mais gosta.
Ricardo Marques nasceu em 1983. Vem traduzindo vários autores a partir do inglês, onde se incluem, por exemplo, Billy Collins, Anne Carson e Patti Smith.
Rui Zink nasceu em 1961. É escritor, professor e também ilustrador. Já foi um dos convidados deste podcast para nos falar dos poemas da sua vida.
Os 91 haikus que compõem este livro foram recolhidos do livro "Japanese Death Poems", com selecção e tradução de Yoel Hoffmann.
Wed, 13 Dec 2023 - 26min - 153 - Filipe Raposo
Filipe Raposo é pianista, compositor e orquestrador. Iniciou os seus estudos de piano no Conservatório Nacional de Lisboa, e fez depois o mestrado em Piano Jazz Performance no Royal College of Music, em Estocolmo, e foi bolseiro da Royal Music Academy of Stockholm. É licenciado em Composição pela Escola Superior de Música de Lisboa. Colabora regularmente como compositor em Cinema e Teatro. Fez, por exemplo, a música original do documentário “um corpo que dança – ballet Gulbenkian 1965-2005” de Marco Martins. Como compositor, orquestrador e pianista tem colaborado com inúmeras orquestras europeias, a solo ou com diferentes formações em festivais internacionais. Em Portugal, trabalhou com nomes tão sonantes quanto Sérgio Godinho, José Mário Branco, Camané, Vitorino, Jorge Palma ou Rita Maria, com quem desenvolveu vários projetos. Desde 2004 que colabora com a Cinemateca Portuguesa como pianista residente no acompanhamento de filmes mudos. Editou vários discos em nome próprio, o último dos quais chamado Obsidiana, em 2022. Vem conversar comigo sobre os poemas da sua vida, o que significa, conversar sobre as inquietações e inquietudes, a errância associada à procura, condições absolutamente fundamentais – nas suas palavras – a quem faz da criação um modo de vida e de estar. Poemas: 1. Entre o deserto e o deserto , António Ramos Rosa 2. Uma manhã no golfo de Corinto, António Patrício 3. Quem à janela , Amélia Muge 4. Gramática do olhar , Ana Luísa Amaral 5. Estrela do Vinho, Li Bai (VIII D.C. China) 6. Fragmentos , Anacreonte (VI A.C. Grécia) 7. Sabedoria , Al Mutahmid 8. Que saudável é por as mãos a fazer coisas, João Pedro GrabatoDias 9. A Tentação, Hélia Correia 10. Sono de Ser, Fernando Pessoa
Fri, 08 Dec 2023 - 1h 44min - 152 - Ana Rita Bessa
Ana Rita Bessa nasceu a 27 de agosto de 1973. É economista de formação, mãe de 3 filhos e católica. O seu percurso profissional inclui mais de 25 anos em empresas mas terá sido a passagem pelo parlamento, no grupo parlamentar do CDS a convite de Paulo Portas, que lhe deu maior visibilidade pública.
É atualmente CEO do grupo Leya, empresa onde trabalhou antes de experimentar a política, na área da educação. Disse, em entrevistas anteriores, que mais do que uma paixão a educação é uma inquietação, e disse também que quem esteve na política fica sempre com uma certa adrenalina, um interesse permanente.
Gosta de ler ficção literária e ensaio na linha da história, e disse numa outra entrevista, que o esculpir da palavra que encontra na literatura é uma coisa que às vezes até a comove.
Poemas:
- Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio, Sophia de Mello Breyner Andresen - Amar , Carlos Drummond de Andrade - Foi Deus, Alberto Janes - Ela Canta, Pobre Ceifeira, Fernando Pessoa - Ainda não é o fim nem o princípio do mundo, Manuel António Pina
- Guia de conceitos básicos, Nuno Júdice
- Poema, Manoel de Barros - Procissão, António Lopes Ribeiro
- Amigo, Alexandre O’Neill
Sat, 25 Nov 2023 - 1h 56min - 151 - João Concha
João Concha nasceu em Évora, em 1980, e vive em Lisboa desde os dezoito anos. Licenciou-se em Arquitectura, estudou artes visuais e ilustração. A prática do desenho e da pintura começou, na verdade, antes dos 10 anos, ainda na sua cidade natal, onde todas as semanas aprendia com a pintora e professora Teodolinda Pascoal. Para si, o desenho é, também, observação e respiração. Enquanto ilustrador colaborou regularmente com fanzines, periódicos e várias editoras. Tem exposto individual e colectivamente. Está particularmente interessado no gesto, na imperfeição e no erro. Foi editor da Revista INÚTIL, com Ana Lacerda e Maria Quintans, publicação de escrita e imagem que teve o seu último número publicado em 2012. Fundou depois a não (edições), projecto que em 2023 assinala os 10 anos de existência e do qual é editor. Dedica-se à publicação de poesia e procura pensar-fazer a multiplicidade ‘em aberto’ que esse campo literário significa, acolhendo o diálogo entre formas textuais e visuais, em edições demoradas… Experimentação, cumplicidade e incerteza fazem parte da não-agenda e dos processos de trabalho, que sempre começam e recomeçam na leitura. POEMAS: Fernando Pessoa, Conselho João Guimarães Rosa, A Menina de Lá Ana Hatherly, O Vermelho por Dentro Ruy Belo, Oh as casas as casas as casas Ana Cristina César, "Trilha sonora ao fundo..." António Gancho, Epicentro Waly Salomão, Fábrica do Poema Manoel de Barros, poema 11 de "Biografia do Orvalho" Adília Lopes, O Enterro Susana Araújo, Programa de Estabilidade e Crescimento
Wed, 15 Nov 2023 - 1h 58min - 150 - Miguel Guilherme "cada poema é um mundo em si"
Miguel Guilherme nasceu em Lisboa, em 1958. Conhecemo-lo do teatro, cinema e televisão há muitos anos. Actor e encenador começou, no entanto, por estudar antropologia, antes de experimentar a representação no Teatro na Comuna para nunca mais a deixar. Anos mais tarde, voltaria a tentar estudar História de Arte porque, acredita que “a história é a ciência humana mais viva que existe”. A sua relação com a poesia não é constante. Confessa, aliás, que tem muita coisa para descobrir, mas começou precocemente quando leu um livro de Bocage que havia lá em casa, pelos 12 anos. Muitos anos mais tarde viria a assumir esse personagem na série de televisão com o mesmo, Bocage, exibida em 2006. Poemas: Bocage “ Meu ser evaporei na lida insana…” “ Já Bocage não sou…” Fernando Pessoa “ Vive, dizes no presente… “ Álvaro de Campos “ Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra …” Ricardo Reis Os Jogadores De Xadrez David Mourão Ferreira Ternura Sofia de Mello Breyner. O Jardim Manuel António Pina Neste preciso tempo, neste preciso lugar Insónia Adília Lopes A Salada Com Molho Cor-de-Rosa
Wed, 15 Nov 2023 - 1h 52min - 149 - Rita Taborda Duarte
Rita Taborda Duarte nasceu em Lisboa, em 1973. Estreou-se na poesia em 1998 com “Poética Breve”, publicado na Black Sun Editores, mas começou a escrever poemas muito cedo, a escrever e a decorar. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, com um mestrado em Teoria da Literatura, é docente na Escola Superior de Comunicação Social. Poeta, crítica e professora, já este ano publicou a poesia reunida na Imprensa Nacional com um volume chamado Não Desfazendo, mas tem também um longo percurso na literatura infanto-juvenil.
Wed, 15 Nov 2023 - 1h 57min - 148 - Alice Sant´Anna, Inês Campos, Leonardo Gandolfi, Mar Becker, Marília Garcia, Natália Agra, Michaela Schmaedel, Salma Soria e Tarso de Melo
Nesta emissão do podcast viajamos até a São Paulo, Brasil, para conhecer melhor 9 poetas brasileiros contemporâneos: Alice Sant´Anna, Inês Campos, Leonardo Gandolfi, Mar Becker, Marília Garcia, Natália Agra, Michaela Schmaedel, Salma Soria e Tarso de Melo. As breves entrevistas que se seguem foram realizadas no âmbito de uma leitura conjunta de poesia brasileira e portuguesa, num espaço chamado A Casinha dos Círculos de Leitura, em São Paulo. Foi lá que nos encontrámos e nos conhecemos pessoalmente e que, antes e depois do encontro com o público, gravámos estas pequenas conversas.
Wed, 15 Nov 2023 - 1h 15min - 147 - Miguel Martins
Miguel Martins nasceu em Lisboa, em 1969. O primeiro poema publicado apareceu em 1991, num jornal da Ilha Terceira que já não existe chamado “A União”. Para essa primeira publicação contribuiu o poeta Emanuel Félix, uma das escolhas que nos traz hoje. O primeiro livro de poesia, uma plaquete chamada “Seis Poemas para uma Morte”, chega 4 anos depois, em 1995, e, desde então, não parou de publicar e de traduzir, assim como de se envolver em muitos projectos relacionados com a poesia, mas também a música ou a escrita de letras de canções.
Wed, 15 Nov 2023 - 1h 28min - 146 - Juan Gabriel Vásquez
Juan Gabriel Vásquez nasceu em Bogotá, Colômbia, em 1973. Estudou Literatura na Sorbonne, em Paris e fez de Barcelona a sua casa por mais de uma década. Os seus livros estão publicados em 30 idiomas e mais de 40 países, com extraordinário êxito da crítica e do público. Venceu por duas vezes o Premio Nacional de Periodismo Simón Bolívar pelo seu trabalho jornalístico. No ano de 2012 foi-lhe atribuído em Paris o prémio Roger Caillois pelo conjunto da sua obra, prémio anteriormente consagrado a autores como Mario Vargas Llosa, Carlos Fuentes, Chico Buarque, Milton Hatoum e Roberto Bolaño.
Vem ao podcast "O Poema Ensina a Cair" conversar sobre o seu primeiro livro de poesia, que foi editado em Espanha em 2022, chamado Cuaderno de Septiembre".
Wed, 15 Nov 2023 - 21min - 145 - João Taborda da Gama
João Taborda da Gama nasceu a 18 de fevereiro de 1977. Sócio fundador de uma sociedade de advogados, advogado especializado no direito das substâncias controladas, professor de direito fiscal na Universidade Católica Portuguesa, comentador político. Foi consultor do Presidente da República e Secretário de Estado da Administração Local.
É filho único e pai de 6 filhos. Crente, não sabemos se praticante, converteu-se ao catolicismo já adulto, depois de ler uma bíblia em inglês que havia em casa dos pais. Fala da experiência religiosa como uma interpelação interna permanente, uma busca em que as respostas vêm de dentro, não de fora e, no limite, podem até não vir.
Considera que a arte é o verdadeiro portal para o transcendental, porque abre portas para a beleza, e que essas portas são fundamentais para aliviar o nosso sofrimento e simultaneamente nos mostrar que as coisas podem ser melhores.
Sun, 30 Jul 2023 - 2h 00min - 144 - Luís Filipe Castro Mendes
Luís Filipe Castro Mendes nasceu em Idanha-a-Nova, em 1950. Devido à profissão do pai, que era juiz, passou a infância e a adolescência a saltar de lugar e por isso viveu em Idanha-a-Nova, Angra do Heroísmo, Lisboa, Ilha de S. Jorge, Redondo, Chaves e Leiria. Entre 1965 e 1967, portanto, entre os 15 e os 17 anos, foi colaborador do jornal Diário de Lisboa-Juvenil. Poderíamos pensar que estudaria jornalismo ou literatura, mas acabaria por se licenciar em Direito, na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, em 1974. A partir de 1975 deu início a uma carreira diplomática longa que, uma vez mais, o levaria a uma vida sem geografia fixa. Rio de Janeiro, Luanda, Paris, Budapeste ou Nova Deli, são alguns dos locais onde viveu e trabalhou.
Em simultâneo com a carreira diplomática publicou poesia, muitos livros, alguns reconhecidos com prémios literários. Publicou também ficção e ensaio. Já este ano saiu pela editora labirinto “Um Estranho Animal de Duas Cabeças – o Escritor Diplomata”, um livro que reúne escritos sobre poesia e poetas, assim como a apresentação da sua poesia pelo próprio autor.
Foi Ministro da Cultura de 2016 a 2018. É cronista do Diário de Notícias. Recentemente escreveu numa das crónicas “a poesia abre janelas para o que nos transcende, mas não nos desvia da atenção permanente ao mundo em que vivemos.”
Sun, 16 Jul 2023 - 1h 43min - 143 - Ana Vidigal
Ana Vidigal nasceu em Lisboa, em 1960. Formou-se em Pintura na Escola Superior de Belas Artes e foi bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian.
É conhecida a sua propensão para o arquivo de tudo o que possa ser útil para o trabalho, mas também, eventualmente, para a memória – a pessoal e familiar e a da história. Papéis, cartas, tecidos, fotografias, filmes, desenhos infantis, e mais e mais.
Expôs dezenas de vezes individual e colectivamente, e usou tanto frases suas como de outras pessoas para dar título às mostras. Damos alguns exemplos: “conheço o amor de ouvir falar”, “tenha sempre um plano b”, “A Ana, o Nuno e o meu filho Egas”, esta última uma frase recorrente da mãe.
Cresceu numa família conservadora e diz que aos 13 anos, quando se deu o 25 de Abril, percebeu que afinal poderia vir a ser aquilo que quisesse, porque a expectativa geral em relação ao papel das mulheres se alterou com a chegada da liberdade, e foi nessa altura que percebeu que não teria de contrariar os ventos para pôr em prática o seu sonho de ser pintora.
Começou a pintar cedo, e tem isso em comum com uma das avós. A leitura de poesia chegou na adolescência por causa de uma professora e de uma explicadora de Português. Também gosta de ficção e talvez a sua escritora de eleição seja Clarice Lispector, autora que conheceu aos 22 anos numa viagem de autocarro de Vitória para o Rio de Janeiro, no Brasil. Explica que com Clarice Lispector e o livro “uma aprendizagem ou o livro dos prazeres” aprendeu a não perder o momento.Sun, 02 Jul 2023 - 2h 04min - 142 - Nuno Costa Santos
Nuno Costa Santos nasceu em 1974 e é escritor e argumentista. Cresceu nos Açores, de onde saiu aos 18 anos, para regressar aos 45 "como um marinheiro que volta a casa", podemos dizer agora que acabámos de ler o seu mais recente livro.
Tem trabalhado em vários géneros: romance, poesia, biografia, crónica e peças de teatro. No audiovisual, fez parte da equipa de programas como “Zapping” ou “Os Contemporâneos”, participou, como argumentista, no filme "Discos Perdidos" e nos documentários biográficos "Ruy Belo, Era uma Vez", “Rui Knopfli: I am really the underground” e “J.H. Santos Barros – Fazer Versos Dói”.
A personagem melancómico, que, nas suas palavras, criou para “encontrar um conforto na abstracção urbana”, teve diversas consagrações – do livro à rádio. Assina colaborações em diferentes jornais e revistas. É um dos fundadores da produtora Alga Viva, com sede nos Açores, dirige a revista literária Grotta e o Encontro Arquipélago de Escritores.
Em 2023, lançou o livro “Como um Marinheiro eu Partirei, Uma Viagem com Jaques Brel”, que abre com o poema "You are welcome to Elsinore", de Mário Cesariny.
Sun, 18 Jun 2023 - 1h 53min - 141 - Rafael Gallo
Rafael Gallo nasceu em São Paulo, no Brasil, em 1981. Começou por desejar ser desenhador. Na adolescência decidiu por outro caminho e formou-se em música pela Universidade Estadual de São Paulo, fez um mestrado em meios e processos audiovisuais, e estudos na área de música para cinema. A dada altura, por volta dos 30 anos, abandonou a carreira musical para se dedicar à escrita. Esta opção acabaria por se revelar difícil de manter sem apoios e, por essa razão, para conseguir pagar as contas, viu-se obrigado a encontrar um emprego. Trabalhou no Tribunal de Justiça e descreve essa experiência como “um choque muito grande”, um estranhamento enorme”, “um trabalho burocrático sem graça”.
Podemos talvez dizer que o livro "Dor Fantasma", que acabaria por vencer o prémio José Saramago em 2022, nasce desse estranhamento e do que ele fez ao nosso convidado. A personagem principal de Dor Fantasma, Rómulo Castelo, é um pianista que a dada altura da vida vê uma das mãos amputadas na sequência de um acidente. Rafael Gallo ter-se-á visto amputado da sua natureza artística quando ficou fechado numa repartição a fazer um trabalho burocrático, mas desse estado de espírito nasceu "Dor Fantasma", e depois o reconhecimento com o Prémio Saramago, e com esta distinção uma espécie de um novo ser humano, renascido.
Autor de ficção e de conto, já arriscou também escrever poesia, mas não crê ser ainda um grande poeta.
Sun, 04 Jun 2023 - 1h 46min - 140 - Manel Cruz
Manel Cruz nasceu em 1974, em São João da Madeira. Conhecemo-lo devido aos vários projetos musicais que abraçou e fundou, mas a veia artística do nosso convidado começou por manifestar-se através do desenho, e muito prematuramente. Explica que em casa sempre se valorizou e priorizou a importância da arte, e foi isso que lhe permitiu encarar o desenho como uma extensão da sua vida durante muito tempo, de tal modo que não se lembra de não desenhar. Foi assim até arriscar outra forma de expressão artística e nos oferecer a todos vários projetos musicais, onde se inclui esse marco da música portuguesa chamado Ornatos Violeta. Além da música interessam-lhe as várias formas de expressão artística, e mais recentemente, além da composição, das letras e da ilustração, tem arriscado escrever poesia.
Sun, 21 May 2023 - 1h 54min - 139 - Guilhermina Gomes
A nossa convidada de hoje é a editora Guilhermina Gomes, nome que associamos desde logo à edição do Círculo de Leitores, mas também ao catálogo da Temas e Debates. História, ensaio, literatura tradicional, ciência, política, filosofia, neurociência, psicologia ou arte, são alguns dos temas a que se vem dedicando ao longo de quase 40 anos, na esperança de que os livros que publica acabem por encontrar os seus leitores.
A condição de leitora será, nas suas palavras, a sua parte mais importante, e também uma das mais precoces. Nasceu em 1952, no Seixal, Foros de Amora, numa família de contadores de histórias, lendas e fábulas. O pai coleccionava lendas que o jornal “O Século” organizava em cadernetas, a avó e o avô contavam histórias em família. Quis o destino que padecesse de várias doenças que as crianças têm – uma ou duas por ano - e que, portanto, durante a infância ficasse de cama várias temporadas. Horas aproveitadas a ler e a escutar as histórias que lhe contavam. Disse numa entrevista “era tanta história, tanta viagem, que eu, obviamente, tinha de ficar uma grande leitora”.
No catálogo que publicou contam-se obras muito importantes da cultura portuguesa, "História de Portugal", de José Mattoso é um exemplo, mas também a obra completa de Padre António Vieira (em 30 volumes), ou os "Contos de Grimm".
Mon, 08 May 2023 - 1h 54min - 138 - Carminho
Conhecemo-la por Carminho mas chama-se Maria do Carmo Rebelo de Andrade, e nasceu em 1984. Logo aos 2 anos de idade, e segundo as suas palavras, começou a falar e a cantar. Filha da conceituada fadista Teresa Siqueira, cresceu entre canções e guitarras, noites de fado em casa a que podia assistir de pijama e ao colo do pai, e até se estreou a cantar em público aos 12 anos no Coliseu dos Recreios, mas a primeira vez que escolheu o que queria ser quando fosse grande decidiu ir estudar marketing e publicidade. Terminou o curso, percebeu que não era bem aquilo, e foi dar a volta ao mundo ao longo de 1 ano. Dessa viagem grande vem a decisão de mudar o seu destino . Estava dentro do avião de regresso a Lisboa quando decidiu que queria cantar, arriscar cantar, e foi o melhor que fez. Estreou-se com o disco "Fado", em 2009. Passaram 14 anos e acaba de lançar o sexto chamado “Portuguesa”. Pelo caminho, vários trabalhos de consolidação de um talento português, sim, mas sem medo de abrir horizontes além-fronteiras.
Mon, 24 Apr 2023 - 2h 07min - 137 - Frei Bento Domingues
Chama-se Basílio de Jesus Gonçalves Domingues, nasceu em 1934 em Travassos, Terras do Bouro, mas em 1953 tomou o nome de Frei Bento Domingues, quando entrou para Ordem dos Pregadores ou frades dominicanos. Estudou Filosofia em Fátima e Teologia em Salamanca, Toulouse e Roma. Na infância fazia sermões às ovelhas com quem partilhava os montes e o eco dos penedos. Disse em entrevistas anteriores que viveu sempre no espanto, e é muito bonita e poética uma pergunta que já fazia nos primeiros anos de vida: “como é que as pessoas ainda não tocaram o céu?”. Aos 13 anos decidiu que o caminho seria o do serviço aos outros através da religião por causa de um padre brasileiro a viver em França que estava de férias em Portugal, e que fazia pregações cheias de parábolas sobre as pessoas do campo mas, sobretudo, cheias de alegria. Uma proposta diferente da que o nosso convidado conhecia, já que cresceu num ambiente em que predominava a religião do medo. O medo é precisamente aquilo que Frei Bento Domingues recusa na relação de qualquer ser humano com Deus ou com a religião e será essa uma das suas bandeiras. Volto a citá-lo quando diz “eu não admito que se assuste ninguém. Para mim a religião é a alegria.”
Sat, 08 Apr 2023 - 1h 47min - 136 - A. M. Pires Cabral
António Manuel Pires Cabral nasceu em Chacim, Macedo de Cavaleiros, em 1941. Foi lá que fez a instrução primária, para depois frequentar em Coimbra o curso complementar dos liceus e, de seguida, a Faculdade de Letras, onde se licenciou em Filologia Germânica.
Foi professor em Macedo de Cavaleiros, Bragança, Porto, Torre de Moncorvo, mas viria a mudar-se para Vila Real depois da revolução de 1974, e foi essa a cidade onde ficou até hoje, e onde estamos hoje. Fala de Vila Real de Trás os Montes como a terra a quem deve tudo, e também, talvez a poesia que vem escrevendo, desde que publicou o primeiro livro quando tinha 33 anos.
Além do ensino, A. M. Pires Cabral, nome usado para assinar os livros, trabalhou no Pelouro da Cultura de Vila Real e no Grémio Literário da mesma cidade. A par destas atividades, escreveu e publicou muitos livros de poesia, romance, conto e teatro, e foi responsável por um dicionário de regionalismos de trás os montes e alto douro, um projeto que leva muitos anos de trabalho e que o enche de orgulho. Além dos muitos prémios literários, do seu percurso destaca-se também a organização das Jornadas Camilianas. Disse-me, numa ocasião em que conversámos há uns anos, que a poesia serve para apaziguar sem anestesiar.
Mon, 27 Mar 2023 - 1h 22min - 135 - Maria João
Conhecemo-la pelos dois nomes próprios, Maria João. Chama-se Maria João Monteiro Grancha, nasceu em Lisboa, em 1956. É filha de pai português e mãe moçambicana. Da primeira infância guarda recortes de África, onde passava as férias, e as alcunhas da escola, pelo facto de ser “gordinha”, ter cabelo encrespado, e de usar óculos. Uma das alcunhas era Gungunhana, e defendia-se dessas agressões com o corpo – “um murro aqui um pontapé ali”. A resistência da infância aos abusos verbais dos colegas deu lugar a uma rebeldia adolescente, que a levou a ser expulsa ou convidada a sair de 5 colégios. Disse em várias entrevistas, referindo-se às dores de cabeça que provocava em casa: “minha pobre mãe”. A mesma mãe, que decidiu tentar o desporto para aquietar a filha. Primeiro natação, depois Yoga, Judo e Karaté, e só depois Aikido – que acabou por revelar-se transformador. Além de lhe trazer disciplina, valeu-lhe um cinturão negro, muito orgulho, e uma outra perspectiva sobre o que é ter regras e fazer simultaneamente conquistas. Além disso, reconhece, ajuda-a a cantar, porque trabalha o diafragma. Nunca lhe ocorreu fazer da voz o instrumento da sua profissão. Um dia, num balneário de uma escola de natação, começou a cantar com uma colega cantora de ópera chamada Cândida, e teve noção da sua amplitude vocal. Uns anos mais tarde, aos 26 anos, entrou para a escola do Hot, e a partir daí o percurso de Maria João é o que sabemos. Muitos discos, muitos palcos em Portugal e fora, diferentes ambientes musicais, sempre a mesma liberdade e a mesma vontade de experimentar e improvisar.
Mon, 13 Mar 2023 - 1h 31min - 134 - Leituras: Diego Doncel
Leitura de um poema de Diego Doncel por Raquel Marinho. Música de João Paulo Esteves da Silva. Livro: Em Nenhum Paraíso, tradução e introdução de Joaquim Manuel Magalhães, edição Averno
Thu, 09 Mar 2023 - 07min - 133 - Rui Zink
Rui Zink nasceu em Lisboa, em 1961, e cresceu na zona do Martim Moniz. Foi a partir dali que começou a conhecer o mundo e disse numa entrevista que os locais são as nossas âncoras e que, portanto, uma das suas ancoras está associada ao início do país. Conhecemo-lo sobretudo como escritor, mas é muitas outras coisas: professor universitário, dramaturgo, comentador, colaborador de jornais e revistas, argumentista de BD – escreveu, de resto, a primeira tese de doutoramento sobre Banda Desenhada em Portugal. Queria ser escritor desde os 16 anos, e aos 18 escreveu o primeiro romance. Chamava-se Maionese Fatal, nunca foi publicado. Em 1986 publicou o primeiro livro, Hotel Lusitano, “uma sensação magnífica, de embriaguez". Uma das suas palavras preferidas é a palavra “atenção”, e disse em entrevistas anteriores que o seu método criativo é, precisamente, estar o mais possível atento. Mas, na opinião de Rui Zink, para escrever é preciso mais do que isso, nomeadamente ler e ler muito. Volto a citá-lo: “Um escritor que não tenha uma biblioteca dentro da cabeça, obviamente que é meio escritor apenas”. Tem muitos livros publicados, de ficção, banda desenhada, ensaio, crónica, teatro e ópera, e vários prémios literários, entre os quais o Prémio PEN Club Português de Novelística pela novela Dádiva divina, em 2004. Disse, há alguns anos, numa mesa das Correntes d´Escrita da Póvoa de Varzim, uma frase que me parece um bom pontapé de saída para esta conversa: "Brincar é a religião suprema, a forma mais séria de viver."
Mon, 27 Feb 2023 - 1h 47min - 132 - Tatiana Faia
Tatiana Faia nasceu a 30 de Junho de 1986, e vive e trabalha em Oxford há uma década. É autora de um livro de contos e 5 de poesia. O mais recente, Adriano, edição Não Edições. Classicista por opção e, arriscaria eu dizer, também paixão, é doutorada em Literatura Grega Antiga com uma tese sobre a Ilíada de Homero. Ensinou literatura lusófona na Universidade de Cambridge e, intermitentemente, estudou teatro grego e Kavafis em Atenas. A tradução é outra das suas ocupações – de resto, teve a gentileza de traduzir também para esta conversa. Traduziu Homero, Fílon de Alexandria, Anne Carson e Herman Melville. É uma das editoras da revista Enfermaria 6 ao lado de João Coles, José Pedro Moreira e Victor Gonçalves, um projecto onde encontramos amiúde traduções de poesia, reflexões e textos sobre livros, e que faz também edição. Quando pensamos na geografia de Tatiana Faia pensamos no Reino Unido, onde escolheu viver, mas também em Itália e na Grécia, países a que regressa sempre, seja fisicamente seja nas leituras. Em 2019 venceu o Prémio Pen de Poesia com “Um Quarto em Atenas”, edição Tinta da China. Acredita que a poesia deveria fazer parte da educação de toda a gente.
Mon, 13 Feb 2023 - 1h 53min - 131 - Lídia Jorge
Lídia Jorge nasceu em Junho de 1946, em Boliqueime. Cresceu numa casa onde as pessoas gostavam de ler e de contar histórias em família: ambos os exemplos terão contribuído para se tornar escritora.
Licenciou-se em Filologia Românica, um curso superior apenas possível devido a uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian. Nas palavras de Lídia, esta oportunidade foi tão importante que construiu a sua vida.
Estreou-se a publicar em 1980 com o romance “O Dia dos Prodígios”, já depois de regressar de África, onde passou alguns anos a leccionar. Precisou de muito tempo para assimilar esta experiência, de ver matar e morrer, da condição humana desprovida de valores fundamentais, da desinteligência.
Desde esse primeiro livro, publicou muitos outros, de romance, conto e poesia, e foi amplamente premiada em Portugal e no estrangeiro.
Acaba de lançar Misericórdia, um livro que responde “sim” a um pedido de sua mãe, que morreu em 2020 numa instituição de solidariedade social no Algarve, vítima de covid 19.
Mon, 30 Jan 2023 - 1h 44min - 130 - Tó Trips
Conhecemo-lo por Tó Trips, mas chama-se António Manuel Antunes. Nasceu em Lisboa, em 1966, e passou a infância entre o bairro de Benfica, em Lisboa, e a Covilhã, terra da mãe, local eleito para as férias grandes. O primeiro contacto com a guitarra foi lá, quando experimentou sacar as notas de Smoke on the Water, dos Deep Purple, de uma guitarra emprestada por um tio. Depois, pela adolescência, começou a frequentar o Rock Rendez-Vous e o Johnny Guitar. Disse numa entrevista que foi para a música para ver os outros tocar e, de facto, começa aí, nesse contacto a sua ligação às bandas. E dizemos bandas no plural porque foram várias. Os Dead Combo são o projecto mais conhecido e internacional, que criou ao lado de Pedro Gonçalves, mas também os Lulu Blind, e muitas outras.
Antes de se dedicar exclusivamente à música, trabalhou em publicidade durante 10 anos. Foi nesse contexto que aprendeu, com um director criativo finlandês, uma das frases que gosta de guardar: “criativos não são as pessoas que têm as ideias, criativos são aqueles que as fazem.”
E Tó Trips faz, mesmo que esse verbo “fazer” seja sinónimo de correr riscos. Um dia, trabalhava ainda em publicidade, leu uma entrevista do Paulo Pedro Gonçalves, dos Heróis do Mar, na qual ele dizia que as pessoas não se deviam arrepender e deviam sempre arriscar. Leu aquilo, despediu-se do emprego, largou os Lulu Blind, largou a namorada, e fez um reset para poder tornar-se freelancer e dedicar-se mais ao seu instrumento.
Mon, 16 Jan 2023 - 1h 38min - 129 - Pedro Cabrita Reis
Pedro Cabrita Reis nasceu em Lisboa, em 1956, cresceu em Lisboa, no bairro de Campo de Ourique, mas renasceu no Algarve, na serra que escolheu para as pausas da vida em Lisboa, e onde quer ficar quando morrer, debaixo de uma alfarrobeira e junto ao seu primeiro cão.
Artista total, com reconhecimento nacional e internacional, vê-se como um construtor – disse numa conferência que a espinha dorsal ou o território do seu trabalho está preso ao acto da construção -, e, por isso, alguém que reivindica para si a designação de homo faber, que faz, faz, faz.
E faz pintura, desenho, escultura, fotografia, instalações, num trabalho sobre a matéria que põe várias artes a dialogar em simultâneo, onde a base será sempre a curiosidade - nas suas palavras “provavelmente, a ferramenta mais poderosa do artista” -, e uma busca permanente pelo momento primordial, uma vez que acredita que “a criação de uma obra de arte é também uma necessidade intensa e profunda (…) de descobrir uma origem.”
Mon, 02 Jan 2023 - 1h 45min - 128 - Aldina Duarte
Aldina Duarte nasceu em Lisboa, em 1967. Quando era pequena, durante um período de tempo, quis ser escritora. Leitora precoce, começou por acreditar que o que lia nos livros era tudo verdade e existia, até descobrir que havia uma coisa chamada imaginação, e foi dessa revelação que nasceu a vontade de escrever. Cito-a numa entrevista já antiga: “Foi a única profissão que quis ter; se afinal se pode inventar o mundo e a vida como queremos…”. Foi residente durante 25 anos numa das mais reconhecidas casas de fado de Lisboa, o Sr. Vinho, sob direcção artística de Maria da Fé. Estreou-se a cantar para os outros no teatro da Comuna, em 1994, quando organizava as Noites do Fado com o também fadista e ex marido Camané, e uma letra de Manuela de Freitas chamada “Antes de Quê”, que nunca mais deixou de cantar. Tem com a música e a literatura uma relação de amor, e explica que ambas podiam salvá-la. Diz que a profissão de fadista a obriga a estar em contacto com os seus sentimentos diariamente, e que tudo o que acontece na sua vida interfere com os seus fados, assim como tudo o que acontece nos seus fados interfere com a sua vida. Neste sentido “ser fadista é uma arte que se confunde com a vida (…) vivemos entre o abismo e o céu”.
Mon, 19 Dec 2022 - 1h 56min - 127 - Vasco Gato
Vasco Gato nasceu em 1978 e lançou o primeiro livro de poesia no ano 2000, na Assírio & Alvim. Publicou, desde então, mais de 20 títulos, a maioria de poesia, mas também um romance, um texto para teatro, um poema integrado num objecto fílmico e um texto para um espectáculo multidisciplinar. Quase tão precoce como a estreia na poesia, é a actividade de tradução, do inglês, mas também do espanhol e italiano. Desde 2002 e até agora, traduziu mais de 35 títulos, onde encontramos, por exemplo, Javier Marias, Edgar Allan Poe, Virginia Woolf, Charles Bukowski, Juan Gabriel Vásquez, Manuel Vilas ou Nick Cave. Bom aluno desde sempre, em parte devido à particular atenção nas aulas pelo facto de ser introvertido, estudou um ano de Economia e depois mudou para Filosofia. Desistiu de Economia porque o curso “não tinha nada de expressivo, de pessoal” – são palavras suas – e acabou por deixar cair também o curso de Filosofia porque havia uma orientação para formar professores, e Vasco Gato não queria leccionar. Nos primeiros anos de vida, ter-lhe-á passado pela cabeça ser jogador de futebol, mas a verdade é que nunca teve uma ideia muito clara sobre o que queria ser quando crescesse, e também nunca partilhou da ideia de que a vida tinha de ser planeada, sobretudo com vista a delinear uma carreira.
Mon, 05 Dec 2022 - 1h 41min - 126 - Ricardo Ribeiro
Ricardo Ribeiro nasceu na maternidade Alfredo da Costa em Lisboa, em Agosto de 1981, mas considera que realmente nasceu no bairro onde disse a primeira palavra, o bairro da Ajuda. Era nesse bairro que procurava as tabernas para escutar o que os velhos diziam, e foi também lá que se estreou a cantar ao vivo, no Grupo Desportivo "A Académica da Ajuda", quando tinha apenas 12 anos. Das colectividades para as casas de fado, das casas de fado para os discos e para um reconhecimento que assenta no fado, mas onde também cabem outros ambientes musicais. Em 2019 lançou o álbum Respeitosa Mente, em colaboração com João Paulo Esteves da Silva e Jarrod Cagwin, um disco de “canções e poesia” que dá voz às palavras de poetas e que apareceu, como explicou numa entrevista devido a “uma necessidade [que vinha] de uma determinada vida interior poética, musical e artística.” É essa vida interior poética que vamos tentar hoje conhecer melhor, através dos poemas que nos traz e que, nalguns casos, já foram cantados por si. Mas antes de iniciarmos a conversa, podemos ainda dizer que Ricardo Ribeiro foi uma criança tímida, que os primeiros contactos com a música lhe chegaram pela voz da mãe que cantava em casa, e pelo gira-discos da tia, a pessoa que o inscreveu para cantar em público pela primeira vez numa colectividade da Ajuda de que já falámos e com quem ia para os fados quando vinha a casa nos fins de semana dos tempos do colégio interno, que tem várias alcunhas e uma delas é uma delas é o Ricarábe por causa do gosto pela cultura árabe, e que chegou a pensar seguir o caminho sacerdotal porque encontrava conforto na mensagem religiosa mas um padre muito importante na sua formação ter-lhe-á dito “A tua missão também é do divino, mas não é aqui, é na música”.
Mon, 14 Nov 2022 - 1h 36min - 125 - Ondjaki
O nosso convidado de hoje define-se como prosador, às vezes poeta. Conhecemo-lo há muitos anos pelo nome de Ondjaki, que significa “aquele que enfrenta desafios” ou “guerreiro” na língua umbundo, mas o nome que lhe deram à nascença é Ndalu de Almeida. Nasceu em Angola, Luanda, em 1977, numa família de contadores de histórias. É licenciado em Sociologia e doutorado em Estudos Africanos, membro da União dos Escritores Angolanos, e publicou o primeiro livro "Actu Sanguineu" aos 23 anos. A sua obra mereceu várias distinções em diversos países, o Prémio Saramago ou o Prémio de Conto da APE são 2 exemplos. Diz que a escrita é a sua casa e que sai para outros ambientes, como as artes plásticas ou o cinema, como quem faz excursões ou incursões para voltar sempre aos livros. Escreve romance, conto e poesia, e quando, um dia, numa livraria, lhe fizeram notar essa diferença respondeu que é a mesma coisa, e passo a citá-lo: ainda estou a contar histórias quando estou a escrever poesia, estou sempre a contar histórias, mesmo em silêncio.” Escreve porque gosta de partilhar, aprender e espalhar histórias, e também porque acredita que a escrita pode ser um acto de alguma intervenção social útil. Acaba de lançar um livro de contos que é também uma curta-metragem que escreveu e realizou. Filme e livro chamam-se "Vou mudar a cozinha", e a curta-metragem foi apresentada no festival de cinema internacional de Roterdão.
Mon, 31 Oct 2022 - 1h 44min - 124 - Mário Laginha
Mário Laginha nasceu em Lisboa, em 1960. Pianista, compositor, curioso praticante de vários ambientes musicais onde o jazz ocupa um lugar de destaque mas onde cabe também a música clássica, o cinema e o teatro, recebeu um piano de presente quando tinha apenas 5 anos, mas foi mais tarde, por volta dos 18 anos, que decidiu dedicar-se a sério ao estudo do instrumento. Aconteceu-lhe uma espécie de epifania quando viu, numa televisão ainda a preto e branco, um concerto a solo de Keith Jarrett. Disse numa entrevista a propósito desse encontro que nunca tinha ouvido tocar piano assim, não sabia que música era aquela, que tinha ficado absolutamente fascinado. No dia a seguir, começou a estudar piano a sério, 8 ou 9 horas por dia. Interrompia o estudo apenas para almoçar e jantar, e era o pai que tinha de lhe dizer para parar de estudar quando, às 10 da noite, batia 3 vezes na parede do quarto ao lado como quem diz “já chega, são horas de dormir”. Da sua longa carreira destacam-se as prolíficas colaborações com Maria João, Bernardo Sassetti e Pedro Burmester, mas também o Trio Mário Laginha, com o contrabaixista Bernardo Moreira e o baterista Alexandre Frazão, ou o Novo Trio, com Bernardo Moreira e a guitarra portuguesa de Miguel Amaral, além do Quinteto de Jazz de Lisboa, o Sexteto de Jazz de Lisboa, e até um Decateto na Gulbenkian…entre muitos outros projectos com músicos nacionais e estrangeiros. Adepto da diversidade, experimentou por várias vezes musicar poesia, e tem explorado noutras ocasiões a relação entre a literatura e a música. Um dos exemplos é o álbum "Jangada", inspirado no livro “Jangada de Pedra” de José Saramago, onde consta o tema Desquiet inspirado no Livro do Desassossego.
Mon, 17 Oct 2022 - 1h 52min - 123 - Inês Lourenço
Inês Lourenço nasceu em casa, na freguesia portuense de Santo Ildefonso, Porto, em 1942. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas pela Universidade do Porto, curso que só terminou depois de casar e de ter sido mãe, referiu em entrevistas anteriores que gosta de escrever desde criança – já na escola primária se destacava quando se recitavam poemas ou faziam composições –, mas que não tinha necessariamente o sonho de ser escritora. Tinha, sim, e são estas palavras suas, uma coisa “quase biológica”, uma necessidade de escrever que se mantém até hoje. Numa entrevista realizada há poucos anos contou-me que se não escrever se sente mal porque a sua emocionalidade precisa de escape. Na infância, começou por decorar poemas, por exemplo de Antero de Quental ou de Bocage (era prática comum do ensino de português incentivar as crianças a decorar poesia), para depois arriscar escrever numa máquina Underwood oferecida pelo pai. Já na adolescência escreveu para jornais estudantis, mas só publicou o primeiro livro aos 35 anos. Entre poesia e microficções, é autora de quase 20 títulos. Foi responsável pela revista Hífen, uma publicação na qual colaboraram nomes incontornáveis da poesia portuguesa do Século XX. Ao longo das suas 13 edições, a revista Hífen publicou cerca de 160 poetas. Acredita que “a poesia tem de sabotar o lugar comum”.
Mon, 03 Oct 2022 - 1h 41min - 122 - Salvador Sobral
Salvador Sobral nasceu em Lisboa, a 28 de Dezembro de 1989. Inscreveu-se no curso de Psicologia porque gosta de pessoas e queria tentar percebê-las. A motivação para a música está perto desta: tocar os outros. De resto, música e psicologia acabaram por se cruzar quando, no terceiro ano do curso e a fazer Erasmus em Maiorca, apresentou um trabalho sobre uma canção de Bob Dylan – Blowing in the wind – para a cadeira de psicologia da arte. Foi esse cruzamento que o fez passar na cadeira. Ainda em Maiorca, acumulava as aulas de psicologia com os concertos ao vivo em bares e restaurantes, e foi aí que veio a conhecer um dos seus cúmplices musicais até aos dias de hoje: Leonardo Aldrey, músico e produtor venezuelano. Algures por esta altura, abandona a ideia de ser psicólogo e dedica-se exclusivamente à música. Como todos sabemos tão bem, venceu o Festival da Canção e depois o da Eurovisão em 2017, mas antes de chegar a este reconhecimento e fama repentinos, lançou um disco chamado “Excuse Me” e, ainda antes, participou em concursos de talentos musicais de televisão. Além de Maiorca em Erasmus, viveu nos Estados Unidos e em Barcelona, onde estudou Jazz durante 2 anos. Confessa-se um BEN, sigla usada para designar beto em negação, e uma pessoa, sem filtros e romântica. Por falar em romantismo, casou em 2018 com Jenna Thiam, uma actriz belga e a única mulher para quem não teve de cantar durante a fase da sedução, anterior ao namoro. Disse numa entrevista, e passo a citar: “sou casado, não sei se ela é minha mulher, ela é minha namorada”.
Mon, 19 Sep 2022 - 1h 34min - 121 - Fernando Cabral Martins
Fernando Cabral Martins nasceu em Mangualde a 4 de Fevereiro de 1950. Ficcionista, ensaísta e crítico, é doutorado em Literatura Portuguesa com uma tese sobre Mário de Sá-Carneiro. Professor na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, tem colaboração literária dispersa, quer de ensaio quer de ficção, desde 1965. Foi crítico de cinema em jornais e revistas entre 1972 e 1994, é colaborador de livros sobre cinema português, e mantém o blogue “Havemos de ir ao Cinema” onde escreve sobretudo sobre cinema, mas não só. Entre os autores que estudou e trabalhou encontram-se nomes muito importantes das letras portuguesas e familiares a tantos de nós: Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros, Alexandre O´Neill, Cesário Verde, Luísa Neto Jorge, Mário Cesariny, entre outros.
Mon, 05 Sep 2022 - 1h 59min - 120 - Fernando Ribeiro
Fernando Ribeiro nasceu em 1974, na Brandoa, bairro da Amadora, cenário que viria a servir de cenário para um romance publicado no ano passado chamado "Bairro sem Saída". Estudou filosofia e, se não tivesse feito carreira na música, gostaria de ter sido professor de filosofia do ensino secundário. Leitor precoce, direciona o gosto da escrita para as letras das canções dos Moonspell, banda que completa 30 anos este ano, mas também para os livros que vai publicando, onde se inclui a poesia e os contos, além da prosa. Em 1989, com 15 anos, formou os Morbid God, banda que mais tarde, em 1992, mudaria o nome para Moonspell, apontada como uma das mais internacionais bandas portuguesas e conhecida em todo o mundo na área alternativa e do metal, com milhares de discos vendidos. É conhecido como metaleiro-filósofo, por causa da ligação forte à filosofia e, de facto, encontra relações entre os dois universos: "há muitas relações, por exemplo, com a literatura. Houve sempre uma relação óbvia com autores como [Charles] Baudelaire e [Samuel Taylor] Coleridge – há mesmo aquele épico dos Iron Maiden, "The Rime of the Ancient Mariner". Há bandas que trabalharam William Blake, nós trabalhámos Marquês de Sade, Mário Cesariny e Fernando Pessoa. O impacto do homem que luta contra o seu destino é um tema muito caro ao "heavy metal", pelo menos àquele de que eu gosto." Não é por acaso que cita poetas quando fala da música. Além de uma declarada relação com a história - e especificamente a história de Portugal que encontramos, por exemplo, no álbum 1755 -, os Moonspell trabalham as palavras dos poetas É disso exemplo a canção Opium, inspirada em Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa, mas há muitos outros exemplos onde constam nomes como Mário Cesariny, José Luís Peixoto ou Miguel Torga. Vive em Alcobaça, com Sónia Tavares, vocalista dos The Gift, de quem tem um filho chamado Fausto.
Mon, 25 Jul 2022 - 1h 50min - 119 - Daniel Sampaio
Daniel Sampaio nasceu em Lisboa a 8 de setembro de 1946. Viveu em Sintra até aos 15 anos, numa casa que lhe permitia essa liberdade de brincar todos os dias no jardim. Foi educado segundo um princípio do pai, Arnaldo Sampaio, conhecido médico da região: liberdade e responsabilidade. O mesmo pai que foi Director Geral de Saúde, que concebeu o Plano Nacional de Vacinação, e que contribuiu para a criação dos Centros de Saúde. Aos 16 anos, a família, que também integrava a mãe Fernanda Bensaúde Branco e o irmão Jorge Sampaio (que viria a ser Presidente da República), muda-se para Campolide, em Lisboa. Por essa altura, e já no Liceu Pedro Nunes, o nosso convidado, que era existencialista e lia em francês Sartre e Camus, teve de escolher que área queria estudar. Ponderou Letras. Foi a filosofia que o levou à psiquiatria. A longa carreira na saúde mental teve início em 1964, quando fez 18 anos, e foi estudar Medicina para o Hospital de Santa Maria, onde viria a formar-se pela Universidade de Lisboa em 1970. O doutoramento na especialidade de psiquiatria veio em 1986. Publicou dezenas de livros, sobretudo sobre a adolescência e os seus problemas. E recebeu duas condecorações, dos Presidentes da República Aníbal cavaco Silva e Marcelo Rebelo de Sousa. Já este ano, integrou a Comissão para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja Católica Portuguesa. Casado com Maria José Cabeçadas Ataíde Ferreira desde 1970, tem 3 filhos e 7 netos. Disse numa entrevista que ter construído uma família coesa com 3 gerações é a sua maior conquista. Gosta de gatos - teve um gato chamado Jimmy, que o acompanhou desde bebé até aos seus 18 anos –, de ouvir música (o compositor favorito é Mozart), de ver futebol, e de ler. O maior medo de Daniel Sampaio é o medo da morte, e disse numa outra entrevista que gostaria de morrer a dormir. A pessoa que mais admira é Barack Obama, na ficção é D. Quixote. Quando lhe perguntaram se sabia um verso de cor citou Camões e o poema que começa com o verso "Sete anos de pastor Jacob servia Labão pai de Raquel serrana bela".
Mon, 11 Jul 2022 - 55min - 118 - Catarina Furtado
Catarina Furtado nasceu em Lisboa a 25 de Agosto de 1972. Cresceu em Campo de Ourique e no Bairro Alto. Destes dois lugares iniciais para a sua formação, recorda simultaneamente o gelado de banana e leite comprado no Jardim da Parada com uma moedinha dada pelos pais para o efeito, e a solidão dos mais velhos nesse mesmo jardim. Também as corridas de caricas ou os jogos de futebol improvisados nas ruas do Bairro Alto, as mesmas ruas onde viu, sem compreender, as prostitutas serem levadas e até agredidas pela polícia. Hoje já não vive em nenhum destes bairros mas mantém uma ideia que revelou numa entrevista, e que muito nos diz sobre a sua personalidade: "a minha rua tem de ser sempre uma rua que dá para outras ruas. Tal como o meu mundo não tem fronteiras." Filha de pai jornalista e de mãe professora de ensino especial - a mãe Helena, que a educou, conta "a não desistir de ninguém" –, tinha 9 anos quando pediu para fazer voluntariado, e terá nascido aí uma das sementes para se tornar uma mulher e cidadã activa no combate à discriminação, ao preconceito, e à falta de empatia para com a diferença. Esta dedicação ao outro nasce, então, ainda na infância, e mantém-se até aos dias de hoje, numa atitude perante a vida que ganhou corpo e forma não apenas como Embaixadora da Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a População, mas também, e de forma consolidada, através da "Corações com Coroa", a sua Associação nascida há 10 anos onde o objetivo, sempre incompleto e sempre necessário, é o de apoiar, informar e capacitar raparigas e mulheres, promover a igualdade de género e os direitos humanos. Para termos uma noção da importância deste trabalho, ao longo dos 10 anos de actividade, a "Corações com Coroa" atendeu mais de 5 mil mulheres, ajudou directamente mais de 500, e deu bolsas a 34. Apresentadora de televisão, atriz de cinema e de teatro, letrista, a par dos programas de entretenimento como apresentadora, é coautora de um programa de televisão onde, uma vez mais, dá voz aos que mais precisam de ajuda. Chama-se "Príncipes do Nada" e promove a cidadania e os direitos humanos.
Mon, 27 Jun 2022 - 1h 46min - 117 - Richard Zenith (Pessoa - Uma Biografia)
Richard Zenith nasceu em Washington, Estados Unidos da América, em Fevereiro de 1956. Licenciou-se em Letras na Universidade da Virgínia, e viveu em vários países antes de se radicar em Portugal, em 1987. Veio para traduzir as cantigas de amigo, amor, escárnio e maldizer portuguesas, mas acabou por entrar no universo pessoano e deixar-se ficar. É escritor, tradutor, investigador, e um dos mais destacados especialistas em Fernando Pessoa, em Portugal e no mundo. Organizador do “Livro do Desassossego” e de muitas outras obras de Pessoa, foi um dos comissários da exposição “Fernando Pessoa: Plural como o Universo”, que percorreu as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Lisboa. Traduziu Fernando Pessoa para inglês, assim como outros autores portugueses como Luís de Camões, Sophia de Mello Breyner Andresen, Antero de Quental ou Carlos Drummond de Andrade. Também traduziu para inglês autores contemporâneos. Tem cidadania portuguesa desde 2007, e em 2012 foi galardoado com o Prémio Pessoa. Foi inicialmente em língua inglesa que Zenith escreveu a impressionante biografia que acaba de ser publicada em português “Pessoa, Uma Biografia”. Um trabalho de mais de mil páginas e de mais de 12 anos de investigação, onde ficamos a conhecer como ainda não tinha sido possível o poeta para quem, nas palavras de Zenith “a vida essencial teve lugar na imaginação” e que “transportava o exílio consigo próprio”. Fernando Pessoa nasceu a 13 de junho de 1888, o que significa que faria hoje, 13 de junho de 2022, 134 anos. É então uma celebração da sua vida o que nos propomos fazer com o seu segundo biógrafo em edições portuguesas (o primeiro foi João Gaspar Simões, em 1950). Pedimos a Richard Zenith para nos ajudar com textos e poemas que ajudem a contar a vida deste homem que foi muitos e que nos exortou, de certa maneira, a fazer o mesmo quando escreveu “sê plural como o universo”.
Mon, 13 Jun 2022 - 2h 01min - 116 - Nara Vidal - "EVA"
Nara Vidal é escritora, tradutora, professora e editora brasileira, de Minas Gerais. É formada em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, e tem um mestrado em artes e herança cultural pela London Met University. Foi vencedora do Prémio Oceanos com o romance “Sorte”, e finalista do Prémio Jabuti com o livro de contos "Mapas para Desaparecer”. É colaboradora de várias publicações. Vive há duas décadas em Inglaterra, para onde se mudou por causa do enorme fraquinho que tem por William Shakespeare. Acaba de lançar o livro "EVA", pela editora Todavia, também disponível em Portugal. A EVA, personagem feminina deste livro, já chega ao mundo carregada de violência, culpa e abandono. Esta é uma história de violência sobre as mulheres nas suas mais variadas formas, que tem como epígrafe um poema de André Tecedeiro, poeta português contemporâneo. Créditos da fotografia da autora: Bruna Casotti
Mon, 06 Jun 2022 - 25min - 115 - Pedro Mexia
Pedro Mexia nasceu em Lisboa, em 1972. Conhecemo-lo devido aos muitos ofícios vem ocupando no espaço público ao longo dos últimos anos, mas gosta de dizer que é, antes de mais, um leitor. E um leitor que se formou, em grande parte, na livraria Buchholz da Duque de Palmela, em Lisboa, a primeira e única livraria com quem teve uma relação afectiva, e onde passou tardes inteiras no início da idade adulta, a construir uma biblioteca, ao mesmo tempo que estudava direito na Universidade Católica, profissão que não chegou a exercer. Começou a escrever nas páginas do extinto DN Jovem. Passou pelo Diário de Notícias e pelo Público, foi subdirector e director interino da Cinemateca. Hoje é assessor para a área da cultura do presidente Marcelo Rebelo de Sousa, mantém uma colaboração regular com o Expresso, onde também assina com Inês Meneses o programa PBX. Na SIC, é um dos comentadores daquele programa cujo nome não se pode nomear. Ao longo dos tempos, acumulou registos e palcos diferentes: da crítica ao ensaio, do diário à poesia, da blogosfera aos jornais em papel ou aos livros impressos. Se quisermos resumir, o que é difícil, podemos falar de Pedro Mexia como crítico literário, editor, tradutor, cronista, dramaturgo, argumentista, comentador ou poeta. Deixamos o epíteto de poeta para o final de propósito, porque o nosso convidado já disse em várias entrevistas que não usa a palavra poeta em causa própria, apesar de, lembramos nós, ter vários livros de poesia publicados. Com a palavra “escritor” também tem algumas reservas, tanto que, disse numa entrevista recente que deve ser o único português que não tem ideias para um romance. Numa outra entrevista, mais antiga, explicou melhor esta ideia: no fundo, tem dificuldades em criar a partir do nada. Sobre a função da poesia, também a que lê – porque anda sempre com livros de poesia por perto – diz que os poemas podem nestes tempos o que sempre puderam em tempos piores do que estes: ser uma companhia, até uma esperança. Mas não acredita muito na ideia de a poesia prestar serviço a causas.
Mon, 30 May 2022 - 2h 03min - 114 - Simone de Oliveira
Para falarmos da nossa convidada de hoje podemos começar por usar as suas palavras: "Eu chamo-me Simone e canto cantigas… os prémios, as condecorações, fico profundamente grata mas continuo a chamar-me Simone e a cantar cantigas”. De facto, basta-nos o nome próprio Simone para sabermos que estamos a falar de Simone de Oliveira. Este reconhecimento imediato deve-se a um percurso profissional de 65 anos, celebrados recentemente num último espectáculo no coliseu de Lisboa, onde cabem as cantigas, sim, mais de quatrocentas, mas também o teatro, a televisão, a rádio e o cinema. Simone de Oliveira nasceu a 11 de Fevereiro de 1938 em Lisboa e, por vontade da mãe, ter-se-ia chamado Maria de Lurdes porque este dia assinala o dia da Nossa Senhora de Lurdes. As cantigas, como gosta de lhes chamar, apareceram na sua vida como uma espécie de ponto de fuga para um problema pessoal que a afundou psicologicamente: um casamento de onde fugiu porque o marido lhe batia. Disse numa entrevista que "cantar foi a forma de ultrapassar essa fase", e que gostaria que não lhe tivesse acontecido aquilo tudo, mas que hoje recorda esses tempos como se tivesse sido outra pessoa que os viveu. Ainda bem que começou a cantar, não apenas porque saiu do lugar triste onde se encontrava, mas também porque se tornou uma das nossas grandes intérpretes, uma mulher para quem tantos poetas escreveram canções que ficarão na história da música portuguesa, como a Desfolhada, de José Carlos Ary dos Santos, com que venceu o Festival RTP da Canção em 1969, e o verso polémico “quem faz um filho fá-lo por gosto” que abanou o país em plena ditadura. Lembra-se bem desses tempos do Estado Novo e do que era ser mulher nesse contexto, tendo atitudes e posturas comummente atribuídas apenas aos homens. Também se lembra da segunda guerra mundial e das senhas de racionamento de comida. Tem ascendência belga, espanhola e são tomense, e diz que tem a impressão de haver alguma negritude no seu sangue e alma. Nunca pediu um poema aos poetas, mas o que é facto é que lhos deram. David Mourão Ferreira e Eugénio de Andrade, são apenas dois exemplos. Já vamos saber se estão entre os escolhidos para a conversa de hoje.
Mon, 16 May 2022 - 1h 24min - 113 - Tiago Bettencourt
Tiago Bettencourt nasceu em Coimbra, em 1979. Ainda pequeno, em casa dos pais, cantava Nirvana aos gritos, mas antes de decidir que seria cantor e compositor quis ser arquitecto. Estudou arquitectura até ao último ano do curso, altura em que formou uma banda. O sucesso foi tanto que lhe desviou o caminho. Por causa da música deixou também de fazer Erasmus e será talvez por isso que gosta tanto de viajar. Disse numa entrevista "sempre que tenho tempo, gosto de fazer aquelas viagens low cost e de ficar em hotéis em que pago dez euros por noite. Isso inspira-me muito". Gostaria de ter vivido fora, ainda não aconteceu. Foi, então, o vocalista dos Toranja, banda que vendeu mais de 60 mil cópias com o primeiro álbum, Esquissos, e cujo tema Carta recebeu o Globo de Ouro para Melhor Canção, em 2004. Depois de Toranja, rumou ao Canadá para gravar o primeiro álbum a solo, e vem trabalhando a canção e a composição nesse registo desde então. Apesar do sucesso e reconhecimento do público, cultiva a reserva da privacidade. Disse, aliás, numa entrevista "espero que a minha música não diga nada sobre mim, porque o importante não sou eu. (…) O importante é a música deixar de ser nossa e passar a ser das pessoas." A música de Tiago Bettencourt será, de facto, das muitas pessoas que o seguem e admiram, algumas delas talvez ainda mais próximas agora, depois de na pandemia ter recuperado um projecto antigo chamado Tiago na Toca e de ter feito regularmente directos na rede social Instagram para onde também cantou temas de outros músicos. Foi precisamente na pandemia que confirmou a ideia de que a cultura é fundamental, nas suas palavras, para a sanidade mental de cada um de nós e da identidade de um país. E por falar em cultura, além de música, Tiago Bettencourt gosta de exposições, de ler, também poesia. O tal projecto que recuperou em 2020 para os directos do Instagram chamado Tiago na Toca, nasce de um outro projecto antigo, de 2011, que é um disco/livro chamado Tiago na Toca e os Poetas onde, precisamente, musicou poemas de poetas portugueses. Apesar de preferir que se fale menos dele e mais do seu trabalho, vamos conseguindo conhecê-lo um bocadinho melhor através das várias entrevistas que vem dando. Ficamos a saber, por exemplo, que convidaria Tom Waits para um jantar a dois, e que é de Tom Waits uma das canções que gostaria de ter escrito: chama-se I Want You.
Mon, 02 May 2022 - 1h 43min - 112 - Reconstituição Portuguesa - Um livro que transforma um símbolo do fascismo em poemas de liberdade
Chama-se Reconstituição Portuguesa e é um livro que usa a censura do Lápis Azul sobre a Constituição fascista de 1933 para criar um manifesto de liberdade. Uma ideia de Viton Araújo e Diego Tórgo, desenvolvida por um colectivo de poetas e ilustradores a partir da técnica de blackout poetry, com edição Companhia das Letras. Participam neste exercício, que será lançado no dia em que se celebram 48 anos do 25 de Abril, Ana Moreira, André Tecedeiro, António Jorge Gonçalves, Bernardo Abreu, Caró Lago, DeBrito, DJ Huba, Eduardo Tavares, Fabian Gloeden, Filipa Pinto, Filipe Homem Fonseca, Gilson Barreto (Dela Mantra), Gisela Casimiro, João Silveira, Jorge Barrote, Jorgette Dumby, José Anjos, Li Alves, Lila Tiago, Lucerna do Moco, Luís Perdigão, Maikon Nery, Marcelo Dalbosco, Maria Giulia Pinheiro, Marina Ferraz, Marmota Vs Milky, Miguel Antunes, Nilson Muniz, Nuno Piteira, Paola D`Agostino, Rita Capucho, Rita Taborda Duarte, Sérgio Coutinho, Viton Araujo. Entrevista de Raquel Marinho.
Sat, 23 Apr 2022 - 16min - 111 - Luís Osório
Luís Osório começou no jornalismo ainda jovem adulto, pelo semanário "O Jornal", que viria a dar origem à Revista Visão, e onde conheceu de perto, por exemplo, Fernando Assis Pacheco. Já nessa altura seria tímido, característica que mantém até hoje, e que determinou a escrita como “o único caminho possível. O único caminho onde estava confortável" consigo próprio, mas a verdade é que percorreu muitos outros. Jornalista, encenador, escritor, autor de teatro, director de projectos jornalísticos na imprensa escrita e rádio, autor de programas de televisão, rádio e de um documentário, comunicador, comunicador político, contador de histórias, admirador confesso de pessoas e da liberdade, Luís Osório, nasceu a 15 de Setembro de 1951. Vamos hoje conhecê-lo melhor através das escolhas poéticas que selecionou para partilhar connosco, mas podemos todos, de há uns tempos para cá, acompanhar o que vai pensando sobre o país e o mundo através dos textos que partilha no Facebook. Uma espécie de diário em tom de crónica transversal sobre a atualidade, a que chama "Postal do Dia", mas onde também cabem outras reflexões, e até listas: estamos aqui para falar de poemas, mas se quiser saber quais são as músicas da vida de Luís Osório, ele conta, lá no Facebook. Disse em várias entrevistas que nunca foi um jornalista puro mas também admitiu numa entrevista que em algum momento pode acontecer fundar um jornal, necessariamente de esquerda. Já vamos saber se essa hipótese continua em cima da mesa e porquê. Sobre a infância, recorda aquilo que pode ser a construção de uma infância feliz, onde a sua fotografia era a única ao lado da cama do quarto do pai, facto que lhe deu, silenciosa mas firmemente, a convicção de ser a pessoa mais importante da vida de José Manuel Osório. Este pai, que foi figura pública por ter assumido a doença da Sida numa altura em que mal de falava dela, e que Luís Osório entrevistou para a televisão pública porque, e passo a citar "queria dizer ao mundo "eu sou filho deste homem”". Tem 4 filhos, 3 rapazes e uma rapariga, e diz que são eles que asseguram a sua desmultiplicação por caminhos que já não lhe pertencem. Por falar em filhos, acredita que amar é sempre para sempre.
Mon, 18 Apr 2022 - 1h 41min - 110 - Maria José Morgado
Maria José Morgado nasceu em Angola, em 1951. Veio para Portugal aos 6 anos, para Trás-os-Montes e, logo nessa primeira infância, deu de frente com uma pobreza generalizada em que, por exemplo, as crianças iam para a escola descalças em pleno inverno. Acredita que estará aí a origem da sua militância político-partidária futura - uma motivação grande para acabar com a pobreza. Estudou direito, na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, onde conheceu José Luís Saldanha Sanches, com quem viria a casar. Lutaram juntos contra o regime de Salazar, e foram juntos militantes do MRPP. Esteve presa, foi torturada com um cavalo-marinho e submetida à tortura do sono - 7 noites sem dormir -, mas nunca cedeu a denunciar nomes ou a organização. Durante o período que passou na cadeia morreu a tia e madrinha Laura, uma das figuras centrais da sua vida. Haveria de dar esse mesmo nome à filha. Acabou por desencantar-se com a política e concorrer para o Ministério Público. Entrou com a melhor classificação. São conhecidos os méritos na sua carreira pública de luta contra a corrupção. De resto, recentemente foi duplamente reconhecida pelo Prémio Tágides nas categorias "Iniciativa Política" e "Investigação", pelo seu papel ativo no combate contra a corrupção. Dedicou estas distinções à sociedade civil anónima, sofredora, combativa" que quer "lutar pela igualdade com critérios de ética e transparência". Esta preocupação social acompanha Maria José Morgado desde cedo, e não parece ter vindo a desvanecer-se com o tempo. Pelo contrário. Neste momento está jubilada das funções no Ministério Público, mas, recentemente, afirmou numa entrevista que “a luta contra a corrupção é um pilar de um estado de direito”.
Mon, 04 Apr 2022 - 1h 18min - 109 - Correntes D`Escritas
A 23ª edição das Correntes D`Escritas, Festival Literário na Póvoa de Varzim, decorreu este ano entre os dias 22 e 26 de Fevereiro. Ao longo dos 5 dias, passaram pelos vários espaços do Festival mais de 60 oradores. As 9 mesas de debate tiveram como ponto de partida títulos de músicas, e passaram por lá, como costuma acontecer, autores nacionais e estrangeiros. Além dos temas em debate, houve também lugar a 30 lançamentos de livros inéditos, 4 exposições, assim como sessões com os autores nas freguesias, em espaços culturais e escolas. O Poema Ensina a Cair esteve na Póvoa de Varzim durante uma parte do Festival Literário, e conversou com autores e editores. A poesia foi o ponto de partida mas as entrevistas, por vezes, seguiram outros trilhos. Isaque Ferreira, Afonso Cruz, Yara Nakahanda Monteiro, Manuel Vilas, José Luís Peixoto, Manuel Halpern, Inês Lourenço, António Amaral Tavares, Filipa Leal, Elena Medel e Luís Carmelo. Autoria de Raquel Marinho. Música de João Paulo Esteves da Silva.
Mon, 21 Mar 2022 - 1h 33min - 108 - Joel Neto
Joel Neto nasceu na ilha Terceira, nos Açores, e mudou-se para Lisboa aos 18 anos, para estudar Relações Internacionais no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. Foi jornalista, repórter, editor, e chefe de redacção em vários jornais e revistas, mas em 2012 regressou à ilha natal, ao lugar de Dois Caminhos na freguesia de Terra Chã, para se dedicar à literatura. A ideia era ficar 4 ou 5 anos, mas não saiu mais. Se olharmos para os livros publicados desde então assim como o reconhecimento que a crítica lhes vem dando, podemos dizer que a aposta foi bem-sucedida. Esta propensão para a escrita materializou-se, então, nos livros publicados, mas já o acompanha desde cedo. Quando chegou ao jornal Record, com apenas 21 anos, levou para a mesa de trabalho da redacção o dicionário de sinónimos, gesto que levou o editor do jornal a comentar “lá me saiu mais um príncipe da escrita”. Príncipe da Escrita, explicou Joel Neto numa crónica publicada no Diário de Notícias "era como alguns jornalistas da velha guarda chamavam, não aos tipos que sabiam escrever, mas aos que tinham a mania que sabiam escrever. Ali ninguém sabia escrever: quando muito, tinha a mania.” Diz que um escritor é um solitário e, talvez por isso, tenha encontrado o abrigo certo para a escrita no lugar da Ilha Terceira onde escolheu viver. Há a natureza, ali no jardim de casa e em tantos outros caminhos da Ilha, os animais do campo e os domésticos (Joel Neto tem 2 cães), os vizinhos “de modos simples e vocação filosófica”, a expressão é sua, e ainda, outra expressão sua: a “rotina dos silêncios”.
Mon, 14 Mar 2022 - 1h 49min - 107 - Leituras: Raymond CarverThu, 10 Mar 2022 - 03min
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