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RFI Brasil

Entrevistas diárias com pessoas de todas as áreas. Artistas, cientistas, professores, economistas, analistas ou personalidades políticas que vivem na França ou estão de passagem por aqui, são convidadas para falar sobre seus projetos e realizações. A conversa é filmada e o vídeo pode ser visto no nosso site.

369 - Pesquisadora defende capoeira como instrumento de inclusão para crianças de abrigos na França
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  • 369 - Pesquisadora defende capoeira como instrumento de inclusão para crianças de abrigos na França

    Patrícia Pereira dos Santos é formada em Educação Física com especialização em Psicologia Social. Sua tese de doutorado, que ela acaba de defender na Universidade de Rennes, no noroeste francês, se debruça sobre os instrumentos que a capoeira de Angola oferece para ressocializar e interagir com crianças e jovens de abrigos na França. 

    "Fiz um mestrado no Brasil e, após concluir, criei minha própria associação, a Capoeira Angola BREIZH Îlienne", conta Patrícia Santos. Desde então, tenho trabalhado com a capoeira de Angola em diversos setores educacionais na França, incluindo escolas, abrigos e até com pessoas com deficiência. "Decidi continuar minha trajetória acadêmica e me inscrevi em um doutorado em um tema relacionado na Universidade de Rennes", conta.

    Em paralelo, a educadora iniciou um projeto de parceria entre a universidade e uma instituição de acolhimento para crianças e adolescentes da cidade onde mora, Pornic, município costeiro no noroeste da França. "O objetivo é desenvolver um trabalho com a Capoeira de Angola dentro dessa instituição", afirma Santos.

    "Atualmente, concluí uma especialização em psicologia social, que será a base teórica da minha tese. Para isso, pretendo utilizar o modelo de Kurt Lewin, que aborda a dinâmica de grupo e a mudança de comportamento das pessoas. A ideia é explorar como mudanças podem ser facilitadas de forma mais lúdica e positiva quando aplicadas a um grupo, em vez de focar no indivíduo isoladamente", explica a pesquisadora.

    "Minha proposta é levar a capoeira de Angola para dentro dessa instituição, validando-a como uma ferramenta educacional e socioemocional", explica. "A intenção é demonstrar como a capoeira pode atuar de forma benéfica no desenvolvimento comportamental das crianças e adolescentes participantes, promovendo um impacto positivo em suas vidas", sublinha Santos. 

    Capoeira como inclusão

    A capoeira, de forma geral, é uma poderosa ferramenta de inclusão social, segundo a educadora e capoeirista brasileira. "Um breve contexto histórico já revela seu potencial para promover a socialização, seja por meio do movimento corporal, das técnicas morais, ou da musicalidade. Na capoeira, temos diversos instrumentos a serem aprendidos, e quando uma pessoa começa a tocar e ouvir esses instrumentos, ela também precisa desenvolver a habilidade de escutar o outro. Isso implica em aprender a silenciar para ouvir, o que é um grande desafio, especialmente para crianças e adolescentes que vivem em abrigos", afirma.

    Essas crianças geralmente apresentam comportamentos antissociais e têm uma intensidade emocional muito elevada. A capoeira Angola, nesse contexto, atua como uma ferramenta educacional que, por meio dos seus movimentos, da sua história, da sua cultura e, principalmente, da sua musicalidade, ajuda a transformar esses comportamentos. Ela promove a escuta, o respeito e o autocontrole, incentivando também a prática de olhar para si mesmo e para o outro com empatia. Com o tempo, isso nos permite trabalhar profundamente o desenvolvimento da empatia e de outras competências socioemocionais essenciais para a convivência social.

    Retorno "gratificante" e desafios

    "A pesquisa de campo relacionada à minha tese durou oficialmente um ano e meio", conta Santos. "No entanto, continuamos o trabalho com essas crianças, já que sou presidente da associação de capoeira, e seguimos com o projeto por mais dois a três anos. Muitos dos jovens atendidos se inscreveram na associação para continuar praticando capoeira, mesmo após saírem do abrigo. Hoje, muitos deles são adultos, têm suas próprias casas e suas próprias vidas. Ainda mantenho contato com alguns deles, especialmente com aqueles que, na época, tinham entre sete e oito anos, e hoje têm cerca de 15 anos", explica.

    "O feedback que recebo é muito gratificante. Mesmo aqueles que não seguiram praticando capoeira afirmam que a experiência mudou suas vidas. Eles mencionam que aprenderam a se expressar melhor, a dialogar com mais alegria e descobriram que há diversas maneiras de enfrentar desafios", destaca Patrícia Pereira dos Santos.

    "Por exemplo, se alguém não era tão bom em fazer certos movimentos, podia encontrar sua habilidade em tocar um instrumento como o berimbau. Assim, eles perceberam que não precisam se sentir inferiores por não serem excelentes em uma área, pois sempre há outras formas de se destacar", afirma Santos.

    "O objetivo do nosso trabalho nunca foi transformá-los em capoeiristas, mas sim mostrar que, assim como na capoeira, onde há várias saídas e alternativas para o jogo, para aprender instrumentos e canções diferentes, a vida também oferece múltiplos caminhos", detalha. "Se algo não dá certo em um momento, sempre há outra forma ou direção que pode funcionar. Esse ensinamento foi essencial para muitos deles, ajudando-os a encontrar novas perspectivas e soluções na vida cotidiana", conclui a pesquisadora brasileira.

    Wed, 20 Nov 2024
  • 368 - Jornalista brasileira tenta desconstruir clichês sobre franceses no livro “Entrelinhas de Paris”

    “Entrelinhas de Paris” é o título do livro que a jornalista brasileira Luciana Marques acaba de lançar, em português, pela editora Ases. A obra de minicrônicas é uma mistura de guia de viagem, manual de francês e da cultura francesa, descrição de hábitos parisienses e as impressões de uma brasileira sobre isso tudo.

    Luciana Marques morou em Paris durante seis meses para um intercâmbio na Universidade Sorbonne Nouvelle. Na época, começou a anotar no bloco de notas do telefone celular, principalmente durante os trajetos no metrô, suas impressões sobre a cidade e os parisienses. “Depois, eu fui vendo que aquilo realmente tinha um conteúdo que poderia virar um livro futuramente”, conta.

    Antes de virar livro, a jornalista apresentou as anotações e informações sobre o que viu e ouviu “de curioso, de choque cultural também” como projeto final do curso de Línguas Estrangeiras Aplicadas ao Multilinguismo e à Sociedade de Informação da Universidade de Brasília. Depois, atualizou e organizou essa visão de “uma brasileira olhando a cidade” no livro “Entrelinhas Paris: microcrônicas desconstruídas e descontraídas da capital francesa”, lançado em outubro.

    A obra tem sete capítulos, com títulos bilingues francês-português, que podem ser lidos independentemente e fora da ordem. O título é bem bolado, com múltiplos sentidos. “É entrelinhas porque eu escrevi entre uma linha e outra do metrô e também entre uma linha e outra desse livro que é um formato um pouco diferenciado” diz.

    Ela explica que as frases que compõe o texto foram escritas “como se fossem tuítes, mas são encadeadas. Então, você lê o livro corrido, mas cada frase é uma minicrônica”, detalha afirmando que “Entrelinhas” é uma obra “bem debochada, bem irônica”. As ilustrações do livro, assinadas por Jane Carmen Oliveira, reforçam essa ironia.

    Paris romântica e franceses mal-humorados

    Paris seria a capital do romantismo, do luxo, da culinária, e os e as parisienses seriam chiques, mas mal-humorados. Esses são apenas alguns dos clichês associados à capital da França que Luciana Marques tenta desconstruir no livro para mostrar e “entender essa riqueza da cultura, que realmente vai além do que a gente vê no dia a dia”.

    O texto é repleto de anedotas que confirmam estereótipos, mas revelam outras facetas dos parisienses. Ela lembra que uma vez chegou a uma loja que estava fechando e o vendedor se recusou a atendê-la, porque não podia perder tempo para ir ler um livro na pracinha. “Isso no Brasil seria muito difícil de a gente encontrar, uma pessoa que prefere não vender para aproveitar a vida. A gente aprende muito com esse espírito francês, também de bon vivant, do ‘bobô’ (burguês-boêmio) parisiense”, acredita.

    O gênero de “Entrelinhas” é difícil de definir. O livro é uma mistura de manual de língua e de cultura, um guia de viagem e um relato de viagem. “Eu defini como minicrônicas exatamente pelo fato de ter essa linguagem do dia a dia, do cotidiano”, indica.

    Tue, 19 Nov 2024
  • 367 - Sonia Rubinsky conquista franceses com novo álbum 'Goldfingers', homenagem à 'era de ouro' do piano

    Ela é conhecida mundialmente como "Madame Villa-Lobos", mas acabou de ganhar na França, com o lançamento do seu novo CD, "Goldfingers", uma epígrafe ainda mais impressionante: "la grande dame du piano", a "grande dama do piano". Um grande elogio quando se trata de uma pianista brasileira radicada na França, Sonia Rubinsky. Ela conversou com a RFI sobre seu novo álbum, "Goldfingers", que acaba de lançar no país, e já disponível em streaming para amantes do piano de todo o mundo.

    Para ver a entrevista na íntegra, clique na foto principal da matéria

    "Goldfingers", considerado pelo jornal francês Libération como uma "grande aula de piano", remete a uma era de ouro do instrumento. "Eu tive essa inspiração de chamar o CD de "Goldfingers". E confesso que brinquei um pouco com as palavras por causa da referência ao título homônimo do cinema [uma referência a "Goldfinger", série do agente 007 estrelado em 1964 por Sean Connery]. Mas, no fundo, é uma reverência aos grandes nomes da história do piano que tocaram profundamente o meu coração quando eu era uma jovem pianista, fazendo meu coração bater mais forte e que continuam me inspirando até hoje", explica a pianista brasileira Sonia Rubinsky, radicada na França.

    "Esses nomes como Horowitz, Rubinstein, que eu tive a honra de ouvir ao vivo, ou por gravações, tinham algo de especial. Eles conseguiam criar uma magia com as notas que ia além da música em si, sempre com muita elegância, estilo e um grande virtuosismo", analisa.

    Além de um álbum que celebra grandes intérpretes, "Goldfingers" também convoca grandes compositores. "Exatamente", concorda Rubinsky. "Naquela época, muitos dos grandes pianistas também eram grandes compositores. O maior exemplo, que todos conhecem, é Rachmaninoff, que não só era um compositor genial, mas também um pianista absolutamente magnífico", lembra.

    "Magia"

    "Hoje em dia, essa tradição de ser um pianista-compositor, ou até mesmo um pianista que improvisa, se perdeu um pouco. Nos tornamos mais compartimentalizados. Mas isso não significa que precisamos perder essa vontade de criar magia quando estamos diante do público", analisa a intérprete.

    Sobre sua relação com a França, a pianista afirma que gravou "[Georges] Bizet, incluindo as 'Variações de Carmen', que é uma transcrição de Horowitz sobre os temas da ópera homônima". Ela admite que o repertório francês influenciou seu trabalho e sua relação com a música, no trânsito entre o Brasil e a França. "Sem dúvida. Existem certos compositores que são essenciais para ampliar sua paleta de cores e emoções ao piano. É impossível, por exemplo, não passar por Debussy. Ele trouxe uma estética extremamente rica, sofisticada e que trata a música como uma matéria viva, o que ressoa muito comigo, especialmente quando penso na arte da interpretação", afirma.

    Sobre o apreço da pianista brasileira pela música contemporânea para piano, como foco no francês Olivier Messiaen, mas também em compositores brasileiros, como José Antônio Rezende de Almeida Prado, Rubinsky diz que "Almeida Prado, que também estudou aqui na França com Nadia Boulanger e Olivier Messiaen, conseguiu desenvolver uma linguagem muito pessoal e eclética".

    Almeida Prado e o "pianismo brasileiro"

    "Quando você ouve uma obra de Almeida Prado, sua autoria é inconfundível. E são poucos os compositores modernos que têm essa qualidade única. Villa-Lobos também tem essa marca registrada, mesmo com a enorme diversidade de estilos que ele abordou. Há um lirismo profundo tanto em Almeida Prado quanto em Villa-Lobos, que é algo que eu valorizo muito.

    Sonia Rubinsky concorda que não seria exagero dizer que o Brasil tem uma tradição de excelentes pianistas e intérpretes. "Podemos afirmar isso com certeza. Houve um período, há uns 30, 40 ou 50 anos, em que se falava muito em 'pianismo brasileiro'. Isso começou com a formação de uma escola de piano que teve como alunas figuras notáveis como Guiomar Novaes e Magdalena Tagliaferro. Essa tradição de pianismo brasileiro é muito rica e tem influenciado gerações de pianistas até hoje", conclui Rubinsky.

    Fri, 15 Nov 2024
  • 366 - Cantora de jazz francesa Manu Le Prince lança CD em homenagem a Johnny Alf, pioneiro da bossa nova

    Depois de um tributo ao genial saxofonista americano Wayne Shorter, Manu Le Prince decidiu reeditar um CD em homenagem ao músico brasileiro Johnny Alf, um dos pioneiros da bossa nova. No próximo domingo (17), a embaixadora do jazz latino na França faz um show na Casa Som de la Terre, em Paris, para lançar "Bossa Jazz Forever-Love to Johnny Alf".

    "Bossa Jazz Forever-Love to Johnny Alf", gravado integralmente no Rio de Janeiro, foi lançado inicialmente em 2013, três anos depois da morte do músico, cantor e pianista brasileiro. O CD é reeditado onze anos depois pela “Frémeaux & Associés”, que é a gravadora de Manu Le Prince desde o disco “Children of the Night”; um tributo a Wayne Shorter.

    “A minha gravadora gostou desse projeto e quis relançar esse trabalho, gravado totalmente no Brasil e que na época foi lançado por uma gravadora pequena. Uma coisa bem legal e eu tenho muito orgulho de poder ter feito esse disco”, conta Manu Le Prince.

    A gravação de Bossa Jazz Forever contou com a participação notável do francês Idriss Boudrioua, saxofonista e arranjador de Johnny Alf, radicado no Brasil há mais de 35 anos. “Ele ficou apaixonado pelo Brasil com eu”, compara a cantora, que descobriu a música brasileira nos anos 1980. “Me deu essa vontade de misturar o jazz com a música do Brasil. Faz muitos anos que eu estou fazendo isso”, lembra.

    “Genialf”

    O repertório de Johnny Alf é perfeito para esse projeto musical de Manu Le Prince. “Eu achei a música do Johnny maravilhosa, muito interessante, com swing, porque é uma bossa nova bem jazzística que ele escreveu e criou”, garante a cantora.

    Todas as dez faixas de Bossa Jazz Forever, interpretadas por Manu Le Prince, são de autoria de Alf, que foi um dos pioneiros da Bossa Nova e influenciou grandes nomes da MPB, como Tom Jobim. Alf não reconhecia fronteiras entre jazz, samba e bossa nova. Jobim, aliás, criou até um adjetivo “genialf” para definir a obra do pianista. “Genialf é lindo, né?”, concorda.

    Entre as músicas que compõem o CD estão grandes clássicos e sucessos como “Eu e a Brisa” e “Rapaz de Bem”. No entanto, Johnny Alf (1929-2010) morreu desconhecido do público e sem o devido reconhecimento pela sua contribuição à música brasileira. Manu Le Prince espera com a reedição de “Bossa Jaz Forever” contribuir para a promoção, na França e na Europa, da vida e da obra desse músico “talentoso que era uma pessoa muito particular, muito maravilhosa e muito diferente nesse aspecto da bossa nova”.

    O próximo show de Manu Le Prince interpretando o CD "Bossa Jazz Forever-Love to Johnny Alf" acontece em Paris, no dia 17 de novembro, no Som de la Terre. Mas a cantora de jazz já tem novas datas para a apresentação do CDno Brasil, em fevereiro e março de 2025, com shows em Penedo, Paraty e Rio de Janeiro, entre outras cidades.

    Clique na foto para ver a entrevista na íntegra.

    Thu, 14 Nov 2024
  • 365 - “Tenho esperança de que será um diálogo positivo”, diz Celso Amorim sobre futuro das relações do Brasil com Trump

    A vitória incontestável de Donald Trump nas eleições americanas vai garantir certa tranquilidade ao republicano, seu pragmatismo pode ter impacto positivo no cenário global e as relações do Brasil tendem a ser positivas. A avaliação é a do assessor especial da presidência do Brasil, Celso Amorim, na véspera de sua participação na mesa redonda ”Rumo a uma virada história? Qual o impacto das eleições americanas no mundo”, na programação da 7ª edição do Fórum da Paz, em Paris.

    Durante dois dias, a partir desta segunda-feira (11), líderes e personalidades vão se reunir no Fórum para debater em torno do tema “Na busca de uma ordem mundial que funcione”.

    A volta de Trump à Casa Branca com suas promessas de uma agenda protecionista na economia, conservadorismo nos costumes e possíveis recuos nos compromissos contra as mudanças climáticas, vão estar no foco das preocupações e análises.   

    “A própria incontestabilidade, digamos, da vitória, vai deixar o presidente Trump mais tranquilo em relação a muitos pontos. Eu acho que existe nele uma certa dose de pragmatismo, que você poderia dizer que é muito ideológica. Mas talvez, com o tempo, ele tenha chegado à conclusão de que, para que os Estados Unidos ou a América seja grande, é preciso que o mundo todo cresça”, disse Amorim.  

    Citando as boas relações do governo Lula com o republicano George W. Bush no passado, o ex-chanceler prevê um diálogo “positivo” entre Brasília e Washington também a partir de janeiro, quando Trump assume a Casa Branca. “Eu tenho a esperança de que vai ser um diálogo positivo. Em geral, nos republicanos, mas especialmente no Trump, eu vejo um certo pragmatismo que pode soar até como egoísmo à primeira vista, mas que, na prática, pode resultar num certo equilíbrio mundial”, disse Amorim em entrevista à RFI.

    Durante a campanha presidencial, Trump voltou a prometer uma nova retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris, medida adotada em seu primeiro mandato, o que gera muita preocupação nos esforços de combate às mudanças climáticas. No entanto, o assessor da presidência do governo Lula avalia que o republicano poderá rever algumas de suas posições, mas será preciso capacidade de “diálogo”.

    “As colocações prévias são mais fortes do que a realidade. Eu acho que a preservação do planeta é fundamental e o presidente Trump vai também chegar a essa conclusão, inclusive porque grande parte dos Estados Unidos também sofre com a poluição. Evidentemente, como todo mundo, você não pode isolar um país. Eu acho que com jeito e com capacidade de diálogo, claro, o precedente é preocupante, a retirada do acordo de Paris, mas vamos trabalhar, dialogar da melhor forma que for”, declarou.

    “Eu acho que pode haver descoberta do interesse mútuo, não é porque há inclusive ganhos econômicos em um mundo que seja ambientalmente mais amigável”, acrescentou.

    Relação com a Venezuela não será de “beijos e abraços”

    Na entrevista à RFI, Celso Amorim também comentou sobre as tensões com a Venezuela, mencionando a preocupação brasileira com uma “eleição justa e transparente” no país vizinho. A falta de distribuição das atas pelo Conselho Eleitoral levou o Brasil a não reconhecer o resultado formal da eleição.

    Ele espera que “o pragmatismo prevaleça sobre visões ideológicas”, reforçando que, apesar das discordâncias, o Brasil manterá relações de Estado com a Venezuela, dada sua importância estratégica na América do Sul.

    “Nós claramente queríamos que houvesse uma eleição justa e transparente. Infelizmente não houve a distribuição das atas, a revelação das atas pelo conselho eleitoral. E isso fez com que a gente não desse um reconhecimento formal à eleição. Mas o Brasil vai ter uma relação de Estado a Estado. Vamos ter uma relação, talvez que não seja de beijos e abraços, mas será de interesse mútuo. Nós temos muita preocupação com a região. Temos uma grande preocupação com a integração sul-americana. E é muito difícil você imaginar uma integração sul-americana sem a Venezuela”, destacou.

    Sobre a iniciativa do presidente da Assembleia da Venezuela, Jorge Rodríguez, que acusou Amorim de ser “mensageiro dos Estados Unidos”, e que pretende pedir ao Parlamento do país declarar o assessor especial do governo Lula persona non grata no país, ele respondeu: “Eu acho que essas coisas são feitas na emoção e são feitas, às vezes internamente, mas não vou entrar em uma análise profunda porque não acho que caiba. Mas eu sinceramente, não tomo isso pessoalmente e acho que, se não for eu, irá outra pessoa em algum momento.  Nós temos uma embaixadora lá muito boa, muito competente, e enfrentando uma situação difícil", diz, em referência à embaixadora Glivânia Maria de Oliveira.

    Para Amorim, o interesse mútuo entre os dois países acabará prevalecendo. "Eu acho que o Brasil é um país que pode ajudar a Venezuela. Eu acho que [os dois países] têm que se entender, cada um cuidando de seu interesse, normalmente, sem imposições de espécie alguma, mas também reconhecendo os fatos. Então é dessa maneira que nós queremos continuar no relacionamento”, afirmou.

    Sun, 10 Nov 2024
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